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"Vou de Bolsonaro", diz dono da Centauro

"Um capitão chegar à presidência é a mesma coisa que, na ótica civil, o torneiro mecânico chegar lá"

Sebastião Bomfim Filho, fundador e presidente da Centauro.  (Germano Lüders/Exame)

Sebastião Bomfim Filho, fundador e presidente da Centauro. (Germano Lüders/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de agosto de 2018 às 10h24.

São Paulo - O mineiro Sebastião Bomfim Filho acha que é melhor seus amigos de golfe já irem se acostumando: "Em outubro, vou de Bolsonaro. Está decidido", afirma. Dono da rede de artigos esportivos Centauro, uma das maiores varejistas do País, o empresário de 65 anos enxerga no deputado do PSL a chance de romper com "o modelo que está aí", que é refém do presidencialismo de coalizão e de um Estado que alimenta privilégios.

"Sem dúvida nenhuma vou sofrer discriminação. Levarei pedrada, mas paciência", diz, resoluto. Os petardos virão de seus pares da elite paulistana, aposta Bomfim, que recebeu a reportagem para uma entrevista em sua casa no bairro Cidade Jardim, em São Paulo.

Há cerca de um mês, ele compartilhou com amigos pelo WhatsApp um desabafo que terminava com a indicação de voto em Jair Bolsonaro. A maior parte deles torceu o nariz. "Estou em São Paulo. A elite aqui vota no Alckmin", diz o empresário que, na eleição passada, deu seu voto ao PSDB do senador Aécio Neves.

Nada contra o ex-governador de São Paulo, que "foi um bom gestor", diz. Mas Geraldo Alckmin deixou-se seduzir pela velha política ao firmar acordo com o centrão (bloco formado por DEM, PP, PRB, PR e SD). E uma das coisas que Bomfim mais desgosta nessa vida é o tal do centrão. "O que eu não quero é o presidencialismo de coalizão. Quero menos ainda um petismo. E menos ainda uma ditadura."

Por fidelidade à lista de vetos, quase abandonou Bolsonaro. Tomou um susto com o anúncio do General Hamilton Mourão (PRTB) como candidato a vice na chapa de Jair. "Veio aquele barulho de coturno, de caserna. Virou uma chapa militar. Vivenciei a ditadura. Não dá. Claro que eu desisti", diz.

Segundo ele, diante do alto índice de vice-presidentes que acabam assumindo o comando do País, o movimento não podia ser ignorado. "Seria uma sinalização muito ruim para a geração de minhas filhas (se Mourão assumisse), de que precisou vir de novo um general para dar conta. Não gosto dessa perspectiva histórica", afirma.

O desencanto, porém, durou pouco. Bomfim conheceu o ex-capitão e gostou do que ouviu. "Tive uma reunião face to face com Bolsonaro e vi um cara com posições fantásticas", diz o empresário, que perdeu o medo diante de um candidato risonho e que pediu "apenas ideias" como contribuição de campanha. "Estava com receio de voltarmos a perder a democracia. Mas tive muita segurança de que isso não vai acontecer", afirma.

Bomfim admite que Bolsonaro não tem preparo adequado para o cargo, mas isso não o incomoda. "Vi muita sinceridade de um cara que quer quebrar esse presidencialismo de coalizão", diz. "Já colocamos nas últimas quatro eleições dois presidentes que nunca administraram nada", afirma, referindo-se aos ex-presidentes petistas Lula e Dilma Rousseff.

Bolsonaro ainda tem "fé tênue" no liberalismo econômico, diz Bomfim, mas sua "confiança cega" no economista Paulo Guedes, sócio da Bozano Investimentos e coordenador do programa econômico do deputado, acalma o espírito empresarial do dono da Centauro, cuja rede deve faturar cerca de R$ 2,7 bilhões neste ano. "Bolsonaro tem a sinceridade e a humildade de reconhecer suas deficiências e isso conta muito."

Percurso

A declaração pública de voto de Bomfim não é fortuita. Ele faz parte de um grupo de empresários que têm adotado nova postura em relação à política, buscando se engajar e encontrar formas de influenciar nas eleições. "Não podemos ter medo de retaliação por colocar nossas posições. Os empresários vão ficar só pagando a conta?", diz.

Bomfim decidiu que não. Em 2017, quando acalentava o sonho de ter o amigo João Doria como candidato tucano à presidência, organizou um jantar em sua casa para aproximar o então prefeito de celebridades como Cláudia Raia, Latino e Márcio Garcia. Meses depois, porém, Doria saiu do páreo e decidiu disputar o governo paulista.

Bomfim lançou-se então em empreitada mais direta: ajudar o também empresário do varejo Flávio Rocha, da Riachuelo, a viabilizar sua candidatura presidencial pelo PRB. Virou coordenador da campanha, que teve vida curta. "Sou o Mick Jagger da política", diverte-se, referindo-se à fama de pé frio do cantor da banda Rolling Stones.

O nome de Bolsonaro veio por eliminação. Foram cortados: Marina Silva ("tem essência de esquerda"), Alckmin ("aderiu a tudo que sou contra"), João Amoêdo ("não gosto do modelo do Novo").

Entre o deputado e Álvaro Dias, Bomfim resolveu ficar com quem tem mais chance de vencer. "Ele é um fenômeno eleitoral. Um capitão chegar à presidência é a mesma coisa que, na ótica civil, o torneiro mecânico chegar lá".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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