Katyana Xipaya com uma barra de chocolate da sua marca, Sidjä Wahiü (Sidjä Wahiü/Divulgação)
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Publicado em 28 de março de 2024 às 10h16.
Última atualização em 28 de março de 2024 às 10h16.
Sete anos atrás, a líder indígena Katyana Xipaya jamais imaginaria que teria uma marca de chocolate sustentável, muito menos que faria um produto único para a Páscoa brasileira.
A mudança radical na vida veio depois de um baque gigantesco: a perda do avô, líder da comunidade em Jericoá. O luto se misturou ao desespero para tentar encontrar um jeito de garantir a sobrevivência da aldeia.
Na época, Katyana tinha apenas 29 anos e viu na agricultura uma oportunidade para empreender.
Hoje, com 36, a líder indígena da Comunidade Ribeirinha de Jericoá 2, na região da Volta Grande do Xingu, no Sudoeste do Pará, comanda a Sidjä Wahiü, marca de chocolate produzida e comercializada pela Cacau Way.
Com um nome que reflete a história da criadora – “mulher guerreira” na língua Xipaya – a marca tem operação sustentável e os produtos feitos a partir de cacau da Amazônia despertam interesse global.
“O chocolate que estou produzindo é de alta qualidade e quero levar a cultura indígena, as riquezas da Amazônia e a força da Natureza para lugares que nem imagino”, diz a empreendedora.
A Sidjä Wahiü foi lançada em 2023 a partir do programa Belo Monte Empreende, promovido pela Norte Energia, concessionária da usina Belo Monte, em parceria com o Centro de Empreendedorismo da Amazônia (CEA).
“É o primeiro chocolate indígena da região, resultado da união e do esforço de muitas pessoas, sobretudo do empenho e da determinação da Katyana”, diz Thomás Sottili, gerente de Projetos de Sustentabilidade da Norte Energia.
Ele explica a origem da empresa: “inicialmente, a ideia da Katyana era trabalhar apenas com frutas desidratadas, mas buscamos parcerias com a cooperativa de produtores de cacau da Transamazônica e com a fábrica da Cacau Way, em Medicilândia (PA), para ampliar a proposta inicial”.
O chocolate de Katyana tem sabor intenso, com 72% de cacau e 15% de frutas secas, como pitaya, abacaxi e banana.
A Cacau Way comercializa a marca por meio de lojas físicas em Belém, Altamira e outras três cidades do Pará, e pontos de revenda em São Paulo e Brasília.
“As parcerias abrem portas e ajudam a aumentar a produção e distribuição. Quebramos a barreira inicial e hoje já posso ver meu chocolate sendo consumido por pessoas de todas as idades e de pontos cada vez mais distantes do país. Isso traz benefícios para a minha comunidade e valoriza a cultura indígena”, ressalta Katyana.
Segundo a Embrapa, 70% do cultivo do cacau na Amazônia é feito em áreas degradadas, a maior parte por agricultores familiares e em sistemas agroflorestais.
Combinados com cultivos de mandioca, banana, cupuaçu, açaí, e o manejo de madeira, como o cedro-cheiroso e o mogno, esses sistemas promovem a recuperação das áreas desflorestadas.
Praticado pelas comunidades indígenas, o cultivo também acelera o desenvolvimento das mesmas.
“Sou indígena, mulher e agricultora. Poder ganhar meu próprio sustento e trazer soluções para a sobrevivência da minha comunidade mudou a minha forma de viver. Podemos mostrar para outras comunidades que a vida não é só o que a sociedade impõe. O indígena quer trabalhar e se sustentar”, Katyana conclui.
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