Caroline Badra: Os desafios da mão de obra no agronegócio brasileiro
Problemas como a cadeia de suprimentos desencadeia outros problemas de médio a curto prazo
Bússola
Publicado em 26 de agosto de 2022 às 12h00.
Por Caroline Badra
Sabemos que hoje, diante de tantos desafios globais, estamos atravessando um momento de desequilíbrio entre oferta e demanda em diversos setores, em especial no agronegócio e isso reflete diretamente no que diz respeito aos recursos humanos. Durante a Agrishow 2022, Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, que voltou a reunir mais de 190 mil visitantes, vimos stands lotados, produtores negociando preços, crédito e, principalmente, prazo de entrega.
Se há alguns anos, o grande desafio era o time comercial vender o estoque, hoje o desafio é a cadeia de suprimentos (supply chain) para a entrega. O prazo médio atual para entrega de maquinário agrícola está acima de dois meses, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Este cenário se repete em outros subsetores da cadeia, como os insumos. São inúmeras notícias relatando dados assustadores sobre a escassez de matéria-prima e, consequentemente, de produtos, tornando-se cada vez mais nítido que os recursos atuais já não são suficientes para suprir a demanda mundial.
Outra escassez que o agronegócio vem enfrentando é a baixa oferta de talentos. As empresas do setor crescem vertiginosamente ano a ano e a formação de profissionais é inversamente proporcional à velocidade que o mercado demanda. É uma guerra por talentos, um momento onde profissionais têm sido abordados com ofertas tentadoras. O poder de decisão hoje é do candidato.
Somado a isso, com a exigência de algumas empresas com o retorno presencial ao trabalho, nota-se uma onda de demissões voluntárias. Os executivos buscam flexibilidade e aliam este ponto ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Com o trabalho remoto, muitos executivos se mudaram e hoje valorizam estar próximos à sua rede familiar.
Também é importante citar que o desejo por um ambiente de respeito se tornou condição. Aqui, fala-se em diversidade e inclusão. O desafio da área de recursos humanos tem sido atrair e incluir profissionais que garantam pluralidade aos times. Iniciativas como oportunidades de carreira com crescimento horizontal, além do vertical tem se tornado prática recorrente.
Diante disso, recrutar tem exigido flexibilidade e domínio do cenário para criar soluções alternativas. Conhecer profundamente a cultura, a área, o time e ter uma visão realista de mercado, são fatores essenciais para uma escolha assertiva e veloz. Agir rapidamente e estar atento às características que de fato sejam indispensáveis à função é essencial.
Os candidatos se mostram atentos até mesmo à sua experiência no processo seletivo. O tempo na definição do profissional escolhido, a transparência e clareza das etapas, a profundidade e as informações apresentadas podem impactar na decisão final do profissional.
Atrair e encantar o executivo ganha destaque no papel do empregador durante o processo seletivo. Cada detalhe é importante, desde a primeira abordagem, muitas vezes feita por um terceiro, até uma negociação customizada, passando por uma entrevista que permita ao candidato avaliar a estratégia da empresa, cultura e perfil de gestão se tornam imprescindíveis para o sucesso de um processo seletivo.
A escassez de talentos talvez não seja uma novidade para o setor, já assistimos em um passado não muito distante, pacotes de remuneração alavancados para atratividade e retenção de profissionais, mas desta vez assistimos mudanças na mentalidade do profissional. Os incentivos mudaram: ultrapassam a linha da remuneração financeira e obrigam as empresas a repensarem a estratégia de atração, seleção e retenção de pessoas e isso se torna o âmago da estratégia de sucesso do negócio.
*Caroline Badra é diretora e sócia do Fesa Group
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