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Eleições no Congresso: os acionistas da vitória

Coluna semanal do analista Márcio de Freitas comenta os temas mais debatidos entre os poderes em Brasília

Plenário do Congresso (Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Plenário do Congresso (Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 4 de fevereiro de 2021 às 18h50.

O pragmatismo político dita que, em disputas, é melhor ser acionista minoritário da vitória que sócio majoritário da derrota. Muitos parlamentares perceberam os ventos favoráveis em direção a Arthur Lira, eleito presidente da Câmara dos Deputados, e Rodrigo Pacheco, agora presidente do Senado Federal. E se associaram ao movimento vitorioso. Quem ajudou a soprar as velas foi o presidente Jair Bolsonaro, com verbo e verba em favor dos seus favoritos.

Abriu-se uma avenida mais orgânica e sólida na política para pavimentar o caminho do governo na política neste ano - e que, se for bem tocado, pode chegar forte em 2022. Mas é sempre bom lembrar: o jogo não acaba até que termine.

Articulação política é uma obra eternamente inacabada, nunca fica pronta. O que acaba é o governo, quando findam os mandatos.

É por isso que o governo precisa se organizar para votar as matérias que realmente importam no Congresso. E comunicar isso de forma clara. A mídia não tem simpatia pelo governo Bolsonaro, mas o alerta à profusão de projetos apresentados como prioridade para votação no Congresso é válido. São 34 prioridades, com nenhuma objetividade e hierarquização.

Cabe aos articuladores agora organizar essa planilha de boas intenções, dar sentido e ordem ao que deve ser votado primeiro na Câmara, e o que deve ser a pauta inaugural no Senado. E assim que for vencido um projeto, indicar o seu substituto na agenda das Casas congressuais. E assim por diante.

É sempre bom lembrar que as cotações das bolsas de valores sobem e descem todos os dias, com muita velocidade. Economia não costuma esperar, nem as vidas durante uma pandemia. Indicar prioridade indica uma preocupação que deixa seguro tanto a quem espera receber do governo (inclusive vacinas), quanto a quem empresta (os títulos do Tesouro). Investidores estrangeiros no mesmo viés.

Já temas polêmicos como a pauta de costumes consomem tempo e capital político. Acirram radicalismos, criam palco para alguns, geram manchetes escandalosas e não produzem luz para governos. Só fumaça, que acaba atrapalhando o timoneiro. O risco de naufrágio aumenta nestes casos se se navega muito tempo olhando só para a confusão.

O tiroteio geral acaba desviando a mira do governo do alvo correto e mais urgente. Exemplos do que pode esperar um pouco mais são a reforma tributária e a privatização da Eletrobras, mesmo que cobradas pelo mercado.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já deu a senha que a Eletrobras, no modelo atual, não passa. O governo insistir no tema agora pode acabar resultando em derrota. É preciso ouvir, ver o que pode ser trabalhado, recuar e voltar ao campo em uma situação melhor, em outro momento.

A reforma tributária é outro item que coloca contribuintes na defensiva, governadores e prefeitos em busca de mais recursos e a Receita Federal com apreensão sobre a perda de arrecadação, o que geralmente já ocorre em períodos de  recessão. Gastar o capital político nesta discussão que deve levar tempo pode ser perda de tempo precioso.

Além disso, o sábio de Florença ensinou que o mal dever ser feito de uma vez só. E o bem aos poucos. Existem pautas antipáticas como a reforma administrativa que serão evitadas quando mais perto as eleições se aproximarem no calendário. Ou passam já, ou não passam mais. Simples assim. E o presidente da Câmara, Arthur Lira, já mostrou nos primeiros momentos de exercício do cargo que sabe ser pragmático e segue a cartilha de Maquiavel. É uma qualidade que não deve ser desperdiçada.

Além disso, Bolsonaro tem oportunidades de corrigir problemas de governo pelo simples fato de preparar o governo para a segunda etapa, que é mais importante para quem pode - e quer - disputar a reeleição. É a chance de, pelas pressões politicas de partidos que desejam entrar mais no governo, afastar auxiliares que não dão retorno e trazer mais profissionalismo para áreas essenciais. Se perder tempo, pode acabar gerando munição para os adversários.

Os inimigos perderam e estão confusos, mas vão se reorganizar. A vitória foi expressiva mas tem que ser cultivada com cuidados redobrados todos os dias. O tempo até 2022 parece de céu de brigadeiro, mas um bom almirante sabe que navegar é preciso. Se errar, o barco faz água.

*Analista Político da FSB

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