(Goodboy Picture Company/Getty Images)
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Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 13h00.
* Por Alejandra Yacovodonato
Se os jovens de hoje são os colaboradores de amanhã, o futuro do trabalho exige um olhar urgente para o desenvolvimento de competências socioemocionais. Estudo conduzido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em parceria com o Instituto Ayrton Senna revela um cenário preocupante: estudantes socioeconomicamente desfavorecidos possuem níveis mais baixos de habilidades como criatividade, tolerância, curiosidade, assertividade, sociabilidade e empatia. Diante desse contexto, como construir sucesso pessoal e profissional que equipare desigualdades?
O tema ganhou uma nova camada de importância após a nova reforma do Ensino Médio, bem como as mudanças estabelecidas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), mas há um oceano entre teoria e prática. De um lado, no âmbito público, por falta de capacitação, investimento, processos e estratégia, o projeto não se desenvolve efetivamente. Do outro, no âmbito da educação privada, sua aplicação é melhor estabelecida, com a procura por soluções voltadas para a educação socioemocional crescendo mais de 300%, segundo levantamento da edtech Educa. Essa disparidade, no entanto, levanta um alerta: a falta de investimento em escolas públicas acentua a desigualdade social, impedindo que todos os estudantes tenham acesso a ferramentas essenciais para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, fundamentais para o sucesso pessoal e profissional.
O terceiro setor existe para mitigar um gap governamental: a falta de “braços”e recursos insuficientes para sustentar os grandes desafios do país. Dessa forma, os impostos que todo cidadão paga tornam-se insuficientes para co-construir a vida que desejamos. Assim, entra a tona o papel das empresas no caminho em prol a diminuição das desigualdades.
Na Venezuela temos uma frase que se aplica a esse contexto, “se pagar e se dar o troco”, ou seja, se o lucro das empresas vêm do consumidor, então ninguém mais apto para retornar isso em forma de benefício social. O trabalho base nasce na escola, onde se “prepara o terreno” para, posteriormente, esse jovem chegar ao mercado de trabalho. Logo, é de interesse do mercado receber - mas também capacitar - profissionais aptos para os desafios corporativos.
Segundo o relatório McKinsey Health Institute, de 2023, realizado com mais de 30 mil funcionários em 30 países, colaboradores que tiveram experiências positivas no trabalho relataram uma melhor saúde holística, são mais inovadores no trabalho e têm um desempenho profissional melhorado. Dentre os benefícios colhidos pelas empresas estão:
Além disso, habilidades como empatia, comunicação eficaz, trabalho em equipe, resolução de conflito, gerenciamento de tempo e flexibilidade são competências altamente valorizadas pelos recrutadores
Em larga escala o maior desafio sistêmico é a acessibilidade e o custo. Para as áreas mais remotas, o acesso de profissionais capacitados para oferecer uma educação socioemocional adequada se torna a principal barreira.
O segundo desafio é a adaptação metodológica, uma vez que é imprescindível levar em consideração a interseccionalidade dos grupos sub representados. Uma grande referência para o assunto é a autora Lélia Gonzalez, que aprofunda em suas obras a importância sobre o senso de comunidade e a empatia na construção do indivíduo. Para exemplificar, se formos levar educação socioemocional para uma aldeia indigena, seria necessário, primeiro, um profissional capacitado em educação socioemocional que, preferivelmente, pertença a essa comunidade. Na falta desse representante, é necessário discutir com a aldeia sobre as ferramentas socioemocionais e, havendo espaço de diálogo, criar um treinamento para os principais líderes deste espaço a fim de, posteriormente, co-criar um conteúdo adaptado para a realidade local.
Outro desafio que perpassa o trabalho de desenvolvimento é criar uma rotina semanal de ensino e mensuração, incluindo ferramentas como escala de Liniker, autoavaliação, avaliação em dupla, mudança comportamental, dentre outras. No mais, o que tange ao desafio individual, o maior risco é a baixa “disponibilidade de abertura” para o conhecimento. No entanto, com uma boa base inicial de instrução, dificilmente irá gerar um impacto negativo.
Embora existam desafios na implementação de competências socioemocionais em larga escala, a recompensa é inestimável. Uma educação bem-sucedida concentra-se em identidade, autonomia e propósito. Envolve cultivar a curiosidade e abrir mentes; fomentar a compaixão e abrir corações; e incentivar a coragem para mobilizar nossos recursos cognitivos, sociais e emocionais em ação. Essas qualidades representam também nossas melhores ferramentas para enfrentar os grandes desafios da atualidade. Juntos, podemos construir uma sociedade onde o autoconhecimento seja valorizado e as habilidades socioemocionais sejam um pilar fundamental para o sucesso individual e coletivo.
*Alejandra Yacovodonato possui formação em Comunicação Empresarial, Mestrado em Planejamento e Administração e certificação em Liderança em Inclusão Social pela OEA. Como fundadora e diretora da Fly Educação e Cultura, desenvolve programas socioemocionais e de geração de renda que enfatizam empreendedorismo, tecnologia e iniciativas ambientais para indivíduos de grupos sub-representados, com impacto em todo o país.
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