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Viagem de Lula à China define novos rumos da política externa

A aposta da diplomacia brasileira agora é retomar protagonismo em fóruns internacionais e alavancar os Brics

Luiz Inácio Lula da Silva acelerou os preparativos para desembarcar em março na China (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Luiz Inácio Lula da Silva acelerou os preparativos para desembarcar em março na China (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 19 de fevereiro de 2023 às 09h19.

Depois do encontro com Joe Biden em Washington, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acelerou os preparativos para desembarcar em março na China. A viagem ao principal parceiro comercial do Brasil expõe de forma acentuada a mudança de rota da política externa, marcada nos últimos anos pelos atritos e provocações do governo de Jair Bolsonaro (PL) com os chineses.

A aposta da diplomacia brasileira agora é retomar protagonismo em fóruns internacionais e alavancar os Brics, bloco que inclui também a Rússia, a Índia e a África do Sul. A ida de Lula a Pequim é tratada no Itamaraty como "senso de prioridade" e dá sequência a um roteiro eminentemente político nos Estados Unidos e mesmo na Argentina e Uruguai.

Pela distância do deslocamento, a expectativa é de que Lula fique quatro dias na China. A viagem está prevista para a última semana de março. As atividades principais com o líder chinês, Xi Jinping, devem se concentrar no dia 28.

Os diplomatas dos dois países discutem a programação da viagem no momento da escalada de tensões entre China e Estados Unidos, que vão das disputas comerciais à geopolítica, passando pela questão de Taiwan e pela recente guerra de narrativas sobre os "balões-espiões". O Brasil não quer ser envolvido no caso. A impressão de diplomatas, brasileiros e americanos, é a de que se trata apenas de uma questão bilateral. De qualquer forma, a diplomacia de Biden acompanha a visita de Lula, dado o avanço da presença chinesa na América Latina.

Relação

Lula visitou a China em 2004, 2008 e 2009. Desde que as relações diplomáticas foram estabelecidas, em 1974, outros seis presidentes brasileiros pisaram no país: João Figueiredo, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. O momento-chave dos preparativos da viagem de março será um encontro entre o chanceler Mauro Vieira e seu homólogo chinês, Wang Yi, em Nova Délhi, no fim deste mês, à margem da reunião do G-20, presidido pela Índia. Esses diálogos costumam acertar os detalhes finais da visita.

Na avaliação de um embaixador envolvido nos preparativos da ida a Pequim, o que definiu a visita do presidente brasileiro aos Estados Unidos, de caráter mais político, foi a defesa da "democracia". Já na China, a expectativa é ir além da discussão política. O tema estará presente na defesa da reforma de fóruns multilaterais, como o Conselho de Segurança da ONU, mas também nas conversas para discussão ampliada sobre a guerra na Ucrânia. Lula tem dito que deseja trazer os chineses à mesa. Ele considera a China ator essencial no esforço para sensibilizar a Rússia e chegar a um acordo de paz.

Apesar de ter visitado Pequim, Bolsonaro fomentou crises com representantes chineses, protagonizadas por seus filhos e ministros. A própria diplomacia presidencial foi abalada, com visita anterior de Bolsonaro a Taiwan, ainda na campanha eleitoral de 2018, e as acusações de que os chineses desejavam "comprar o Brasil". A ilha é considerada um território "rebelde" que Pequim deseja anexar. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chegou a responsabilizar a China pela pandemia.

A ida à China nos primeiros meses de mandato de Lula vinha sendo preparada pela equipe do petista desde a transição. Na ocasião, o grupo das relações exteriores sugeriu os preparativos para que ocorresse durante os primeiros cem dias de governo. No diagnóstico da equipe, até então sigiloso, o movimento de afastamento político da China verificado na era Bolsonaro foi "fundado por motivações ideológicas" e a cooperação deve ser retomada com base nos interesses concretos em comum.

O relatório obtido pelo Estadão destaca que o governo Bolsonaro, "ao hostilizar ostensivamente a China, criou constrangimentos desnecessários com nosso principal parceiro comercial e país produtor de produtos hospitalares essenciais, vacinas e seus insumos básicos". Entre os objetivos traçados estão retomar a cooperação em ciência, tecnologia e inovação, como inteligência artificial e biotecnologia, e o apoio a iniciativas conjuntas de produção de imunizantes, medicamentos e insumos farmacêuticos em geral.

Embora não tenha comparecido à posse de Lula, Xi Jinping mandou sinais de bom relacionamento: escreveu uma carta ao petista e despachou para Brasília o vice-presidente Wang Qishan. Ele também se reuniu na ocasião com o vice-presidente Geral Alckmin e o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS).

A expectativa do setor privado é de que a viagem à China tenha viés comercial mais forte, favoreça a abertura de mercados no agronegócio e destrave discussões que dependem da interação entre governos. Em janeiro, por exemplo, Pequim anunciou que três frigoríficos brasileiros foram reabilitados para exportação.

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