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Como a tradição e a inovação apoiarão as escolas confessionais do futuro

Na Revolução Digital, tem mais valor buscar uma educação que dê sentido à vida, segurança e resiliência diante de tantas mudanças

É preciso tornar a educação mais humanizada, interacional, significativa e, para as escolas confessionais, espiritualizada (Getty/Getty Images)

É preciso tornar a educação mais humanizada, interacional, significativa e, para as escolas confessionais, espiritualizada (Getty/Getty Images)

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Publicado em 6 de dezembro de 2021 às 13h26.

Última atualização em 6 de dezembro de 2021 às 13h37.

Por Fernando Shayer*

A primeira escola brasileira foi fundada há quase 500 anos em Salvador, em 1.549, pelo padre jesuíta Manuel da Nóbrega. No ano seguinte, o jesuíta Leonardo Nunes fundou uma escola em São Vicente, litoral de São Paulo e, em 25 de janeiro de 1.554, foi inaugurado o colégio jesuíta da Vila Piratininga, data hoje comemorada como a da fundação de São Paulo. Portanto, foi por meio da Igreja, de escolas confessionais, que a educação no Brasil começou.

Passado esse quase meio milênio, as escolas confessionais ainda representam uma parcela significativa das matrículas brasileiras. E, em grande medida, enfrentam os mesmos desafios das escolas laicas. O maior desses desafios está no serviço prestado dentro da sala de aula. O modelo tradicional de exposição de conteúdo está ultrapassado. O aluno pode entrar no YouTube e encontrar o mesmo conteúdo, em diversos formatos e de graça. E, para isso, não precisa passar 6 horas, cinco dias por semana, parado, em silêncio, assistindo a longas exposições dos professores. Esse aluno é capaz de criar vídeos no TikTok, conversar com outros estudantes no WhatsApp e acompanhar digitalmente temas muito relevantes como inclusão e sustentabilidade.

Ainda assim, o modelo de sala de aula o faz ficar apenas no mundo físico, passivo, como um robô e como se o Google não existisse — e é considerado “bom aluno” se tiver memorizado conteúdos e os reproduzido em provas. É um modelo de passado, que tanto escolas confessionais quanto laicas terão de ajustar, se quiserem continuar relevantes socialmente.

As escolas confessionais, no entanto, enfrentam alguns desafios adicionais. Um deles diz respeito à maneira como se comunicam com as famílias. O marketing para captação de alunos é utilizado de maneira mais incisiva pelas escolas laicas. Pela própria doutrina católica, escolas confessionais não estão confortáveis com a exaltação que as peças de marketing tendem a promover. É importante para elas, no entanto, se comunicar bem com as famílias, sem exaltação. E, para isso, adotar práticas de marketing que incorporem seu posicionamento é importante para que permaneçam sustentáveis.

Outro desafio diz respeito à inovação. Escolas confessionais tendem a adotar um ritmo mais lento de inovação em suas ofertas pedagógicas. Isso tem um lado positivo, porque estabiliza e dá consistência ao serviço educacional que prestam, mas pode ser percebido como incapacidade de se ajustar aos novos tempos e de formar jovens que conseguirão se diferenciar como profissionais no futuro. Os pais são millennials, têm em média entre 26 e 45 anos e, portanto, sempre estiveram inseridos num mundo profissional em que a inovação e a tecnologia tiveram, e terão cada vez mais, um papel muito central.

Na Revolução Digital, cada vez mais as organizações estão sendo convidadas a se renovar, para preservarem sua sustentabilidade. Isso acontece em todas as indústrias e na educação básica não é diferente. Parte da resposta tem a ver com sucessão, isto é, com a incorporação de gerações mais novas na liderança. Esse pode ser também outro desafio das escolas confessionais, que tendem a ser mais lentas nas mudanças de governança do que as laicas.

Por outro lado, olhando-se adiante, o futuro das escolas confessionais parece muito mais promissor do que antes da Revolução Digital — pelo menos para aquelas que souberem se renovar pedagógica e tecnologicamente. Para usar um termo da língua japonesa, para as escolas que aplicarem o onkochishing, aprendendo com o antigo ao trazer o novo, sem parar no tempo.

Um dos grandes elementos desse mundo 4.0 é a crescente dificuldade de se fazer sentido das coisas. Tudo muda muito rapidamente, para todos os lados, o que traz uma enorme sensação de insegurança e de incapacidade de compreensão da realidade. Nesse ambiente, tem muito mais valor buscar uma educação que, por meio da procura de uma conexão espiritual mais profunda, dê sentido à vida, segurança e resiliência diante de tantas mudanças. Essa busca tende a aumentar.

Além disso, como o conteúdo e as aulas estão disponíveis de graça e online, cada vez mais a atividade dentro da sala de aula será direcionada à interação entre os alunos. A escola 4.0 será mais parecida com aquela de sua origem grega, scholé, associada ao lazer e ao tempo livre: um ambiente desenhado para que o aluno saiba mais do que conteúdos e se engaje não por obrigação, mas por encantamento e curiosidade.

Daí o paradoxo do encontro entre a educação e a digitalização. Quanto mais digital a escola e quanto mais os conteúdos forem apenas acessórios e não o principal (ainda que acessórios importantes), mais a educação será humanizada, interacional, significativa e, para as escolas confessionais, espiritualizada. Com o aprofundamento do impacto da Revolução Digital na democratização do acesso ao conteúdo, cada vez mais as escolas incorporarão elementos da Escola Nova, movimento educacional do final do século 19 idealizado por Adolphe Ferrière que valorizava a experiência prática e a interação que respeita, ouve e valoriza o próximo, elementos fundantes da doutrina católica.

*Fernando Shayer é cofundador e CEO da Cloe, plataforma de aprendizagem ativa

 

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