God Save the Queen, o hino camaleão do Reino Unido, vai desaparecer
Música oficial em homenagem à rainha ou ao rei não tem a rigidez que se vê no Brasil
Bússola
Publicado em 19 de setembro de 2022 às 15h00.
God Save the Queen, hino oficial do Reino Unido, não será mais ouvido por você, por mim e por qualquer um que mora hoje neste planeta. A não ser, claro, que algum saudosista tenha a gravação em casa.
Com a morte da rainha Elisabeth II, e a consequente proclamação de seu filho Charles, a canção retornou ao original God Save the King, com a mudança de gênero. E as gerações seguintes a assumir o poder de Charles devem ser de homens: o filho William e o neto George.
Ou seja, a expectativa é que por muitas décadas o “King” do hino seja mandatório. O mais curioso é que a canção não é tratada com a rigidez que vemos no nosso hino nacional. Aqui, o hino é praticamente sagrado e modificá-lo é contravenção penal, sujeita a multa. No Reino Unido, God Save the Queen/King permite quase tudo. É um “hino camaleão”.
A história de sua criação começa séculos atrás. O autor é desconhecido, mas cogita-se ter sido o músico John Bull, em 1619. Não há versão definitiva da letra. A opção com três versos é a “padrão”, mas muitas alterações aconteceram do século 17 para cá.
Depois da Segunda Guerra Mundial houve uma quase exclusão da segunda estrofe, por ter um tom beligerante (“Scatter his enemies, and make them fall” é um trecho, algo como “disperse seus inimigos, e faça com que caiam”, na tradução livre).
O próprio Charles é um dos incentivadores a ignorar esta segunda estrofe. Geralmente, em todo o Reino Unido o primeiro verso é o único cantado, mesmo em ocasiões oficiais, e o terceiro e último verso aparece raramente.
Desde a primeira publicação em texto, em 1745, versos foram adicionados e subtraídos esporadicamente e, ainda hoje, publicações incluem seleções variadas em ordens diferentes. Na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008 foi cantado um verso da letra alternativa criada pelo educador William Edward Hickson no século 19.
Essa falta de rigidez não tem trazido problema para o patriotismo britânico. Fato que leva à pergunta: é um desrespeito mudar a letra do hino?
Se Charles fizer como a mãe, irá se abster de cantar a música quando tocada em sua presença, já que agora é uma homenagem a ele. Já o povo britânico, com o amor pela monarquia, este sim resistente, deve continuar a plenos pulmões.
* Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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