Mais gás natural, mais segurança energética
Presidente da Compass destaca ativo valioso do Brasil nas Bacias de Campos e Santos e a necessidade de plano estratégico que gere valor a toda a sociedade
André Martins
Publicado em 18 de dezembro de 2020 às 17h17.
Última atualização em 18 de dezembro de 2020 às 17h17.
A participação do gás natural na matriz energética brasileira é de apenas 12,2%, número bem menor do que a média mundial, de 20%. Há muito espaço e várias razões para aumentar esse percentual. E não apenas pela comparação global, mas pelas vantagens desse energético que hoje no país já chega a 3,7 milhões de casas e apartamentos, mais de 43 mil estabelecimentos comerciais (hospitais, shoppings, restaurantes etc.), 3.400 indústrias e cerca de 1.570 postos de combustíveis, de acordo com dados da associação que representa as distribuidoras, a Abegás.
A primeira grande razão é econômica. O Brasil conta com imensas reservas de gás natural, especialmente nas Bacias de Campos e de Santos, no pré-sal, e em terra, na região Amazônica e outros campos exploratórios no Nordeste.
Segundo o Plano Decenal de Energia (PDE), anuário da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a produção nacional de gás natural deve duplicar até 2029, chegando a 257 milhões de m3/dia de produção bruta.
Não é exagero afirmar que essa produção vem sendo subaproveitada em grande escala. A própria EPE, no já citado PDE 2029, diz que "parte considerável do gás natural permanece sendo reinjetado em função do aumento da recuperação do óleo e pela dificuldade de monetização, sobretudo devido à falta de infraestrutura de escoamento."
Ou seja, o Brasil tem um valioso ativo que precisaria de um plano estratégico para ser melhor aproveitado e, desse modo, gerar valor para a sociedade por meio de investimentos, criação de empregos e aumento de arrecadação para os entes públicos.
Há mais uma boa razão para expandir o uso de gás na matriz brasileira: a segurança energética. O racionamento de energia ocorrido no mês de setembro no estado da California (EUA) deixou como legado ao mundo um questionamento: qual o balanço ideal entre fontes renováveis, que são intermitentes, e uma energia firme, capaz de dar resiliência ao sistema?
Também observamos, recentemente, o súbito acionamento de usinas térmicas a gás flexíveis (uso ocasional), que têm um custo de energia muito mais elevado do que as chamadas usinas inflexíveis (uso permanente).
Por conta da falta de chuvas, os reservatórios das hidrelétricas tiveram uma redução expressiva, chegando em 7 de dezembro ao baixíssimo patamar de 16,5% de Energia Armazenada (EAR) no subsistema Sudeste / Centro-Oeste – região onde está o maior consumo. Isso ocasiona o acionamento de térmicas mais caras e uma alta no Preço de Liquidação de Diferenças, o chamado mercado de curto prazo. A crise hídrica é uma realidade há pelo menos cinco anos e faz todo sentido permitir uma recuperação em bases sustentáveis do nível de água.
Outro ponto adicional é que o Brasil precisa voltar a crescer. A estimativa é de uma recuperação do PIB em 3,5% em 2021 e de uma alta de 2,5% para 2022 e 2023, segundo economistas do mercado financeiro consultados no início de dezembro pelo Banco Central.
Todo esse contexto recomenda uma reflexão sobre o futuro energético do País. O mundo inteiro reconhece que o Brasil tem uma invejável diversidade de fontes: temos recursos naturais, vento, sol, biomassa, gás natural.
Tamanhas possibilidades permitem uma combinação invejável dessas fontes em um sistema integrado. Mas é indispensável discutir o que é possível fazer agora, nesse momento privilegiado de debate do marco regulatório do setor de gás e de aprimoramento do setor elétrico, para que o País possa obter o melhor de todas as fontes, de uma maneira estruturada e sustentável. E isso exige uma visão de longo prazo – afinal, projetos de infraestrutura no setor demandam um horizonte de quatro a seis anos.
Na condição de mais limpa das energias fósseis, o gás natural já vem prestando serviços inestimáveis ao meio ambiente na transição para uma economia mais sustentável. Nunca é demais lembrar que, no chamado Acordo de Paris, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa em 27% até 2025 e em 43% até 2030. E o gás natural, com muita eficiência, pode contribuir para que o Brasil consiga cumprir essas metas.
Nesse projeto, a criação de um plano estruturado para uso do gás no transporte de carga e de passageiros seria um bom caminho, com outro benefício paralelo: a melhoria da qualidade do ar e das condições de saúde nos centros urbanos. Prova disso é um estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade, segundo o qual a substituição da frota de metade dos ônibus a diesel por veículos a gás natural, num período de cinco anos, nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, seria capaz de salvar mais de 10 mil vidas e evitar 5.284 internações na rede pública de saúde.
Já temos recursos e tecnologia. Agora são fundamentais serenidade e entendimento. As decisões devem ser assertivas, mercadologicamente racionais e juridicamente perfeitas.
Somente com essa orientação será possível garantir um ambiente de negócios propício para os investimentos que irão gerar um caminho sustentável, sob o ponto de vista econômico, social e ambiental, para um crescimento com segurança energética.
*Nelson Gomes é presidente da Compass Gás & Energia
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