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Acolher para transformar: o papel das corporações na inclusão de pessoas transgênero

O desafio da inclusão no mundo corporativo aos olhos de executivo da SBF

 (artiemedvedev/Getty Images)

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Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 13h43.

Por Kaleb Machado* 

Imagine viver em um mundo onde sua simples existência provoca desconforto. Onde sua presença é sempre notada, mas raramente de forma acolhedora ou receptiva. Um mundo em que a maioria das portas permanece fechada, e as poucas que aparentam estar abertas são pesadas, com dobradiças enferrujadas que não se abrem por completo. É preciso se espremer e até se machucar para conseguir passar.

Essa é a realidade que muitas pessoas trans enfrentam diariamente. E é justamente essa realidade que o Dia da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro, nos convida a enxergar e transformar. Para as empresas, essa data vai além da simbologia: é um chamado à ação para repensar culturas organizacionais, reconhecer talentos diversos e transformar a inclusão em um motor de propulsão para inovação e progresso. Não se trata apenas de justiça social, mas de entender que diversidade é estratégia — uma força capaz de impulsionar mudanças que ressoam dentro e fora dos limites físicos dos escritórios.

Oportunidade desperdiçada no mercado de trabalho

Atualmente, no Brasil e em muitas partes do mundo, pessoas trans enfrentam desafios para acessar o mercado de trabalho apenas e unicamente por serem quem são. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), cerca de 90% da população trans feminina do país encontra-se em situações de vulnerabilidade econômica e apenas 4% está no mercado de trabalho formal, sendo que 0,02% tem acesso ao Ensino Superior . Além de revelar uma lacuna social, os números representam milhares de talentos que são desperdiçados e reforçam a urgência de políticas públicas e iniciativas empresariais inclusivas.

As empresas têm a chance de reverter essa realidade por meio de programas de inclusão que não apenas ofereçam oportunidades, mas também construam ambientes seguros, respeitosos e que celebrem a diversidade.

Diversidade como vantagem competitiva

Implementar políticas de inclusão nas empresas vai muito além de adequar-se à legislação. Também é bom para o negócio. Estudos apontam que a diversidade impulsiona a inovação ao promover diálogos, desafiar pensamentos convencionais e, por fim, enriquecer o processo de tomada de decisão. No fim do dia, um grupo de pessoas diversas tem muito mais a contribuir para o desenvolvimento de produtos e estratégias mais inovadores.

No caso do varejo e também de muitos outros segmentos, é preciso ter, dentro de casa, um time tão diverso quanto o nosso mercado consumidor. Fechar os olhos para essa realidade é perder a oportunidade de se conectar genuinamente com os clientes, entender suas necessidades e preferências e, consequentemente, perder competitividade em um mercado cada vez mais dinâmico e exigente .

Minha experiência no Grupo SBF

Ainda há muito a entender e a ser feito, e o ponto de partida no Grupo SBF foi apoiar no básico: o documento de identidade dos nossos colaboradores. Sabemos o quão conflitante pode ser apresentar um RG que não traduz quem você é de fato. Lançado em 2023, o Programa Transidentidade, iniciativa do Plural, grupo de afinidade de pessoas LGBTQPIAN+ do Grupo SBF, busca criar oportunidades de trabalho e desenvolvimento profissional para essa população, promovendo a equidade no ambiente corporativo.

Desde que o programa começou em 2023, dez profissionais já têm novos documentos. Outros sete estão participando do processo. Em uma companhia com 92 colaboradores trans, o êxito não está no número, mas na oportunidade que está sendo oferecida a cada indivíduo de crescer e contribuir de maneira plena com sua força de trabalho e sua inteligência, independentemente de seu gênero . O verdadeiro sucesso está em criar um ambiente em que todas as pessoas tenham as mesmas chances de se destacar, inovar e se desenvolver.

Ao promover a inclusão de pessoas trans, constroem um futuro mais justo e inovador. "Acolher é transformar". E no contexto corporativo, essa transformação é uma jornada que beneficia a todos: profissionais, organizações e a sociedade como um todo.

*Kaleb Machado é Gerente Sênior ESG, Diversidade e Inclusão do Grupo SBF

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