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Geekonomy: o que pirâmides, games, daytrade e NFT têm em comum?

Tem gente ganhando dinheiro com jogos digitais com funcionalidades NFT, unindo gamificação e especulação em uma dinâmica polêmica, mas muito divertida

Tem gente ganhando dinheiro com jogos digitais com funcionalidades NFT, unindo gamificação e especulação em uma dinâmica polêmica, mas muito divertida (Toco Williams/Reprodução)

Tem gente ganhando dinheiro com jogos digitais com funcionalidades NFT, unindo gamificação e especulação em uma dinâmica polêmica, mas muito divertida (Toco Williams/Reprodução)

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Publicado em 16 de setembro de 2021 às 16h02.

Última atualização em 16 de setembro de 2021 às 16h11.

Por Cauê Madeira*

Em 2018 um estúdio vietnamita lançou um jogo baseado em criptomoedas e NFT. Seu ponto de diferença entre todas as peças digitais que exploram as tecnologias é que aqui elas são implementadas como parte da mecânica do jogo, não apenas como um certificado de posse.

Assim é Axie Infinity, em que você acumula moedas digitais conforme vence no jogo — e pode ganhar dinheiro de verdade por isso. Lembra do Pokémon, aquele jogo de rinha de bichos estranhos — mas fofinhos — que é febre até hoje? É tipo isso, mas cada bichinho que você tem é único, pois funciona com blockchain.

Se quiser participar, você precisa ter um time de pelo menos três monstrinhos lutadores, chamados Axies. Só para isso, você precisa comprar esses personagens únicos — pois são NFTs — de alguém que já esteja lá dentro. Com a alta demanda, você dificilmente consegue começar a jogar sem desembolsar 450 dólares pelo menos.

Conforme batalha e realiza as missões do jogo, você ganha “smooth love potions”, que são uma espécie de poção do amor que permitem a seus bichinhos se juntarem e procriarem. Assim, com uma certa quantidade de poções, seus Axies geram novas vidas que, por sua vez, podem ser comercializadas e trocadas pela moeda interna do Axie Infinity, vendida para outros jogadores, no maior estilo pet shop digital. A diferença é que tanto essas “poções do amor” (SLP) quanto a moeda do universo fantástico (AXS) são criptomoedas aqui no mundo real e podem ser trocadas por dinheiro.

Pensando que hoje, dia 15 de setembro, enquanto escrevo esse texto, uma SLP vale aproximadamente 0,09 dólar e com alguma experiência você consegue acumular entre 120 e 150 poções por dia, em uma conta de padaria é possível tirar mais de 2.000 dólares em um mês. Tudo isso apenas jogando. E desembolsando uma quantia razoável de dinheiro para começar, é claro.

A preocupação com a emissão de SLPs é que com a explosão de novos jogadores nos últimos meses, a produção da moeda digital tem crescido muito mais do que seu consumo, tendenciando a uma queda abrupta de valor. Os próprios desenvolvedores parecem sentir o mesmo, tendo reduzido a pontuação emitida nas últimas atualizações. Espera-se que um novo patch ocorra no próximo mês e traga correções nesse sentido, além de novas atualizações no jogo.

o que pirâmides, games, daytrade e NFT têm em comum

(Reprodução/Reprodução)

Estima-se que o Axie Infinity conte hoje com cerca de 1,5 milhão de jogadores ativos diariamente.

Mas aí vamos à provocação do título. O que pirâmides, games, daytrade e NFT têm em comum?

Para começar, vivemos a gamificação da vida. Se somos todos competitivos por natureza, a internet deu novos contrastes à busca pelo Santo Graal do sucesso financeiro. A cada dia pipocam gurus de soluções milagrosas, dispostos a ensinar atalhos que, na prática, não existem. Recentemente o brasileiro descobriu o investimento em ações e muitos resolvem arriscar uma entrada no daytrade, essa modalidade de negociação pela oscilação de preço dos ativos financeiros ao longo do dia. É uma dinâmica bastante arriscada, e de certa forma é um jogo também. Requer pensamento lógico, estratégia, uma boa dose de adrenalina e dinheiro para investir. Ao vencedor, multiplicadores. Aos perdedores, a chance de queimar uma grana.

O problema do daytrade não é perder ou ganhar dinheiro. Você faz o que quiser com seus fundos. Mas a promessa de facilidade e simplicidade para obter ganhos rápidos é nociva. Uma rápida pesquisa no Google e você vai descobrir dezenas de caso de captação de dinheiro ilegal para operações de daytrade e bitcoin. E práticas semelhantes já chegaram aos NFT games.

Não são propriamente golpes de apropriação de dinheiro, mas nas chamadas scholarships, ou “escolinhas” você pode de certa forma alugar monstrinhos de outros jogadores e dividir o lucro. Não existe uma regulação sobre isso ainda, então a chance de você cair na mão de um golpista é grande. É pirâmide porque quem quer entrar no jogo depende de quem já está lá dentro, já que a barreira de entrada é bem grande, e a receita desses jogadores acaba sendo muito mais significativa pelo arrendamento do espaço do que pelo jogo em si.

o que pirâmides, games, daytrade e NFT têm em comum

(Reprodução/Reprodução)

Emissão de SLPs explodiu de junho de 2021 para cá, segundo o site AxieWorld

Se os jogos NFT vieram pra ficar é difícil dizer, mas o crescimento e interesse no assunto explodiu. Axie Infinity é talvez o título mais notório, mas outros games despontam, como Plant vs Undead, Splinterlands, Gods Unchained, Upland e Cryptopop.

Conversei bastante com o Alan Winther, engenheiro e estudante de direito, que tem estudado os NFT games e é um membro da comunidade Axie Infinity. Ele me explicou muito da dinâmica interna do jogo. Mas o ponto crucial: o jogo é bom?

“Isso é uma coisa que ninguém fala: o jogo é chato. Você precisa jogar de duas a três horas por dia, fazendo ações repetitivas. Demora pra evoluir no jogo, tudo custa caro. Talvez para o gamer raiz valha mais a pena procurar outro título, deixando Axie Infinity como fonte de receita mesmo”.

Se quiser conhecer e entender melhor sobre o modelo de negócios uma análise mais profunda sobre como investir ou não, há muitas matérias disponíveis aqui no site da Exame pela editoria Future of Money.

*Cauê Madeira é sócio-diretor da Loures Consultoria

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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