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Manter ou vender: o dilema dos herdeiros de empresas familiares

Falta de interesse dos sucessores e necessidade de altos investimentos podem indicar que a venda é a saída mais prudente para a família

Ao se deparar com essa situação, vender a empresa é uma forma de concretizar seu valor, garantindo que os herdeiros possam usá-lo em outros projetos de vida (Maskot/Getty Images)

Ao se deparar com essa situação, vender a empresa é uma forma de concretizar seu valor, garantindo que os herdeiros possam usá-lo em outros projetos de vida (Maskot/Getty Images)

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Publicado em 12 de dezembro de 2025 às 13h00.

Por Antonio Mazzucco*

Muitos empresários se preocupam com o futuro de suas empresas familiares. Por isso, se interessam bastante por temas como planejamento sucessório, profissionalização da gestão, conselhos de administração, conselheiros independentes, comitês, auditorias, protocolos e acordos de família e de acionistas.

Essas ferramentas são importantes para garantir a continuidade da empresa após a saída ou ausência do fundador e têm como objetivo preservar o valor do negócio ao longo de gerações.

No entanto, será que a venda é, de fato, a melhor alternativa?

Isso porque, mesmo com toda a ciência sobre sucessão e governança, manter a empresa na família pode não ser viável em muitos casos.

Isso pode ocorrer por diversos motivos, como o alto custo de implementar essas soluções ou simplesmente porque os sucessores não têm interesse em continuar à frente do negócio, nem mesmo de forma indireta. Nesses casos, a alternativa mais natural pode ser a venda.

Se os herdeiros não desejam assumir o comando nem se envolver na gestão profissionalizada, talvez seja hora de considerar transformar o valor da empresa em recursos financeiros, o que pode ser feito por meio de uma operação de M&A (Fusão e Aquisição).

Dessa forma, o negócio pode continuar prosperando nas mãos de novos proprietários, enquanto os herdeiros ficam livres para seguir outros caminhos profissionais e pessoais.

Fatores decisivos

Na hora de decidir entre continuar com a empresa ou vendê-la, duas questões são fundamentais.

A primeira é entender que todo negócio passa por ciclos de vida. Em determinados momentos, pode ser muito competitivo, mas com o tempo pode exigir mais escala, tecnologia, capital ou até um novo modelo de gestão para se manter no mercado.

Se a família quiser continuar, precisa estar preparada — com profissionais capacitados, recursos financeiros e flexibilidade para se adaptar. Caso contrário, a companhia pode acabar perdendo espaço e, eventualmente, desaparecer.

A segunda questão está relacionada aos interesses da família. É natural que, com o passar do tempo, os sucessores desenvolvam outros planos de vida e, muitas vezes, optem por carreiras que não envolvam o negócio familiar.

O problema, na verdade, não está nessas transformações, nem no ciclo da empresa, tampouco nas vontades dos herdeiros. O maior risco é o empresário não perceber essas mudanças e, por isso, não agir a tempo.

Isso pode fazer com que um negócio valioso perca valor ao longo do tempo. Ao se deparar com essa situação, vender a empresa é uma forma de concretizar seu valor, garantindo que os herdeiros possam usá-lo em outros projetos de vida.

Avaliação de sucessão e necessidade de investimento

É importante que o empresário avalie com sinceridade não apenas se os sucessores têm interesse, mas se estão realmente preparados para assumir o negócio. Em muitos casos, a melhor solução para uma nova fase é a contratação de profissionais externos e mais qualificados.

Além disso, é necessário considerar se a família tem condições de investir recursos adicionais caso a empresa precise se reinventar ou crescer. Devido à rápida evolução do mercado, em especial em determinados setores, essa análise deve ser feita frequentemente.

Portanto, se não houver interesse por parte dos herdeiros e a família não tiver disposição ou condições de realizar os investimentos necessários, a venda se torna a alternativa mais prudente.

O melhor momento para vender e a importância da assessoria

Depois da decisão de venda, é preciso preparar-se para esse momento. O timing ideal não é, necessariamente, quando o empresário decide que quer vender, mas sim quando o mercado está favorável e há compradores dispostos a pagar um bom preço.

Muitos empresários só pensam em vender quando já estão cansados ou perto da aposentadoria. Porém, o ideal seria considerar a venda quando a empresa estiver em seu auge de valor.

Nesse processo, contar com assessoria especializada é essencial. O processo de alienação envolve diversos aspectos técnicos e pode ser bastante complexo. Para o empresário, é uma experiência única, muitas vezes vivida apenas uma vez.

Os especialistas, por outro lado, atuam nesse tipo de negociação todos os dias. Portanto, sem orientação, o empresário pode começar a negociação em desvantagem.

Saber o momento certo para tomar uma decisão de venda é fundamental. Ao agir durante o período de força e prosperidade do negócio, o valor construído ao longo dos anos será maximizado, seja para manter o legado, seja para viabilizar novos caminhos para a família.

*Antonio Mazzucco é especialista em direito empresarial societário e sócio da Mazzucco&Mello Sociedade de Advogados.

 

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