Reações: Witzel oferece emprego, Doria chama de golpe, FHC quer renúncia
O ex-juiz Sergio Moro pediu demissão do cargo de ministro da Justiça nesta sexta-feira
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Moro (Adriano Machado/Reuters)
Publicado em 24 de abril de 2020, 13h00.
Última atualização em 24 de abril de 2020, 16h01.
No que depender do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, o agora ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, já tem um emprego: "Ficaria honrado com sua presença em meu governo porque aqui, vossa excelência tem carta branca sempre", escreveu o mandatário no Twitter logo após o anúncio de demissão feito pelo ex-juiz nesta sexta-feira, 24.
Assisto com tristeza ao pedido de demissão do meu ex-colega, o Juiz Federal Sergio Moro, cujos princípios adotamos em nossa vida profissional com uma missão: o combate ao crime. Ficaria honrado com sua presença em meu governo porque aqui, vossa excelência, tem carta branca sempre
— Wilson Witzel (@wilsonwitzel) April 24, 2020
A força tarefa da operação Lava Jato se manifestou dizendo que "a tentativa de nomeação de autoridades para interferir em investigações é ato da mais elevada gravidade e abre espaço para a obstrução do trabalho contra a corrupção e outros crimes praticados por poderosos, colocando em risco todo o sistema anticorrupção brasileiro”.
Em seu discurso de demissão, Moro reclamou de interferência política na Polícia Federal. O ex-juiz decidiu sair do governo após perder uma queda de braço com Bolsonaro em relação à chefia da Polícia Federal. A demissão do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, foi publicada no Diário Oficial nesta manhã. A fala de Moro começou às 11 horas e durou cerca de 40 minutos.
Luiz Henrique Mandetta, que também desembarcou recentemente do governo Bolsonaro, postou uma foto sua com o Moro em seu Instagram, dizendo que o trabalho do ministro na Justiça "sempre foi técnico": "Durante a epidemia trabalhamos mais próximos, sempre pensando no bem comum", disse.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) defendeu que Jair Boldonaro renuncie à Presidência da República: "Que assuma logo o vice para voltarmos ao foco", escreveu.
É hora de falar. Pr está cavando sua fossa. Que renuncie antes de ser renunciado. Poupe-nos de, além do coronavírus, termos um longo processo de impeachment. Que assuma logo o vice para voltarmos ao foco: a saúde e o emprego. Menos instabilidade, mais ação pelo Brasil.
— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) April 24, 2020
"Estamos juntos", disse Luciano Hang, dono da rede lojas Havan, e apoiador declarado de Bolsonaro, se referindo a Moro. O empresário lamentou a saída do ex-ministro nas redes: "Obrigado por tudo que você fez pelo nosso país. Gerações e gerações lembrarão do seu legado"
https://twitter.com/luciano_hang/status/1253703512250351619
Já o governador de São Paulo, João Doria, disse durante coletiva de imprensa logo após a fala de Moro que a saída do ministro é "um golpe na Justiça, um golpe na liberdade e um golpe na democracia do Brasil".
Mais cedo, em post no Twitter, Doria havia dito que o país "perde muito" com a mudança.
O Brasil perde muito com saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça. Moro mudou a história do País ao comandar a Lava Jato e colocar dezenas de corruptos na cadeia. Deu sinal de grandeza ao deixar a magistratura, para se doar ainda mais ao nosso País como ministro.
— João Doria (@jdoriajr) April 24, 2020
A Frente Parlamentar da Segurança Pública da Câmara dos Deputados disse em nota que recebeu a notícia dobre a saída de Moro com "extremo pesar": Vemos com preocupação esta postura intransigente do Presidente Jair Bolsonaro, que o fez perder um dos seus grandes aliados na luta pela construção de um Brasil mais justo e honesto". O grupo disse ainda que irá se reunir para decidir os caminhos que serão trilhados daqui para frente.
A Frente Nacional de Prefeitos também se manifestou por meio de nota de seu presidente, Jonas Donizette, de Campinas/SP: "Alertamos para a gravidade das declarações sobre as possíveis interferências políticas em investigações e inquéritos em andamento. Sobre isso, pedimos que sejam tomadas as devidas medidas de apuração e investigação. O país precisa saber do que se tratam essas denúncias”.
No Senado também houve uma chiva de críticas ao presidente Jair Bolsonaro pelas redes sociais. Muito sparlamentares se dizem preocupados com a independência da PF. "Moro sai deixando claro que Bolosnaro quer interferir na PF", escreveu o senador Angelo Coronel, do PSD da Bahia.
Moro sai deixando claro q Bolsonaro quer interferir na PF. Pq? Será q a equipe atual descobriu algo q está incomodando o governo? E disse q Bolsonaro quer alguém de sua confiança na PF para obter diretamente informações. Qual objetivo disso? Não é papel da PF esse tipo de serviço
— Senador Angelo Coronel (@angelocoronel_) April 24, 2020
Já Antonio Anastasia, senador pelo PSD de Minas Gerais e vice-presidente da Casa, elogiou a atuação do ex-ministro e disse que torce para que não haja descontinuidade de projetos tocados pelo Ministério da Justiça.
https://twitter.com/Anastasia/status/1253698591773859841
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, disse que a OAB vai analisar os indícios de crimes apontados por Moro e que as crises geradas por Bolsonaro são "extremamente suspeitas".
A OAB irá analisar os indícios de crimes, apontados por Moro. Mas preciso registrar meu lamento e minha indignação com as crises que o Presidente nos impõe, por motivos extremamente suspeitos, em meio a uma crise pandêmica que, de tão grave, deveria ao menos ser a única.
— Felipe Santa Cruz (@fsantacruz_rj) April 24, 2020
Líder da minoria da Câmara, o deputado federal Alessandro Molon diz que Bolsonaro age para frear investigações da PF sobre seus filhos: "Ele nunca quis acabar com a corrupção", escreveu.
Está claro: Bolsonaro demitiu o chefe da Polícia Federal para frear as investigações que avançam sobre seus filhos. Ele nunca quis acabar com a corrupção. Bolsonaro só trabalha em prol da família dele e da reeleição, criando crise atrás de crise. E o Brasil? Continua sem governo.
— Alessandro Molon 🇧🇷 (@alessandromolon) April 24, 2020
Janaína Paschoal, deputada estadual por São Paulo e co-autora do pedido de impeachment que tirou a ex-presidente Dilma Rousseff, disse que Moro revelou crimes graves durante seu discurso de demissão: "acredito em todas as palavras dele", diz.
Amados, para que não haja dúvidas sobre o que penso, uma vez que minha voz ( tosse) não me permite atender as muitas ligações, escrevo aqui: o Ministro Moro revelou crimes graves e eu acredito em todas as palavras dele. Quero ver, agora, de que lado o PT vai ficar:
— Janaina Paschoal (@JanainaDoBrasil) April 24, 2020
Joice Hasselman, deputada federal, disse que "o Brasil ganha o melhor candidato para a presidência da República" em seu Twitter.
Começa AGORA campanha MORO 2022! Sérgio Moro mostrou sua estatura. É herói nacional. Não se alia a corruptos, não abafa investigações, não negocia com bandidos. O governo perde seu maior ativo moral. Mas o Brasil ganha o melhor candidato para a presidência da República. #Moro2022
— Joice Hasselmann (@joicehasselmann) April 24, 2020
O cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), chamou Bolsonaro de líder disfuncional, "que age contra os interesses daqueles que o elegeram", disse em uma live organizada nesta tarde pela XP. Para ele, o presidente caminhando para ficar sozinho: "Daqui a pouco ele vai gritar 'não me deixem só'", em referência à histórica frase proferida pelo ex-presidente Fernando Collor quando viu que estava isolado politicamente e prestes a enfrentar o processo de impeachment.
(Com informações de Estadão Conteúdo)
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