Vereadores de São Paulo: dois parlamentares da lista dos mais ricos, inclusive, estão entre os que propuseram o aumento (Divulgação/Câmara Municipal)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de dezembro de 2016 às 10h05.
São Paulo - Os 30 vereadores que votaram a favor do aumento de 26,3% de seus próprios salários têm juntos R$ 46 milhões em patrimônio pessoal - uma média de R$ 1,5 milhão para cada.
Considerando todos os parlamentares que aprovaram o reajuste, a soma do investimento nas respectivas campanhas eleitorais, com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), chega a R$ 11,5 milhões. Dos 30, porém, nove não obtiveram sucesso nas urnas e estão como suplentes.
Para os paulistanos, chegaria a R$ 2,1 milhões por ano o custo por vereador da capital, considerando o reajuste salarial, a verba de gabinete e outros benefícios - que ainda podem ser reajustados em 2017.
Dois dos mais ricos parlamentares de São Paulo assinam o projeto, que foi aprovado na semana passada em menos de cinco minutos.
São eles: Adilson Amadeu (PTB), com R$ 8,5 milhões de patrimônio declarado na eleição deste ano; e Milton Leite (DEM), que soma R$ 2,8 milhões. Eles investiram R$ 2,6 milhões para se reeleger.
Neste domingo, 25, a Justiça derrubou o reajuste por liminar, atendendo ação popular. O juiz Alberto Alonso Muñoz, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), determinou a manutenção do valor atual.
Eleitores revoltados, que nos últimos dias encheram os perfis dos vereadores no Facebook com críticas, festejaram a decisão. A Presidência da Casa diz que vai recorrer. A Ordem dos Advogados do Brasil estuda entrar com ação para também barrar o reajuste.
No dia 20, os vereadores haviam aprovado o aumento dos próprios salários em 26,3%, para R$ 18.991,68, a partir de janeiro, quando começa a nova legislatura. Os parlamentares recebem atualmente R$ 15.031,76.
Dos 30 que votaram a favor do aumento do próprio salário, 13 são milionários. Vereador desde 2004, o despachante e empresário Adilson Amadeu vai para o quarto mandato e é hoje o parlamentar mais rico do grupo.
O segundo mais abastado é Wadih Mutran (PDT), com R$ 4,7 milhões, e o terceiro é Gilson Barreto (PSDB), com R$ 3,1 milhões.
Somente o patrimônio declarado de Amadeu - R$ 8,5 milhões - supera a soma de recursos declarados de todos os 17 vereadores que não estão entre os milionários.
Na lista de bens, o petebista tem seis apartamentos - um deles, localizado em Santana, é avaliado em R$ 2,8 milhões. Há ainda outros quatro imóveis na relação.
Amadeu diz que seu patrimônio "é muito pouco" e "deveria ser muito maior". Segundo ele, a verba de gabinete é "gasta mesmo", mas em ações para seus eleitores.
"Tive funcionários na empresa que levaram meu patrimônio. Deveria ter muito mais. É muito pouco isso", afirma. "Quem trabalha 55 anos registrado tem o direito de ter patrimônio. Melhor ter patrimônio declarado e pagar do que fazer as coisas às escondidas."
Já o vereador Milton Leite (DEM) destaca que deixou de gastar R$ 158 mil da verba disponível para seu gabinete, economizando três vezes o que receberá a mais de salário em todo o ano que vem (R$ 47 mil) se o aumento entrar em vigor.
"Apesar de ter direito a gastar mais, não gastei. Fiz a minha lição de casa. Você quer falar do salário, mas a sociedade não quer falar só sobre o salário. A sociedade está perguntando o seguinte: o que os vereadores gastaram em 2016, em um ano de crise, que já poderiam e deveriam ter economizado?"
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.