Pandemia pode deixar uma geração de crianças e adolescentes distantes da escola (Bruna Prado/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2021 às 14h16.
Por Marcelo Tokarski*
Enquanto o Brasil vive sob a ameaça de uma terceira onda e com uma média móvel acima de 1.800 óbitos diários provocados pela covid-19, a pandemia segue fazendo estragos na educação brasileira. Em 15 das 27 unidades da federação, as escolas públicas estão fechadas desde o início da pandemia.
São milhões de crianças e adolescentes sem aulas ou com acesso precário ao ensino remoto. O país tem, segundo a Unicef, quase 5 milhões de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos sem internet em casa, ou 17% do total de meninos e meninas nessa faixa etária.
A falta de aulas tem provocado também outro efeito desastroso, o aumento da evasão escolar. De acordo com dados do IBGE trabalhados pela Unicef, antes da pandemia o Brasil tinha fora da escola 1,3 milhão de crianças em idade escolar. Esse número praticamente quadruplicou, atingindo hoje cerca de 5 milhões de meninos e meninas.
Tão trágicas quanto as estatísticas sanitárias, esses números seriam suficientes para que professores e profissionais da educação fossem priorizados no Plano Nacional de Imunização (PNI), o que ainda não aconteceu na maior parte do país. Apenas 15 Estados e o Distrito Federal já incluíram ao menos parte desses profissionais nas campanhas. Somente na sexta-feira passada os professores foram incluídos no PNI pelo Ministério da Saúde. Antes tarde do que nunca.
O curioso é notar que, na maior parte do país (a exceção hoje é apenas o Estado do Amapá), as escolas particulares estão autorizadas a funcionar pelos próprios governos estaduais que não reabrem as unidades públicas sob sua gestão. O discurso é de que as instituições particulares têm mais estrutura e recursos para manter medidas de distanciamento social e uso de álcool gel, por exemplo.
É verdade. Mas, em mais de um ano, o poder público já poderia ter encontrado alternativas para permitir o retorno das escolas com alguma segurança, a começar pela vacinação massiva de profissionais da educação.
Pais e mães
E nem mesmo a pressão de pais e mães parece surtir efeito. De acordo com pesquisa do Instituto FSB, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em julho do ano passado apenas 26% da população brasileira a partir dos 16 anos era favorável à reabertura das escolas. Na ocasião, o Brasil atravessava a primeira onda de covid-19, com uma média de 1.000 mortes por dia.
Hoje, 47% dos brasileiros são favoráveis à reabertura das escolas, quase o dobro do percentual favorável de um ano atrás. E isso se pensarmos que a média móvel de mortes está cerca de duas vezes maior do que há quase um ano. Sinal de que, mesmo diante de um cenário mais letal na pandemia, há cada vez mais pais e mães defendendo a reabertura das escolas, muito provavelmente por terem percebido que será muito grande o estrago no futuro de seus filhos.
O que está por vir
A incluir (somente) agora os profissionais da educação no PNI, a expectativa é de que professores estejam vacinados até julho, o que permitiria a reabertura das escolas públicas a partir de agosto, no início do segundo semestre letivo. Resta saber como estará a pandemia até lá.
Há um mês e meio, o número diário de mortes recuou de 3.100 por dia para cerca de 1.800. Já o número de novos casos cresceu nas três primeiras semanas de maio, recuando na última. Mas ainda assim seguimos em um patamar de 62 mil novos casos por dia, bem acima do pico de 45 mil por dia registrado na primeira onda.
Diversos especialistas têm alertado para a chegada de uma terceira onda, ou repique da segunda. Em muitos Estados, as UTIs voltaram a ficar em patamar crítico, com mais de 80% de ocupação. Caso as previsões se confirmem e a pandemia recrudesça entre junho e julho, pode ser que nem a vacinação dos profissionais da educação seja suficiente para permitir a reabertura das escolas.
Sendo assim ou não, é certo que teremos uma geração de crianças e adolescentes com sequelas educacionais provocadas pela pandemia de covid-19, mas também pela negligência das autoridades que há mais de um ano relegam a educação pública a segundo plano.
*Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
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