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Eu era Orkut e ela Tiktok: o furacão da transformação digital

A transformação digital precisa incluir cringers, tiktokers e as pequenas empreendedoras

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Processos de digitalização não incluem um terço das residências brasileiras (Thomas Barwick/Getty Images)

Processos de digitalização não incluem um terço das residências brasileiras (Thomas Barwick/Getty Images)

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Bússola

Publicado em 20 de agosto de 2021 às, 11h00.

Última atualização em 20 de agosto de 2021 às, 15h07.

Por Beatriz Leite*

Messenger, Orkut, Instagram, Tiktok. Quem, como eu, mal aprendeu a lidar com muitos meios de comunicação ao mesmo tempo, como e-mail, Whatsapp e Instagram, agora precisa fazer reels e dancinha no Tiktok para empreender ou ser considerado relevante no mundo 2021 pós-pandemia.

Mas não precisamos ter vergonha quando metade dos termos acima nem faz sentido em nosso dia a dia. Descobrimos que sim, somos “cringe” (ou pagadores de mico, no bom português). Somos todos cringe, porque amanhã a geração do Tiktok também vai ser desbancada por um outro aplicativo “revolucionário” que eles terão de aprender a usar.

Porém, quando falamos da realidade brasileira, novas camadas precisam ser adicionadas a esse debate sobre digitalização, aplicativos e “tiktokers”.

Cerca de 1/3 das residências brasileiras não têm acesso à internet, conforme a TIC Domicílios 2019 — pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic). As famílias das classes D e E e de áreas rurais concentram as moradias sem internet, e os principais motivos da não utilização da internet incluem serviços caros, a falta de conhecimento sobre como usar e a indisponibilidade do serviço na região de moradia.

As pequenas empreendedoras, como aquela da floricultura, a do brechó, a manicure, a que revende lingerie, se encontram bem no meio desse furacão. Desde o início da pandemia covid-19, os desafios enfrentados pelas donas de negócios se intensificaram, conforme a pesquisa “As empreendedoras e o coronavírus” do Instituto Rede Mulher Empreendedora — Irme.

A pesquisa revelou que, em decorrência das medidas necessárias como distanciamento social, 67% das mulheres à frente de um negócio tiveram que encerrar ou mudar suas atividades e 65% tiveram redução no faturamento. A digitalização foi a principal medida tomada por elas para lidar com os impactos da pandemia. No entanto, apenas 34% das empreendedoras se sentiam confiantes quanto ao uso de tecnologias digitais.

Por isso é importante compreender e aceitar que a transformação digital, que parece ter sido uma imersão tão grande para alguns de nós que chegamos a desenvolver Zoomfobia (ou fatiga do Zoom), ainda é um processo gradual para muitos outros e outras desse país com dimensões e desigualdades continentais.

Apoiar as empreendedoras nesse caminho é parte da solução. Digitalizar processos, formas de pagamento, um catálogo pré-organizado no Whatsapp, assuntos às vezes triviais para alguns, para uma empreendedora mãe responsável pelas contas da casa que se divide em 3 jornadas de trabalho, pode ser a grande virada para conseguir vender mais.

A transformação digital da pequena empreendedora pode estar ainda em curso. Iniciativas como o RME Digitaliza, apoiado pela ONU Mulheres e realizado pela Rede Mulher Empreendedora, que digitalizou negócios de 165 mulheres da América Latina, mostram que mesmo para as pequenas e micro empresárias é possível percorrer essa jornada.

Quem é como eu, entusiasta do olho no olho, da carta ou ligação, teve de entender que se nossa sociedade era e-mail, agora ela é Tiktok. Cringe ou não, as empreendedoras estão aprendendo tudo isso também e se transformando.

A gente é um ser em formação, e agora vai se digitalizando aos poucos, descobrindo novas configurações, aplicativos e ferramentas. Tudo no seu tempo, sem esquecer de pedir por mudanças estruturais. Nessa jornada, todo suporte, cursos, apoio para a mãe brasileira vender seu bolo on e offline e colocar comida em casa, é bem-vindo e é nessa direção que devemos olhar. Cada vez mais tiktokers, mas nunca menos humanos.

*Beatriz Leite é gestora de projetos, formada em Gestão Ambiental pela USP e pós-graduada em Gestão de Projetos pelo Senac. Atua há quase 10 anos em negócios e organizações sociais, nas áreas de longevidade, desenvolvimento local, cultura e empoderamento feminino

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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