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É hora de devolver a engenharia a seu lugar de direito no mundo

Precisamos fazer com que os jovens enxerguem a engenharia como uma vocação convincente mais um vez

Escolas de engenharia na Europa vêm apelando para que os alunos mudem de direção (Leandro Fonseca/Exame)

Escolas de engenharia na Europa vêm apelando para que os alunos mudem de direção (Leandro Fonseca/Exame)

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Publicado em 14 de fevereiro de 2023 às 18h00.

Última atualização em 27 de fevereiro de 2023 às 17h40.

Por Patrice Caine*

A engenharia já teve seu apogeu? Essa poderia parecer uma pergunta absurda quando entramos em 2023 com uma crise energética na Europa, uma escassez global de talento científico e técnico, e um enfoque renovado na soberania industrial.

Contudo, apesar de todos estes desafios, ainda vemos uma onda crescente de críticas, particularmente na Europa, considerando a tecnologia algo incompatível com um futuro sustentável.

Nos últimos tempos, esta forma de pensar tem até se enraizado em algumas escolas de engenharia francesas, apelando para que os estudantes mudem de direção em nome da proteção ambiental.

Contra este pano de fundo problemático, sinto que é importante não perder de vista algumas considerações muito pragmáticas, e ter em mente que a tecnologia é uma grande parte da resposta aos desafios sociais e ambientais que enfrentamos.

Isso não quer dizer que filósofos, sociólogos e outros especialistas em humanidades não tenham nenhum papel a desempenhar, pois claramente precisaremos repensar fundamentalmente certos aspectos de nosso modo de vida, nossa relação com a natureza e talvez até mesmo como organizamos nossas sociedades. Mas, no curto prazo, pelo menos, nossas prioridades são avançar nas energias renováveis, lançar a próxima geração de bombas de calor, desenvolver novas tecnologias de bateria, projetar edifícios de energia passiva, inventar novos meios de transporte de baixo carbono, etc. E como podemos fazer isso sem profissionais de engenharia?

Quer queiramos ou não, nosso mundo é moldado pela tecnologia. Tem sido assim desde que nossos ancestrais formaram os primeiros assentamentos permanentes há 15.000 anos, e sabemos que não podemos voltar atrás agora.  Os engenheiros terão sempre um papel decisivo a desempenhar, pisando a linha tênue entre proteger o planeta e permitir que nossas sociedades cresçam e floresçam. Outros poderão ter uma compreensão mais profunda do mundo natural ao nosso redor. Mas quando se trata de como interagimos com nosso meio ambiente, os engenheiros têm as respostas. Recusar esta realidade – rejeitá-la como "tecno-solucionismo" – é condenar-nos à inação e, em última instância, a um futuro sombrio.

"Se você quer mudar o mundo, torne-se um engenheiro." Isso é o que deveríamos estar dizendo a nossos filhos. Porque é esta mesma disciplina e vocação que constituem nossa única e real alavanca para criar, em escala relevante, novas formas de produzir, viver e consumir. Os conhecimentos dessa área são a chave para uma política mais informada e seu papel é crucial para o ressurgimento da indústria em nossos países.

É claro que os engenheiros de hoje aplicam métodos e doutrinas diferentes dos de seus antecessores, e operar dentro dos limites planetários provavelmente se tornará um aspecto cada vez mais importante desse trabalho. Como engenheiro, e como chefe de uma empresa que emprega um grande número de engenheiros, experimentei em primeira mão as mudanças que estão ocorrendo no mundo acadêmico e na indústria. As principais escolas de engenharia revisaram seus currículos a fim de focar mais nas mudanças climáticas. E na Thales, por exemplo, nos comprometemos a adotar princípios de eco-design para 100% de nossos novos produtos a partir deste ano.

Encontrar soluções para os problemas complexos que enfrentamos - soluções que levam em conta o desempenho ambiental e a escassez de recursos - é exatamente o que a engenharia é. Chegou a hora de restaurar a engenharia em seu devido lugar, como uma vocação convincente para os jovens de todo o mundo.

*Patrice Caine é CEO da Thales, líder global em alta tecnologia, desde 2014. Também é vice-presidente da France Industrie, órgão que representa o setor de indústrias da França.

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