Venezuela: muitos venezuelanos têm entrado no Brasil fugindo da crise política e econômica do país (Edgard Garrido/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 18 de abril de 2017 às 17h48.
A grande quantidade de venezuelanos que entra no Brasil fugindo da crise política e econômica do país vizinho tem impactado os serviços de saúde em Roraima, segundo relatório divulgado hoje (18) pela organização não governamental (ONG) Human Rights Watch.
A partir de dados oficiais, a organização caculou que 12 mil pessoas vindas da Venezuela entraram no país desde 2014, sendo que 7,1 mil somente nos 11 primeiros meses de 2016.
Nos principais hospitais de Roraima, o documento indica que é cada vez maior o número de pacientes vindos do país vizinho.
No hospital de Pacaraima, cidade fronteiriça, as informações coletadas pela ONG apontam que 80% dos atendidos são venezuelanos.
"Alguns insumos médicos essenciais, como gaze, soros intravenosos, seringas e medicamentos básicos, como paracetamol para crianças, estão com estoque criticamente baixo", diz o estudo.
A busca por atendimento médico é justamente uma das razões apontadas por grande parte dos 65 venezuelanos entrevistados para vir para o Brasil.
No Hospital Geral de Roraima, na capital Boa Vista, principal equipamento de saúde do estado, foram atendidos 7,6 mil venezuelanos de janiero a dezembro de 2016.
"Profissionais de saúde brasileiros afirmaram que os venezuelanos costumam chegar aos hospitais em condições mais graves do que os brasileiros, já que não receberam o tratamento adequado no país de origem", enfatiza o documento sobre as complicações decorrentes de doenças como HIV, tuberculose e malária.
O índice de hospitalização dos brasileiros recebidos no hospital geral é de 7%, enquanto o percentual chega a 20% entre os venezuelanos.
Outros países da região também têm registrado um aumento significativo de imigrantes da Venezuela.
Na Argentina, o número de concessões de residência temporária para venezuelanos aumentou de 1.777, em 2014, para 4.707, em 2015. No Chile, foram concedidos 1.463 vistos em 2013 e 8.381 em 2015. No Peru, foram registrados 180 venezuelanos em 2013, 1.445 em 2015 e 1.543 em 2016.
Além do crescimento das entradas no Brasil, subiu expressivamente o número de pedidos de refúgio para venezuelanos, chegando a 2.595 nos 11 primeiros meses de 2016, contra 54 em 2013.
A Human Rights defende que o governo da Venezuela, comandado por Nicolas Maduro, reconheça a situação de crise humanitária e aceita ajuda internacional.
"Primeiro, um reconhecimento que ele está vivenciando uma crise de forma transparente abre o país para ajuda humanitária internacional, de agências da própria ONU [Organização das Nações Unidas]", destacou a diretora da ONG no Brasil, Maria Laura Canineu.
De acordo com o pesquisador da organização, César Muñoz, que conduziu o trabalho em campo, apesar do desabastecimento de remédios e alimentos no país vizinho, os entraves burocráticos ainda dificultam a chegada desses produtos. "É difícil para qualquer um enviar medicamentos para a Venezuela.
Todos nós sabemos da situação dramática dentro da Venezuela e ainda assim os obstáculos burocráticos são enormes", acrescentou.
Para Maria Laura, o Brasil e outros países devem fazer pressão para que a Venezuela aceite ajuda internacional de modo a minimizar o impacto dos problemas econômicos e da crise política sobre a população.
"A única maneir de resolver o problema é ter uma pressão internacional. Já houve indícios de que a pressão internacional pode minimizar os prejuízos à população dentro da Venezuela, que está sofrendo desde o início dessa crise",