Carlos Marun: "Se houver imparcialidade, respeito a lei, o presidente será inocentado ao final dessas investigações" (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de março de 2018 às 20h40.
Brasília - O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, tentou minimizar rumores da possibilidade de a Procuradoria-Geral da República apresentar uma terceira denúncia contra o presidente Michel Temer e afirmou que "se existe respeito a Constituição Federal nesse País e entendemos que ainda deve existir, o presidente não será denunciado", disse.
"Não trabalhamos com hipótese de terceira denúncia, até porque ela seria totalmente inconstitucional", afirmou. Marun disse ainda que Temer não tem "nenhuma" preocupação com a possibilidade de seus amigos que foram presos fazerem uma delação premiada. "Ele está absolutamente tranquilo", afirmou.
"O presidente tem um cabedal de realizações que começa a preocupar aqueles que não veem com felicidade que ele fique a frente do governo", disse. Marun, que decidiu vir para Brasília de última hora por conta da crise instalada por conta da Operação Skala, disse que encontrou o presidente até mais tranquilo do que imaginava, mas que obviamente ele não estava feliz com as prisões de hoje. "São pessoas com que ele tem um relacionamento, claro que ele não está feliz", disse.
O ministro - tido como um das tropas de choque do presidente e defensor de sua candidatura à reeleição - disse que a operação de hoje "não inviabiliza a candidatura" de Temer.
"Se houver imparcialidade, respeito a lei, o presidente será inocentado ao final dessas investigações. Agora se busca coisa de 15, 20 anos atrás porque não encontraram no tal inquérito dos portos", afirmou. "Isso pode até ser transformado em um ponto favorável no caso do presidente vir a ser realmente o nosso candidato", completou.
Marun disse ainda que não saberia avaliar quem se beneficiaria com essa crise. "Tem gente que gosta de fazer com que crises venham pra cá. A capacidade de um governo não se encontra na inexistência de problemas, encontra-se na capacidade de superá-los. Já superamos muitos e temos capacidade para superar mais este", admitiu Marun.
O ministro disse que a atitude tomada hoje pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Roberto Barroso, de decretar a prisão de José Yunes, do ex-ministro Wagner Rossi, do coronel Lima, para colher depoimentos é uma "situação que se constitui um absurdo".
"E em muito nos preocupa", disse, após ajustar com o presidente Michel Temer a reação do Planalto à Operação Skala. "Eu estou muito preocupado, independentemente de quem seja o presidente da República, de quem esteja no exercício de funções A ou B, com essa escalada de um autoritarismo inconsequente", afirmou.
Marun afirmou ainda que a Constituição precisa ser respeitada e ressaltou que o presidente não pode ser denunciado por fatos anteriores ao seu mandato. "O Brasil foi sequestrado pelo corporativismo", disse.
O ministro disse que a operação de hoje mostra que há "um complô" e que os "canhões da conspiração" tentam inviabilizar a candidatura do presidente à reeleição, tentou evitar críticas mais duras em direção a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, mesmo tendo ela sido a responsável pelo pedido de prisão a Barroso. "Eu entendo que o MP tem um papel acusador, existe para isso. Na verdade penso que caberia ao judiciário ao que se está posto na nossa Constituição", disse.
Marun disse ainda que é DNA do Ministério Público o viés acusatório, mas disse que a atual procuradora age de forma distinta do ex-PGR Rodrigo Janot, que apresentou duas denúncias contra Temer.
"Ela toma uma decisão a pessoas e fatos anteriores ao decreto. É o DNA do Ministério Público o viés acusatório. Por isso existe Judiciário. E o Judiciário e o MP não podem andar mancomunados. O MP é parte acusatória. Ela atuou e não vejo na doutora Raquel aquele mesmo viés (de Janot) de alguém de dentro do gabinete recebendo dinheiro para orientar gravações", afirmou, em referência ao ex-procurador Marcelo Miller, que auxiliou a delação de Joesley Batista. "Temos a convicção de que a procuradora Raquel tem outro nível e tem responsabilidade".
O ministro criticou as investigações e afirmou que entende que toda essa situação "faz parte de um enredo de um complô". "Tenho absoluta desconfiança de prisões que acontecem na véspera de feriados", afirmou.