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Incluindo lentes de gênero: o metaverso e o empreendedorismo feminino

Conceito da economista Jackie Vanderbrug pode ser aplicado em análises de recortes de gênero no metaverso e sua relação com empreendedoras

Mulheres brasileiras estudam mais, gastam mais tempo em tarefas domésticas não remuneradas e têm pior remuneração do que os homens (IBGE, 2018) (Matthew Leete/Getty Images)

Mulheres brasileiras estudam mais, gastam mais tempo em tarefas domésticas não remuneradas e têm pior remuneração do que os homens (IBGE, 2018) (Matthew Leete/Getty Images)

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Publicado em 15 de fevereiro de 2022 às 16h00.

Por Beatriz Leite*

Imagine entrar numa sala no qual você poderá ganhar até bilhões de dólares. Tudo que você precisa fazer é convencer o grupo a sua frente que sua ideia de negócio é boa o bastante. Você estudou, os números comprovam, você tem um time bacana te apoiando. Você está confiante? Eu estaria. Imagine agora que o seu gênero ou cor podem enviesar a análise do grupo a avaliar sua ideia, mesmo antes de você sequer abrir a boca. Então eles colocam um óculos “mágico” e passam a te enxergar apenas pelo valor do que você está criando, sua ideia.

Será esse um óculos 3D? Estamos falando do Metaverso? Seria um universo digital no qual as pessoas podem ser avatares completamente distintos de si mesmos a resposta para o problema do viés inconsciente e da desigualdade de gênero?

Ou seria mais fácil inserirmos uma “lente de gênero” no mundo real? E o que seria lente de gênero? Vamos ao conceito: conforme a economista Jackie Vanderbrug, codiretora do conselho de investimentos de impacto do Bank of America, lente de gênero, no mundo de investimentos, envolve primordialmente investir em empresas dirigidas por mulheres ou de propriedade delas, mas pode e deve ser ampliado para quaisquer negócios pensando em como são impactados pela diversidade de gênero.

O conceito não é novo, mas vez ou outra devemos relembrar de que, neste mundo físico em que — ainda — vivemos, ainda existem camadas e lentes a serem construídas. Chegamos a ter uma startup recebendo individualmente em uma única rodada de investimento US$ 2,65 bilhões (ranking da Startupi), mais do que o PIB de alguns países. Entretanto, saindo desse metaverso rico, masculino e branco no qual circulam bilhões de dólares, enxergamos as mulheres.

As mulheres brasileiras estudam mais, gastam mais tempo em tarefas domésticas não remuneradas e têm pior remuneração do que os homens (IBGE, 2018). Mais de 50% da população brasileira é feminina, porém apenas 12,6% das startups são fundadas por mulheres (Abstartup, 2021). Conforme pesquisas da IRME, 40% das mulheres começam o negócio sem capital e 50% dos negócios delas possuem faturamento médio mensal de até R$ 2.500, contra 40% dos homens.

Quando olhamos para outros recortes dentro de gênero, o metaverso é ainda mais paralelo. Durante a pandemia, segundo dados do Sebrae 2020, 58% das mulheres negras donas de negócios tiveram empréstimos bancários negados.

Ou seja, as mulheres estudam mais, ganham menos, começam seus pequenos negócios sozinhas, seu faturamento não é alto e têm crédito negado, mesmo em meio a maior crise econômica e sanitária.

E não é uma realidade puramente brasileira. Publicação da “Harvard Business Review”, demonstra que mulheres empreendedoras recebem apenas 2% do total de investimento, mesmo representando quase 40% dos negócios nos Estados Unidos.

Há algo a ser mudado e sim precisamos de um mundo com novas lentes. Não necessariamente de realidade virtual. Lentes que enxergam que a solução é mais para geração de renda para mulheres, do que um holograma branco e rico ganhando mais dinheiro, virtual ou fisicamente. Se prepare para colocar seu óculos de realidade virtual ajustado para gênero. Esse é o futuro desse metaverso em que vivemos.

*Beatriz Leite é gestora de projetos, formada em Gestão Ambiental pela USP e pós-graduada em Gestão de Projetos pelo Senac. Atua há quase 10 anos em negócios e organizações sociais, nas áreas de longevidade, desenvolvimento local, cultura e empoderamento feminino

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