Brasil

Uma em cada quatro pessoas defende direito a aborto, diz pesquisa

Pesquisa também mostra que pelo menos 45% dos brasileiros acima de 16 anos conhecem alguma mulher que já tenha interrompido a gestação

Aborto: metade dos entrevistados acredita que a mulher que pratica o aborto deva ir para a cadeia (foto/Thinkstock)

Aborto: metade dos entrevistados acredita que a mulher que pratica o aborto deva ir para a cadeia (foto/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de dezembro de 2017 às 11h55.

Brasília - Pesquisa encomendada pelo Instituto Patrícia Galvão mostra que, embora o aborto seja proibido no País, pelo menos 45% dos brasileiros acima de 16 anos conhecem alguma mulher que já tenha interrompido a gestação.

Dos entrevistados, somente 26% dizem ser favoráveis a que mulheres possam decidir sobre não levar adiante a gravidez, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.

Conduzido pelo Instituto Locomotiva de Pesquisa, o trabalho foi realizado em 12 regiões metropolitanas, que concentram cerca de 80% da população brasileira.

O levantamento, com 1,6 mil pessoas ouvidas, é divulgado no momento em que a Câmara dos Deputados discute a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 181, que, se aprovada, pode levar à proibição toda as forma de aborto no Brasil, incluindo hipóteses hoje consideradas livres de punição.

Entre as pessoas ouvidas, 10% não são contrários nem favoráveis ao direito de a mulher decidir sobre interromper a gestação. Outros 62% se manifestaram contrários e 2% não sabem responder.

Metade acredita que a mulher que pratica o aborto deva ir para a cadeia. Mas o cenário muda quando o problema envolve um conhecido.

"Quando se humaniza o tema, os números são outros", afirma a diretora de pesquisas do Instituto Locomotiva Maíra Saruê Machado.

Questionados sobre qual medida tomariam ao ver alguém próximo fazer aborto, apenas 7% afirmaram que chamariam a polícia. Dos ouvidos, 47% não fariam nada; 12% dariam apoio e 19% brigariam com a mulher.

"Mostra falta de traquejo da sociedade, o quanto é difícil de as pessoas verem o real impacto da questão", avalia a médica Ana Teresa Derraik, diretora do Hospital da Mulher Heloneida Stuart, do Rio. Para ela, os dados ainda comprovam que a clandestinidade não impede altos índices de aborto.

"Todos conhecem alguém que fez", diz. "E todos estão sujeitos a ter alguém próximo que se vê diante de uma gravidez indesejada."

Dados do Ministério da Saúde revelados pelo jornal mostram que o País registra uma média de quatro mortes por dia de mulheres que buscam socorro nos hospitais por complicações do aborto. Segundo estimativas, cerca de 700 mil mulheres interrompem a gravidez por ano no Brasil.

"Se o acesso fosse permitido, não apenas as complicações seriam menores quanto haveria um número menor de abortos", diz Ana Teresa.

Discordância

Já a presidente do Movimento Brasil Sem Aborto, Lenise Garcia, afirma que os números de aborto são superestimados. "E isso fica claro quando se vê experiências de países que liberaram a prática", aponta ela, que não ficou surpresa também com os resultados da pesquisa.

Para Lenise, o fato de a população conhecer alguém que já abortou, condenar em tese, mas dizer que se fosse alguém próximo não faria denúncia se repete com outros delitos.

"É o caso de drogas. Todos dizem ser contrários. Mas quando é alguém da família, um conhecido, há tendência de se acobertar", afirma.

"O fato de ser considerado crime é essencial. Com o aborto está se tirando uma vida. Além disso, a eventual liberação acabaria levando a atitudes mais irresponsáveis, o que poderia aumentar o número de gestações", completa Lenise.

Acompanhe tudo sobre:AbortoGravidez

Mais de Brasil

Governadores do Sul e do Sudeste criticam PEC da Segurança Pública proposta por governo Lula

Leilão de concessão da Nova Raposo recebe quatro propostas

Reeleito em BH, Fuad Noman está internado após sentir fortes dores nas pernas

CNU divulga hoje notas de candidatos reintegrados ao concurso