Sara Giromini: A extremista incentivou pessoas contrárias ao aborto a irem ao hospital para hostilizar os médicos (FREDERICO BRASIL/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/Estadão Conteúdo)
Clara Cerioni
Publicado em 18 de agosto de 2020 às 11h24.
Última atualização em 18 de agosto de 2020 às 13h47.
Nesta madrugada, o canal no YouTube da extremista Sara Giromini saiu do ar. A medida vem dois dias depois que ela expôs o nome de uma criança de dez anos que foi estuprada pelo tio e que teve a gravidez interrompida por decisão judicial.
Procurada, a empresa disse que tem "tem políticas rígidas que determinam os conteúdos que podem estar na plataforma" e que encerra "qualquer canal que viole repetidamente nossas regras". Informou, ainda, que aplica as diretrizes de "forma consistente e independente de ponto de vista".
"Apenas no primeiro trimestre de 2020, encerramos globalmente mais de 1,9 milhão de canais da plataforma. No mesmo período, no Brasil, foram removidos mais de 480 mil vídeos que desrespeitavam nossas políticas", concluiu o YouTube.
No último domingo, 16, a militante de extrema-direita publicou em diversas redes sociais a identidade da criança e o endereço do hospital que faria o procedimento para interromper a gravidez prevista em lei. Ela também chamou o médico responsável pela unidade de "aborteiro".
Logo em seguida, a Justiça do Espírito Santo mandou Google, Facebook e Twitter retirar do ar todas as informações divulgadas em suas plataformas sobre a criança.
Durante quatro anos, a criança foi vítima de abusos sexuais por parte de um tio, de 33 anos, que a engravidou. Ambos moravam em São Mateus, cidade a 218 quilômetros de Vitória, capital do Espírito Santo.
A série de abusos sexuais que a criança sofreu veio à tona no dia 9, quando ela, acompanhada de um familiar, deu entrada em um hospital da cidade.
Segundo informações do jornal A Gazeta, do Espírito Santo, no atendimento, os profissionais da unidade notaram que a barriga da criança apresentava um volume e foi realizado um exame de sangue. O resultado do teste comprovou a gravidez e indicou que a menor já estava grávida há cerca de três meses.
Na teoria, com essa situação, a criança só precisaria da autorização de sua responsável, no caso a avó, para que o procedimento fosse realizado em uma instituição de referência. No entanto, uma intensa batalha judicial, médica e religiosa se formou em torno do caso.
A promotoria da Infância e Juventude do Espírito Santo divulgou que vai investigar se grupos externos pressionaram a avó da criança para negar o aborto. Com o impasse, na sexta-feira, 14, a Justiça do Espírito Santo autorizou que o procedimento fosse realizado na criança.
Ela foi transferida ao Hospital Hucam (Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes), localizado em Vitória. Lá, os médicos realizaram mais um exame, em que foi constatado que a criança já estava com gravidez avançada de 22 semanas.
Por isso, o hospital negou realizar o procedimento e ela teve de viajar para Pernambuco, onde há um hospital de referência em saúde da mulher. Após a transferência para Recife, pessoas contrárias ao aborto estiveram na porta do hospital hostilizando os médicos. Eles foram incitados após publicação de Sara Giromini.