Iniciativa privada também é responsável por recuperar déficits estruturais
Em live da Bússola, executivos de grandes marcas e representantes do terceiro setor discutem como a iniciativa privada pode atuar durante crise global
Bússola
Publicado em 2 de setembro de 2021 às 15h26.
Última atualização em 2 de setembro de 2021 às 15h34.
A iniciativa privada tem a responsabilidade de ajudar o Brasil a não deixar os marginalizados e necessitados para trás, ainda mais em um cenário pós-pandemia que acelerou as desigualdades, contrastes sociais e falta de oportunidades. Essa foi a tônica do debate “Pandemia e solidariedade: o papel da responsabilidade social corporativa”, transmitido na quarta-feira, 1°, na Bússola. E os desafios para recuperar déficits históricos na sociedade brasileira não faltam para organizações que podem dar escala às ações de impacto na educação, na saúde e na geração de empregos.
Dados do Instituto Locomotiva apontam que mais de 86 milhões de brasileiros receberam algum tipo de doação durante a pandemia e 60% desse total também doou. A conversa, que contou com a participação de Andrea Matsui, CEO do Instituto Alicerce, Vander Giordano, vice-presidente institucional da Multiplan, Gabriel Cardoso, gerente executivo do Instituto Sabin, e Susy Yoshimura, diretora executiva do Instituto GPA, versou sobre a responsabilidade social corporativa e como empresas têm se movimentado para oferecer benefícios à sociedade.
Para Vander Giordano, a solidariedade será um dos grandes aprendizados da pandemia. A Multiplan criou sua área de responsabilidade social, o Multiplique o Bem, muito antes do impacto da covid-19 no país e tem atuado com regularidade com campanhas especiais.
“De tempos em tempos, a sociedade tem demandas e necessidades específicas. Pelo Multiplique o Bem, doamos, no período de pandemia, 150 toneladas de alimentos para mais de cem instituições que atuam nas dez cidades onde estamos presentes”, afirma.
“Além disso, nossos shoppings são vetores de crescimento. Com uma injeção de investimentos e geração de empregos, a presença de um shopping Multiplan ajuda em uma espiral positiva de desenvolvimento”, declara. Em novembro, a rede inaugura seu 20º shopping, o ParkJacarepaguá, no Rio de Janeiro, que vai gerar 4.000 novas vagas de emprego.
Já Susy Yoshimura, diretora executiva do Instituto GPA, explicou como um dos maiores varejistas alimentares do país utiliza sua capilaridade para colaborar para o impacto positivo na vida das pessoas. “Somos um varejo e estamos espalhados em quase 1.000 pontos pelo país. O entorno de nossas lojas, a comunidade, o cliente, o colaborador e toda esta rede que o varejo forma, não podemos deixar de potencializar isto como um agente de transformação local”, declara. “Nos últimos dois anos, por causa da pandemia, esse movimento teve muita importância”.
Ainda segundo Yoshimura, outra frente de atuação do braço social do GPA é mais focada em questões estruturantes, como a educação.
“No caso do GPA, está conectado ao mundo do trabalho e a cadeia da alimentação, a nossa expertise”, afirma. “Temos estratégias segmentadas das nossas bandeiras (Extra, Pão de Açúcar e Compre Bem), desde um caráter mais ligado ao empreendedorismo ou mesmo ao desenvolvimento de cadeias mais sustentáveis e saudáveis até o intuito de dar mais oportunidade para grupos de maior vulnerabilidade social e econômica, que talvez não teriam acesso àquele tipo de formação, curso ou universidade, não fosse por estes projetos do Instituto”, afirma a executiva.
Fazer a diferença na vida dos estudantes do ensino público e privado que tiveram déficits de aprendizagem acelerados pela pandemia é uma das preocupações do Instituto Alicerce. Criada em 2019, a organização faz a ponte entre pessoas físicas, empresas e comunidades. Desde o começo da pandemia, a entidade liderada pela CEO Andrea Matsui conseguiu, através da sua rede de investidores, viabilizar mais de quatro mil bolsas de estudos.
“Mais do que os números, o que chama nossa atenção é o impacto. Vimos histórias de transformação social em um contexto remoto. Conseguimos alfabetizar alunos de todas as idades, de crianças que se afastaram das escolas e tiveram defasagem e até adultos que retornaram aos estudos, empurrados pela crise (sanitária) e precisaram da capacitação para melhores colocações profissionais”, declara a executiva.
Solidariedade como pilar de negócio
Para Susy Yoshimura, cada empresa vai achar o seu caminho na solidariedade. “É legítimo que cada uma faça suas escolhas. O que vai diferenciar esse trabalho e a qualidade deste impacto social é como isto será feito. O que importa neste processo é como as empresas vão escolher suas parcerias e como ela olha sua atuação, não como justificativa da sua atuação, mas como propósito do que ela vai querer mudar e como ela vai conseguir entender estes processos de mudança”.
A responsabilidade social corporativa é um movimento genuíno, que chegou para ficar. Gabriel Cardoso, do Instituto Sabin, acredita que “cada vez mais vamos passar as empresas se tornando corresponsáveis pelas comunidades em que estão inseridas. A pandemia provocou isso e elas aos poucos estão assumindo esse papel. Eles assumiram a responsabilidade frente aos desafios sociais impostos pela crise. Eu acho que fica essa lição”, diz.
Para Cardoso, a mudança é uma questão ética. “As empresas perceberam como são beneficiadas pelas comunidades e elas viram que têm essa responsabilidade com o todo. Acredito que estamos testemunhando uma mudança comportamental muito positiva e assistindo o fortalecimento no investimento social no Brasil. Temos pesquisas que mostram queda na quantidade de doações, mas, em contrapartida, houve um aumento no engajamento dos mais favorecidos, deixando para trás aquele pensamento de que cabe somente ao Estado o cuidado com a sociedade. Aqui no Grupo Sabin, isso já acontece de forma muito natural e é muito gratificante ver que isso está acontecendo também em outras empresas. Afinal de contas, companhias com ambientes que assumem o compromisso de respeito com as comunidades são mais prósperas em todos os aspectos”, declara.
Ao olhar para o futuro, Giordano defende que a solidariedade não passa pela “invenção da roda”. “A criação de empregos é o melhor programa social que existe. Empregos e oportunidades para a independência financeira levam dignidade às pessoas e são as maiores contribuições que podem ser dadas à população”, afirma.
O executivo reforça ainda a importância do papel particular de cada pessoa na transformação do Brasil para melhor. “Gentileza gera gentileza. Se não pensarmos no que está próximo a nós, no nosso entorno, não conseguimos multiplicar. E se cada um fizer a sua parte, chegamos a um país muito melhor”, diz.
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