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Transporte público tem mais influência nas mortes por covid-19 em SP

Pesquisa da Unifesp sobre São Paulo revela que há uma relação entre bairros com maior número de usuários de transporte coletivo e mortes por covid-19

(Roberto Parizotti/Fotos Públicas)
CC

Clara Cerioni

Publicado em 10 de agosto de 2020 às 18h43.

Usar transporte público, trabalhar como profissional autônomo e ser dona de casa: essas são as três variáveis que mais influenciam as mortes pelo novo coronavírus na cidade de São Paulo, segundo revela uma nova pesquisa da Universidade Federal de São Paulo ( Unifesp ).

Conduzido pelo professor Anderson Kazuo Nakano, do Instituto das Cidades da universidade, o levantamento cruzou dados da Pesquisa Origem-Destino 2017 com do Sistema de Informações sobre Mortalidade da Secretaria Municipal de Saúde da prefeitura da capital.

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Por meio de uma fórmula estatística, os pesquisadores buscaram identificar a relação de influência entre as mortes por covid-19 nos 96 municípios da capital com as variáveis da pesquisa (modos de viagem, vínculos empregatícios e condições de trabalho). Assim, foi elaborado um coeficiente, chamado de R², que varia de 0 a 1.

Quando o resultado do R² está mais próximo de 1 significa que há uma maior influência dessa variável no número de óbitos por covid-19 nos bairros da capital. O inverso, quando o R² está mais próximo de 0, é porque há uma menor influência da variável nas mortes em decorrência da doença.

"Rodando esse modelo estatístico, vemos que a variável 'número de viagens por transporte coletivo' está em 0,808, um valor alto. Isso quer dizer que, nos bairros com maior número de usuários de transporte público, 80% dos óbitos pela covid-19 podem ser explicados por conta da necessidade de deslocamento de ônibus, trem e metrô", diz o professor Kazuo Nakano.

Já o resultado do coeficiente de deslocamento a pé, que surpreendeu o pesquisador, também tem alta correlação (0,7897) nos bairros da capital com maior registro desse tipo de prática e óbitos por covid-19. "Esse resultado significa que as pessoas estão circulando em seus bairros e as medidas para contenção da doença não tem sido eficaz", afirma.

Os resultados mostram que dos dez bairros da capital com mais mortes pela doença, nove também lideram no número de viagens por transporte público, segundo levantamento da Folha de S.Paulo. É o caso do Grajaú, bairro no extremo sul da capital, que é o que mais faz viagens de coletivo por dia (384 mil) e o terceiro em número de mortos pela doença (360 vítimas).

Ao contrário desses dois meios de transporte, o coeficiente de influência nas mortes por covid-19 nos bairros com maiores usuários de automóveis é baixo, de 0,3901. Perdizes, que lidera os índices de maiores viagens de carro, está em 63ª posição de mortes por covid-19 dos 96 bairros.

No caso bairros com maior número de trabalhadores autônomos, que incluem diaristas, camelôs e vendedores de rua, a relação com mortes por covid-19 é de 0,7905. Ao passo que regiões com mais empregadores, a relação é quase mínima: 0,0079.

Veja a seguir quanto cada variável pode interferir no número de mortes pelo coronavírus nos bairros da capital de São Paulo:

Para Kazuo Nakano, no caso das donas de casa, cuja relação do R² é de 0,7877, há duas hipóteses para a alta influência: a primeira é que, apesar de estarem em casa, essas pessoas seguem fazendo viagens curtas no comércio local, contraindo a doença.

A segunda é que elas também podem fazer parte de famílias que estão usando o transporte coletivo, são autônomos ou trabalham de bico, e na volta para casa, acabam contaminando outros moradores.

"Isso prova que para conter a propagação da covid-19, os gestores públicos precisam desenvolver uma combinação de estratégias, que una condições de moradia, apoio de renda, apoio para trabalhadores, informações para quem está em casa, entre outras", avalia.

Esses dados fazem parte da pesquisa intitulada “Desigualdades e Vulnerabilidades na Epidemia de Covid-19: Monitoramento, Análise e Recomendações”, que ainda vai medir outros impactos da pandemia para moradores da Região Metropolitana de São Paulo, como impactos do distanciamento, do fechamento das escolas, da violência doméstica, entre outros.

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