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Volta do Exército expõe força do Sindicato do Crime no RN

Nem duas operações e a transferência de membros para presídios federais representaram abalo significativo à estrutura da organização

Penitenciária de Alcaçuz no Rio Grande do Norte: após rebeliões, foram registrados ataques do SDC (Reuters)

Penitenciária de Alcaçuz no Rio Grande do Norte: após rebeliões, foram registrados ataques do SDC (Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 22 de janeiro de 2017 às 10h48.

Última atualização em 22 de janeiro de 2017 às 10h50.

Natal - O assessor de relações institucionais da 7ª Brigada de Infantaria Motorizada do Exército, em Natal, coronel Erland Mota, dava as primeiras informações, anteontem, sobre a atuação das Forças Armadas na cidade, enquanto tentava resumir: "Olha, vai funcionar exatamente como da outra vez, em agosto". Como naquela ocasião, a articulação nas ruas da facção Sindicato do Crime (SDC) forçou a volta dos homens de farda camuflada ao patrulhamento da capital.

Reagindo a uma transferência de 220 integrantes, após a chacina de 26 presos na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Grande Natal, o SDC deflagrou ataques pela capital e dez cidades do interior, com ônibus queimados e bases da polícia alvejadas, e voltou a demonstrar força, mesmo acuado pelos rivais do Primeiro Comando da Capital (PCC), responsáveis pelo massacre dentro do presídio.

Mesmo com o reforço do Exército nas ruas, um carro foi incendiado na madrugada de sexta, no bairro de Felipe Camarão, zona oeste. Ninguém foi preso. Em negociação com órgãos de segurança, empresas e funcionários do transporte público haviam se comprometido a voltar a circular, mas com a frota reduzida.

Nem duas operações, deflagradas pela polícia e pelo Ministério Público no ano passado, com a transferência de membros para presídios federais, representaram abalo significativo à estrutura da organização. Especialistas veem esse fator com preocupação, uma vez que o cenário de insegurança pode repetir-se mesmo com o eventual controle de Alcaçuz, rebelada desde a semana passada.

Mensagens

Do celular apreendido em agosto de 2016 de João Maria dos Santos de Oliveira, o João Mago, apontado como integrante da cúpula da facção, foi identificado que o modo de agir é o mesmo de agora. Mensagens anexadas à denúncia criminal mostram a comunicação dele com um preso, em que diz: "Parceiro, usa a estratégia. Não fica mandando ódio, não, dizendo que vai fazer as coisas porque eles já ficam esperando. "Tem de chegar e fazer. E tem de ser só órgão público".

As mensagens mostram ainda a articulação para aquisição de material incendiário, munições e o planejamento detalhado dos pontos a serem atacados. Oliveira foi transferido para presídio federal em agosto. Segundo a Polícia Civil potiguar, as investigações relativas aos ataques mais recentes já mostraram a difusão de ordens tomadas a partir da transferência de presos em Alcaçuz.

Na quarta-feira, em Parelhas, a cerca de 250 quilômetros da capital, três homens foram presos após atacar um veículo de transporte público. Os investigadores encontraram ordens de ataque ao Centro de Detenção Provisória e à delegacia móvel. Na sexta, o irmão de um detento foi preso após incendiar um ônibus em São Paulo do Potengi, a 90 km de Natal.

O ex-secretário nacional de Segurança Ricardo Balestreri questiona a efetividade do reforço militar e das políticas do Estado na área. "São soluções desesperadas para momentos desesperadores. Mas já tivemos essa mesma intervenção em agosto e estamos tendo agora diante de um fenômeno similar. Quantos meses mais vamos suportar até o Exército voltar de novo para as ruas de Natal?"

Ele explica que o Rio Grande do Norte se assemelha a outros Estados na precariedade do sistema prisional, mas se mostra especialmente ineficaz na contenção desses distúrbios. "Aqui, se está tomando a dianteira no sentimento de impotência da população e no desespero do governo. A gestão bate cabeça e parece não encontrar saída", disse.

Balestreri, que acompanhou de perto a apresentação dos projetos do governador Robinson Faria (PSD) no início da gestão, disse estar decepcionado com a pouca evolução notada. "Aqui, se faz mais do mesmo em nome de um conservadorismo. O governador foi conhecer algumas experiências bem-sucedidas de polícia comunitária, por exemplo, mas acabou não implementando. Os sonhos foram ficando pelo caminho", afirmou.

Força

O Sindicato do Crime formalizou a fundação em 27 de março de 2013, conforme seu estatuto, cujas cópias foram apreendidas em operações policiais. O conteúdo se assemelha a facções como o PCC e, sob o lema de "paz, liberdade, igualdade e justiça", prevê disciplina à "família", pagamentos mensais para o caixa da organização, "guerra contra os grupos de extermínio" e proibição de uso de crack.

Teria sido o preço mais alto das "mensalidades" pagas pelos integrantes do grupo que levou ao racha com o PCC. Os potiguares, que cobram R$ 100 de quem está preso e R$ 200 de integrantes soltos, reclamavam que as ordens dos paulistas contra os inadimplentes eram excessivamente severas. Para não responder também a outros Estados, ousaram desafiar a então hegemônica facção paulista. "As agressões, expulsões e mortes dentro dos pavilhões e seguir cegamente as ordens de São Paulo fizeram muitos membros do PCC abandonar a facção e passar para o Sindicato", descreve o Ministério Público em uma das denúncias oferecidas contra o grupo.

Na linha de comando, que é também tradicional no grupo paulistas, a facção potiguar adota regionalismos para classificar como "vaqueiro" o traficante preso que recruta olheiros e "aviões" para a operação da aquisição e transporte da droga, assim como para designar aquele que está na linha de frente, praticando assaltos para o caixa da organização. As transferências para presídios federais forçaram mudanças no conselho da facção, mas não interromperam a atuação do grupo no crime. Descrevem os promotores que a comunicação da cúpula com os que ficaram no Estado é feita pelas "cunhadas" - nome dado a mulheres de membros da facção -, que passaram a acompanhar o andamento dos negócios. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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