Temer: ex-presidente garante que sua prisão não foi uma detenção, mas sim "um sequestro", que o deixou preocupado com o Brasil (Marcelo Chello/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 2 de janeiro de 2020 às 10h06.
São Paulo — O ex-presidente Michel Temer (MDB) revelou que votou no atual presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das últimas eleições, mas apontou que discorda de bandeiras defendidas pelo seu sucessor.
"Votei em quem não falou mal do meu governo", afirmou o ex-presidente em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, publicada nesta quinta-feira (02).
Após um ano de gestão, contudo, Temer avalia que o "estilo combativo" adotado pelo atual presidente causa "uma certa preocupação" no exterior com a segurança jurídica do Brasil.
"As pessoas querem ter certeza que se investirem aqui não terão surpresas. O presidente Bolsonaro diz uma determinada coisa, mas sua ação é diversa", disse, acrescentando que o governo vai indo bem porque está dando sequência ao dele.
"Peguei uma estrada esburacada. O PIB estava negativo 4%. Um ano e sete meses depois o PIB estava positivo 1.1%, além da queda da inflação e da recuperação das estatais. Entreguei uma estrada asfaltada. O governo Bolsonaro, diferente do que é comum em outros governos que invalidam anterior, deu sequência. Bolsonaro está dando sequência ao que eu fiz", afirmou.
Apesar da avaliação positiva, Temer se diz contra o excludente de ilicitude defendido por Bolsonaro. "No autoritarismo se dizia que o medo não era do ministro, mas do guarda da esquina. O excludente de ilicitude pode entusiasmar uma espécie de ação policial".
Oito meses depois de ser preso pela Lava Jato do Rio de Janeiro, acusado de chefiar um esquema de desvio de dinheiro, Temer não está mais vinculado à política e dedica seus dias a escrever um romance de ficção.
Temer garante que sua prisão não foi uma detenção, mas sim "um sequestro", que o deixou preocupado com o Brasil.
"Quando se fala em detenção, se pensa em um processo penal regular. Os autos baixaram do Supremo sem que eu fosse denunciado, ouvido ou indiciado. Os procuradores da República assinaram a representação em grupo. O juiz recebeu e determinou o sequestro. Se viesse alguém na minha casa ou escritório e dissesse que tinha um mandado de prisão, eu ficaria surpreendido mas ia acompanhar. O que fizeram? Primeiro avisaram a imprensa. Eles esperaram eu seguir três ou quatro quadras para depois fazer o espetáculo. Abriram a porta com metralhadora, bazuca, lança-chamas. Me preocupei com o Brasil", disse.