Abrainc reúne lideranças para debater perspectivas do setor imobiliário
Acompanhado por mais de 2.200 pessoas, evento online discutiu o futuro do setor, que vem se mantendo forte e resiliente apesar das dificuldades causadas pela pandemia
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Publicado em 11 de março de 2021 às 19h00.
Última atualização em 11 de março de 2021 às 20h25.
Nenhum outro setor da economia brasileira contribuiu tanto para o país resistir à falta de empregos provocada pela pandemia quanto o da construção civil. Conforme dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pela Secretaria de Trabalho da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, o setor criou 112.174 vagas em 2020, um aumento de 5,18% em relação ao ano anterior. A indústria veio em segundo, com 95.588.
Ainda diante de um cenário de insegurança, as perspectivas do setor para 2021 permanecem positivas – podem melhorar, caso reformas estruturais importantes sejam aprovadas no Congresso Nacional.
Foi para apresentar os números do setor e debater as perspectivas para este ano que a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) realizou na manhã desta quinta-feira o Summit Abrainc. Acompanhado por mais de 2.200 pessoas, o evento online e gratuito reuniu CEOs de incorporadoras, construtoras, líderes setoriais, analistas financeiros, economistas e governo.
Organizado em dois painéis – “Expectativas do setor da incorporação para 2021” e “Quais oportunidades estão no radar para novos projetos e negócios no mercado Imobiliário?” –, o evento contou com 16 participantes, entre eles o presidente da Abrainc, Luiz Antônio França, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, o primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos, e o presidente da B3, Gilson Finkelsztain.
Necessidade de reformas
Para Luiz Antônio França, o momento é sério e exige uma abordagem cautelosa: “Temos que enfrentar esse desafio como uma partida de xadrez contra nosso adversário central, o vírus”. Para médio e longo prazo, diz o presidente da Abrainc, a aprovação da PEC Emergencial e as reformas administrativa e tributária são fundamentais. “As reformas têm apoio da sociedade e são essenciais para a recuperação da economia”.
O setor conta com esses ajustes, afirma ele, na mesma medida em que continua investindo no Brasil. “O setor imobiliário é um dos que mais confiança deposita na economia. E tem um papel chave para evitar uma recessão ainda mais severa”.
O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, lembrou: “a engenharia brasileira é de vanguarda e de muita qualidade”. Para ele, “o mínimo que se pretende ter, em uma nação civilizada, é saúde, educação, uma casa própria para poder criar os filhos, o trabalho, e a condução até o trabalho”. O setor imobiliário, diz ele, é um desses pilares.
Quanto às reformas, Pacheco considera que a administrativa está bem encaminhada. “Ela oferece um critério que permite estimular a meritocracia, a vocação para o emprego, e assim pode melhorar a visão que os investidores têm do Brasil”. Já a reforma tributária, diz ele, “é mais complexa e difícil de ser feita no Brasil. Temos que escolher um modelo, custe o que custar”.
Para Marcelo Ramos, vice-presidente da Câmara dos Deputados, a prioridade de momento é “vacina no braço e comida no prato”. Nesse contexto, lembrou, “o setor imobiliário emprega muito e reage rápido ao menor estímulo”.
Essas são agendas de consenso entre todos os participantes. “A simplificação tributária é essencial”, lembrou Basílio Jafet, presidente do Secovi-SP. “É nas crises que você muda o estrutural. As pessoas ficaram em casa e viram a importância do lar em suas vidas”, lembrou José Carlos Martins, presidente Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
“O Brasil foi o único país do mundo em que a população foi às ruas a favor da reforma da Previdência. Essa articulação da sociedade civil é vital para avançarmos com a agenda de reformas”, completou Luiz Felipe Dávila, fundador do Centro de Liderança Pública (CLP).
Financiamento sob medida
Por sua vez, Pedro Guimarães, presidente da Caixa, informou que o banco realizou 116 bilhões de reais em créditos imobiliários em 2020, e deve alcançar os 130 bilhões de reais em 2021. No primeiro bimestre deste ano, o crédito imobiliário efetivo cresceu 78% em relação ao mesmo período do ano passado.
“Temos quatro linhas de crédito disponíveis. O cliente escolhe”, explica ele. A mais recente, apresentada pelo banco há apenas dez dias, atrelada ao rendimento da poupança, experimentou uma procura tão grande que já representa 30% das cotações, sendo 60% com base na TR e 10% no IPCA. “O segmento de crédito é muito disputado em outros países”, disse ele, “porque oferece uma estabilidade muito grande”.
Na avaliação do presidente da Caixa, além das garantias sólidas, a relação de longo prazo que o financiamento imobiliário proporciona permite ao banco oferecer outros produtos. “Melhorar a relação com os clientes é um desafio. Já crescemos bastante, mas temos muito a avançar”, disse Pedro Guimarães.
A Caixa também vem crescendo no crédito imobiliário para pessoa jurídica, informou ele. Em 2018, foram 2,1 bilhões de reais disponibilizados. Em 2019, 4,5 bilhões de reais. Em 2020, o valor saltou para 12,8 bilhões de reais. “Apenas em março de 2021, deveremos emprestar 3 bilhões de reais: mais do que todo o ano de 2018.”
Confiança crescente
Durante o evento, representantes da Deloitte apresentaram o Indicador de confiança do setor imobiliário residencial, relativo ao quarto trimestre de 2021. Trata-se do primeiro levantamento realizado pela empresa, em parceria com a entidade, na direção de construir um indicador de confiança do setor imobiliário residencial.
Para 53% dos empresários do ramo, a procura por imóveis aumentou entre outubro e dezembro. Os entrevistados consideram que a baixa taxa de juros e o aumento na oferta de crédito imobiliário foram os grandes indutores para o crescimento das vendas. Entre os entrevistados, 95% pretendem lançar novos empreendimentos residenciais para os próximos 3 a 12 meses.
“Temos um mercado de primeira residência performando bem e um mercado de segunda residência extremamente aquecido”, afirmou Cláudia Baggio. Líder de Real Estate e Avaliação Patrimonial da Deloitte, que apresentou os resultados da pesquisa com Giovanni Cordeiro, Chief Economist/Research e Market Intelligence da empresa.