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Três grandes questões sobre a privatização do saneamento

Aprovação do novo marco legal reacende a discussão sobre pontos relevantes para um serviço que pressupõe o monopólio do operador

Saneamento: lei permite que os municípios brasileiros possam estabelecer contratos de concessão (Buda Mendes/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 25 de junho de 2020 às 13h34.

Última atualização em 25 de junho de 2020 às 13h56.

O Senado aprovou na noite desta quarta-feira o novo marco regulatório do saneamento básico , reacendendo debates antigos sobre a privatização do serviço.

A lei aprovada no Senado propõe que os municípios brasileiros possam estabelecer contratos de concessão com companhias privadas para o saneamento, que hoje, de modo geral, está sob cuidado das companhias públicas estaduais, que assinam contratos de programa com os municípios.

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Pela nova lei, todos os municípios precisarão estabelecer metas de ampliação do serviço. E os contratos entre prefeituras e as companhias de saneamento básico terão de apresentar indicadores de objetivos de curto, médio e longo prazos. A renovação será condicionada ao atingimento de metas — como a distribuição de água para 90% da população e acesso a esgoto tratado para 60% dos moradores. O instituto Trata Brasil calcula que o país receba investimentos de 80 bilhões de reais por ano com o aumento da cobertura do serviço.

A nova lei oferece segurança jurídica para os investidores e é uma possibilidade histórica de tirar o Brasil do século 19 em matéria de saneamento. Mas o aumento da participação da iniciativa privada reacende uma série de dilemas e debates sobres os investimentos neste setor. A EXAME separou três deles.

O risco de cidades menores

Cidades grandes tendem a atrair mais investidores. Por isso, a lei prevê que municípios com menos de 100.000 habitantes podem formar consórcios para lançar licitações. Ainda assim, a atratividade é uma dúvida. Cidades menores, agrupadas em bloco, podem atrair operadores menos preparados para executar os serviços. Operações menos eficientes podem deixar a população sujeita a tarifas maiores do que as praticadas atualmente. Organização e regulação podem evitar esse problema — mas podem também afastar os operadores das regiões mais carentes de água e esgoto, travando a meta de universalização do serviço no Brasil.

O dilema do monopólio

Especialistas em saneamento alertam para um risco inerente ao serviço: ele é operado por monopólio. O consumidor não pode escolher de onde vem a água na hora de abrir a torneira, nem para qual operador vai seu esgoto. Grandes cidades mundo afora, como Berlim, Buenos Aires ou Paris já cederam seus serviços para a iniciativa privada, e depois voltaram atrás. O Brasil, com um histórico de ineficiência no controle público sobre serviços privados corre risco potencialmente ainda maior.

A redução da ineficiência

Outro tema apontado por especialistas em serviços públicos é a importância de contratos bem amarrados para permitir um equilíbrio difícil: os operadores devem cobrar tarifas competitivas mas que os permitam lucrar e reinvestir. O Brasil tem cerca de 39% de perdas de água na distribuição de água, o que resulta em perdas de até 11 bilhões de reais ao ano. O índice está acima do de países menos desenvolvidos, como Uganda (33%) e Bangladesh (22%).

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