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ESG: 3 perguntas de ESG para Ricardo Assumpção, da EY

Sócio e líder de ESG na América Latina da consultoria Global fala sobre pesquisa que aponta diferença de expectativas entre investidores e empresas

Ricardo Assumpção, sócio da consultoria Global (EY/Divulgação)
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Bússola

Publicado em 24 de dezembro de 2022 às 12h53.

Ricardo Assumpção: A Global Reporting and Institutional Investor Survey lançada pela EY mostra que 99% dos investidores pesquisados utilizam as informações ESG para tomada de decisão de investimentos. O que confirma a observação que temos do mercado nos últimos tempos. O ESG é pilar fundamental para mitigar riscos não financeiros da ordem social, ambiental e de governança, mas que terão algum tipo de impacto no investimento. Impactos não só financeiros, mas também legais e até reputacionais, que vão, de alguma forma, destruir valor das empresas.

E quando falamos do mercado institucional de investimento, a pesquisa traz um dado interessante: 78% dos investidores entrevistados acham que as empresas devem fazer investimentos que abordem questões ESG relevantes para seus negócios, mesmo que isso reduza os lucros no curto prazo. Essa visão funciona muito para o mercado. Na contrapartida, observamos que apenas 55% desses líderes empresariais acreditam que ESG será relevante para o seu negócio, mesmo quando o resultado é uma redução de curto prazo. Isso mostra uma característica importante do mercado que é a seguinte: como equilibrar a equação do crescimento de longo prazo estruturado versus resultado de curto prazo? O ESG já mostrou que protege os negócios ao longo do tempo e que para a empresa que investe em uma agenda robusta ESG, os resultados não são imediatos, mas vêm ao longo do tempo. Ou seja, apesar dos investidores estarem usando as informações ESG para alocação de capital, também dizem sofrer pressão para os seus resultados de curto prazo, o que é natural do mercado.

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Ricardo Assumpção: Na verdade, isso é natural, é uma questão de maturidade do mercado. Os mercados mais maduros começam a reconhecer que os investimentos na agenda ESG proporcionam uma proteção dos negócios ao longo do tempo e não têm a ver só com risco, tem a ver também com a capacidade dos negócios de destravarem oportunidades e incorporarem a inovação. Essa questão de equilíbrio do curto com longo prazo tem muito a ver com a maturidade dos conselhos de administração e da equipe de gestão das empresas, que têm uma responsabilidade de bancar essa cultura de longo prazo.

Outra coisa importante que podemos mencionar é que empresas ou investidores que têm algum tipo de dever fiduciário com o seu investimento, tal como fundo de pensão, esses sim estão completamente orientados a incorporarem as questões ESG no investimento. Porque, de certa forma, no longo prazo, a alocação desse capital vai estar muito mais protegida.

Precisamos de um mercado mais maduro. A pesquisa traz também que 80% dos investidores entrevistados dizem que as empresas não conseguem articular a justificativa de investimento de longo prazo em sustentabilidade. E isso tem muito a ver com a capacidade das empresas de tornarem ESG algo transversal e até na maturidade dessa agenda interna. Uma das hipóteses para isso é a falta de profissionais amplamente capacitados pra implantar as agendas internas de ESG nas empresas.

É importante olhar sob uma perspectiva mais ampla. O mercado vem mudando e a capacitação e o entendimento tanto do ponto de vista do investidor, quanto do gestor da empresa também. O investidor começa a conseguir enxergar que ESG tem uma correlação com um melhor retorno do investimento ao mesmo tempo em que o líder da empresa começa também a enxergar que, ao incorporar ESG, pode mostrar para o investidor como o investimento de longo prazo pode ser benéfico pra operação.

Ricardo Assumpção: As duas, a COP 27, do clima, e a COP15, da biodiversidade, apesar de serem irmãs e terem muitas similaridades, são também, ao mesmo tempo, extremamente diferentes. O que fica claro com as duas é que os negócios precisam passar a olhar a perspectiva de natureza. A perspectiva de que biodiversidade e clima são os dois lados da mesma moeda. E isso é fundamental para conseguir endereçar a criação de valor a partir do capital natural. E esse é um dos grandes pontos positivos. A gente já começa a enxergar os caminhos para isso. Vejo que o Global Biodiversity Framework com as suas 22 metas traz as empresas para o jogo. Da mesma forma, é necessário tratar essa questão do clima como fundamental para o futuro dos negócios, e são os negócios que darão a escala e a velocidade suficiente para que essas ações sejam implementadas.

A COP15 traz o que poderíamos chamar de Acordo de Paris da biodiversidade. O que também mostra que o assunto é urgente tanto quanto o clima. Por outro lado, ainda há muito a fazer. A COP 27 era um ambiente para CEOs e líderes globais. A COP 15 não teve toda essa atenção dos negócios. Era um ambiente com diretores ou VPs de sustentabilidade que têm o dever de convencer os seus superiores, CEOs e CFOs de que biodiversidade é algo que precisa ser olhado mais de perto. E nesse ponto foi um pouco frustrante porque vejo que ainda é necessário convencer as empresas da biodiversidade, diferentemente do clima, que já está incorporado. E, como eu disse no começo, talvez a grande peça para isso seja tratar os dois como natureza. Tratar os dois como lados da mesma moeda.

Por outro lado, fiquei bastante animado ao ver a quantidade de soluções e de tecnologia que vão surgir para medir a biodiversidade. E a partir do momento em que se consegue medir a biodiversidade com certa precisão, é possível observar uma evolução positiva ou negativa. Eu acho que o Brasil, nessa cena toda, tem uma vantagem comparativa imensa, uma vez que a gente tem 20% da biodiversidade mundial e biomas incríveis como a Mata Atlântica, eleita uma referência em preservação ao longo da COP15. Então, eu vejo que ao final dessas duas COPs, o Brasil sai de uma posição geográfica fortalecida, reconhecida pelo mundo. Vejo também que não podemos perder tempo para estruturar as ferramentas corretas para os nossos negócios, devemos mostrar que conseguimos criar valor a partir do capital natural e ensinar o mundo a fazer isso.

* Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação

 

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