Net-zero ou morte!
Cada vez mais grandes companhias globais aderem aos compromissos de zerar emissões, o que traz conforto — mas talvez não seja suficiente
Bússola
Publicado em 23 de dezembro de 2021 às 15h30.
Por Renato Krausz*
Ficou muito claro após o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e a conferência de Glasgow que as metas nacionais atuais para reduzir emissões de gases de efeito estufa não são suficientes para tirar o mundo da rota do cataclismo climático.
Se o planeta conseguir manter o aquecimento global em 1,5 grau centígrado até o fim do século, haverá consequências desagradáveis, mas nada que a gente não possa suportar. A gente, não. Nossos descendentes. Acima disso, os efeitos já passam a ser denominados como “catastróficos” pela ONU. No ano de 2100, minhas filhas terão 96 e 93 anos e, mesmo confiante de que serão duas senhorinhas ativas e engajadas, espero que não precisem continuar indo a protestos contra as mudanças climáticas.
O problema é que as emissões continuam subindo e as metas atuais de redução, se não forem revistas, vão nos levar a um aquecimento de 2,4 graus. Aí ferveu. Para complicar, tem país que decidiu dar pedalada climática, a exemplo do Brasil, ao rever seu inventário para tornar a meta mais factível. Não tem jeito. Pedalada é com a gente mesmo.
O setor produtivo mundial, ao menos, tem dado sinais de que a ficha caiu — convenhamos que a pressão da sociedade em geral e dos investidores em particular contribuiu bastante para isso. O número de empresas que firmam compromissos de zerar emissões líquidas até 2050 ou antes aumenta ano a ano.
Desde 2019, o PRI (Principles for Responsible Investment) elenca anualmente sete gigantes companhias globais que decidiram aderir ao “jogo”. E a relação deste ano de 2021 é emblemática pela quantidade de empresas de setores intensivos em carbono que lá estão.
Na lista apresentada nesta semana pelo especialista Marshall Geck no blog do PRI, há duas companhias de óleo e gás, a chinesa Sinopec e a sul-africana Sasol, uma siderúrgica, a japonesa Nippon Steel, uma de cimento, a australiana Boral, uma de automóveis, a General Motors, e uma de alimentos e bebidas, a Coca-Cola. A sétima é a francesa Engie, de energia. A brasileira JBS, que anunciou seu compromisso em março, bem que poderia estar no grupo.
Será um desafio e tanto. Para citar só um exemplo, uma planta da Sasol na província de Mpumalanga é a maior fonte pontual de emissões do mundo. Três dessas empresas assumiram compromisso de zerar emissões líquidas antes de 2050: a Coca-cola e a GM estão mirando em 2040, e a Engie, em 2045.
Entre as medidas anunciadas pelas companhias estão o apoio para que fornecedores reduzam as suas emissões, a migração para energias renováveis, o uso de gás natural como combustível de transição para substituir o carvão, a adoção de medidas de economia circular e o investimento em hidrogênio verde.
Ir além das metas ambientais é primordial. Excluindo os lunáticos que consideram o aquecimento global uma viagem, os otimistas — aqueles que apostam na capacidade da humanidade e seus cientistas de encontrar soluções para sairmos de nossas próprias encrencas — já estão coçando a cabeça e fazendo careta. Mas não deixa de ser um alento ver as grandes companhias se mexendo.
O que precisamos é aumentar e acelerar tudo isso. O blog do PRI cita o bilionário Tom Steyer, que virou ativista climático e costuma dizer: “Quando se trata de mudança climática, ganhar muito lentamente é o mesmo que perder”.
*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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