Reações: Witzel oferece emprego, Doria chama de golpe, FHC quer renúncia
O ex-juiz Sergio Moro pediu demissão do cargo de ministro da Justiça nesta sexta-feira
Ligia Tuon
Publicado em 24 de abril de 2020 às 13h00.
Última atualização em 24 de abril de 2020 às 16h01.
No que depender do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel , o agora ex-ministro da Justiça, Sergio Moro , já tem um emprego: "Ficaria honrado com sua presença em meu governo porque aqui, vossa excelência tem carta branca sempre", escreveu o mandatário no Twitter logo após o anúncio de demissão feito pelo ex-juiz nesta sexta-feira, 24.
A força tarefa da operação Lava Jato se manifestou dizendo que " a tentativa de nomeação de autoridades para interferir em investigações é ato da mais elevada gravidade e abre espaço para a obstrução do trabalho contra a corrupção e outros crimes praticados por poderosos, colocando em risco todo o sistema anticorrupção brasileiro”.
Em seu discurso de demissão, Moro reclamou de interferência política na Polícia Federal. O ex-juiz decidiu sair do governo após perder uma queda de braço com Bolsonaro em relação à chefia da Polícia Federal. A demissão do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, foi publicada no Diário Oficial nesta manhã. A fala de Moro começou às 11 horas e durou cerca de 40 minutos.
Luiz Henrique Mandetta, que também desembarcou recentemente do governo Bolsonaro, postou uma foto sua com o Moro em seu Instagram, dizendo que o trabalho do ministro na Justiça "sempre foi técnico": "Durante a epidemia trabalhamos mais próximos, sempre pensando no bem comum", disse.
"Estamos juntos", disse Luciano Hang, dono da rede lojas Havan, e apoiador declarado de Bolsonaro, se referindo a Moro. O empresário lamentou a saída do ex-ministro nas redes: "Obrigado por tudo que você fez pelo nosso país. Gerações e gerações lembrarão do seu legado"
Já o governador de São Paulo, João Doria, disse durante coletiva de imprensa logo após a fala de Moro que a saída do ministro é "um golpe na Justiça, um golpe na liberdade e um golpe na democracia do Brasil".
Mais cedo, em post no Twitter, Doria havia dito que o país "perde muito" com a mudança.
A Frente Parlamentar da Segurança Pública da Câmara dos Deputados disse em nota que recebeu a notícia dobre a saída de Moro com "extremo pesar": Vemos com preocupação esta postura intransigente do Presidente Jair Bolsonaro, que o fez perder um dos seus grandes aliados na luta pela construção de um Brasil mais justo e honesto". O grupo disse ainda que irá se reunir para decidir os caminhos que serão trilhados daqui para frente.
A Frente Nacional de Prefeitos também se manifestou por meio de nota de seu presidente, Jonas Donizette, de Campinas/SP: "Alertamos para a gravidade das declarações sobre as possíveis interferências políticas em investigações e inquéritos em andamento. Sobre isso, pedimos que sejam tomadas as devidas medidas de apuração e investigação. O país precisa saber do que se tratam essas denúncias”.
No Senado também houve uma chiva de críticas ao presidente Jair Bolsonaro pelas redes sociais. Muito sparlamentares se dizem preocupados com a independência da PF. "Moro sai deixando claro que Bolosnaro quer interferir na PF", escreveu o senador Angelo Coronel, do PSD da Bahia.
Já Antonio Anastasia, senador pelo PSD de Minas Gerais e vice-presidente da Casa, elogiou a atuação do ex-ministro e disse que torce para que não haja descontinuidade de projetos tocados pelo Ministério da Justiça.
https://twitter.com/Anastasia/status/1253698591773859841
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, disse que a OAB vai analisar os indícios de crimes apontados por Moro e que as crises geradas por Bolsonaro são "extremamente suspeitas".
Líder da minoria da Câmara, o deputado federal Alessandro Molon diz que Bolsonaro age para frear investigações da PF sobre seus filhos: "Ele nunca quis acabar com a corrupção", escreveu.
Janaína Paschoal, deputada estadual por São Paulo e co-autora do pedido de impeachment que tirou a ex-presidente Dilma Rousseff, disse que Moro revelou crimes graves durante seu discurso de demissão: "acredito em todas as palavras dele", diz.
Joice Hasselman, deputada federal, disse que "o Brasil ganha o melhor candidato para a presidência da República" em seu Twitter.
O cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), chamou Bolsonaro de líder disfuncional, "que age contra os interesses daqueles que o elegeram", disse em uma live organizada nesta tarde pela XP. Para ele, o presidente caminhando para ficar sozinho: "Daqui a pouco ele vai gritar 'não me deixem só'", em referência à histórica frase proferida pelo ex-presidente Fernando Collor quando viu que estava isolado politicamente e prestes a enfrentar o processo de impeachment.
(Com informações de Estadão Conteúdo)