Pior mês da pandemia termina com boa notícia: segunda onda em declínio
Mas enquanto a vacina não vem para todos, é preciso continuar com os cuidados, única boia de salvação, enquanto não sabe se uma terceira onde vai se formar
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2021 às 08h00.
Última atualização em 26 de abril de 2021 às 12h35.
Na semana em que o Brasil se aproxima das 400 mil mortes por covid-19 – triste marca que deve ser atingida até a próxima sexta-feira, mais tardar no sábado –, uma boa notícia se consolida no horizonte. Pela primeira vez em 30 dias, ontem, domingo, a média móvel de mortes ficou abaixo do patamar de 2.500 óbitos diários. Se o número ainda assusta, afinal estamos com 2.495 mortes por dia, conforme o gráfico abaixo, a média atual representa uma forte desaceleração de 20% em menos de duas semanas.
A velocidade de contágio também parece perder força, o que projeta um futuro melhor nas próximas semanas. No domingo, a média móvel de novos casos registrados ficou em 56.817, o menor patamar desde 3 de março, ou a menor média em um período de 53 dias. Além disso, o número de casos cai há duas semanas. Quando o número de novas infecções recua por vários dias consecutivos, é sinal de que o número de óbitos tende a continuar diminuindo por mais duas ou três semanas.
Outro sinal positivo é a velocidade da queda. No ano passado, durante a primeira onda de covid-19, o comportamento das estatísticas foi bem diferente. O Brasil ultrapassou pela primeira vez a média de 900 mortes diárias em 23 de maio de 2020. A média oscilou entre 900 e 1.100 até 27 de agosto, cerca de três meses, quando a primeira onda enfim começou a perder força.
Nesse platô de 97 dias, foram registradas 96.636 mortes (uma média de 996 óbitos ao dia). Já a segunda onda, iniciada ainda em dezembro, foi marcada por dois períodos distintos. Entre 10 de janeiro de 22 de fevereiro, a média diária girava como na primeira onda, pouco acima das 1.000 mortes por dia. Nesse período de 43 dias, foram 44.033 vítimas.
Mas a partir daí o comportamento da pandemia mudou para pior, e o número de mortes começou a crescer de maneira exponencial, fruto do surgimento de novas variantes do vírus e da superlotação nas UTIs. Entre 22 de fevereiro e 12 de abril, um período de 49 dias, foram 107.474 mortes por covid-19 (2.193 ao dia), proporcionalmente mais do que o dobro da média registrada no pior momento da pandemia no ano passado.
A diferença agora é que, após atingir o pico de mortes, o platô foi bem mais curto. A média móvel ficou ao redor de 3.000 por dia por “apenas” 12 dias, até atingir recordes 3.124 óbitos diários em 12 de abril. Desde então, entrou em forte declínio, chegando a 2.495 mortes diária neste domingo. O número ainda é muito elevado, mas a tendência é de queda acentuada nos próximos dias.
Hoje, utilizando-se a métrica de comparar a média móvel atual com a de duas semanas atrás, apenas dois estados (Pará e Acre) estão em aceleração. A pandemia está estável em 9 estados (Roraima, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro) e em queda nas demais 14 unidades da Federação. Um quadro bem diferente do vivido há uma semana, quando a pandemia avançava em seis estados, estava estável em 15 e só recuava em cinco.
Para se comemorar com cautela
Se a análise dos números projeta melhora da pandemia nas próximas semanas, o momento atual ainda é de muito cautela. Mesmo em declínio, a atual média móvel de mortes é 2,5 vezes maior do que o pior momento da primeira onda da doença, ocorrida no país em 2020. O número diário de novos casos também é 20% superior ao registrado no pico da primeira onda.
Faltando ainda cinco dias para acabar, abril já entrou para a triste história como o mês em que mais brasileiros morreram em decorrência do coronavírus. Em 25 dias, o mês acumula 69.282 óbitos, 6,3 mil a mais do que março. A tendência é que abril passe da casa de 80 mil mortes em um único mês. Para se ter uma ideia, no início da pandemia o Brasil levou quatro meses para chegar à marca de 80 mil óbitos.
Tudo isso nos indica que, apesar da melhora recente, ainda é preciso ter muito cuidado. Apenas seis em cada cem brasileiros já tomaram as duas doses de alguma vacina. Outros 13,7% já receberam a primeira dose, o que não garante qualquer imunidade. Ou seja, a esmagadora maioria da população continua suscetível ao vírus, e por isso essa melhora nos indicadores não deve ser confundida com um liberou geral.
É preciso continuar com os cuidados, como uso de máscara e álcool gel, além, é claro, do distanciamento social. Enquanto a vacina não vem para todos, essa é a boia de salvação. Porque a segunda onda está perdendo força, mas pode ser que, como já acontece na Europa, lá em alto mar se forme uma terceira..
* Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
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