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Tabata Amaral pagou R$ 23 mil ao namorado por 50 dias de trabalho

Daniel Martínez recebeu por trabalho durante a campanha de Tabata, em 2018. A prática não é ilegal, mas a deputada não falou os serviços prestados por ele

Tabata Amaral: guerra com os caciques do PDT (Leonardo Prado/Agência Câmara)

Tabata Amaral: guerra com os caciques do PDT (Leonardo Prado/Agência Câmara)

AJ

André Jankavski

Publicado em 20 de julho de 2019 às 09h00.

Última atualização em 20 de julho de 2019 às 18h40.

São Paulo – Em sua campanha em 2018, a agora deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) empregou o colombiano Daniel Alejandro Martínez por 50 dias e pagou 23.050 de reais pela prestação de serviços de análise estratégica. Até aí, tudo bem. A questão, no entanto, é que Martínez é o namorado de Tabata desde 2016. As informações do pagamento estão na prestação de contas da deputada no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Questionada por EXAME sobre quais serviços foram prestados por Martínez, Tabata Amaral não quis conceder entrevista. E, apesar de ser uma das principais expoentes da nova política, a resposta de sua assessoria de imprensa não foi muito diferente das enviadas pelas equipes de caciques partidários.

“A campanha de Tabata Amaral cumpriu as leis eleitorais na contratação de seus serviços e pessoas. Todas as informações são públicas e estão no portal do TSE. A deputada não vai comentar o assunto”, afirmou, por e-mail, a equipe de comunicação da deputada. EXAME procurou Martínez pelas redes sociais, mas não obteve retorno.

Empregar o namorado durante a campanha não pode ser considerado ilegal, uma vez que, à época, a hoje parlamentar não havia assumido o cargo público.

“Não existe, na teoria, impedimento. Mas como o financiamento é público, com parte do financiamento de campanha vindo de fundo partidário, ela estaria empregando o namorado com dinheiro público”, afirma Bruno Perman, advogado especializado em direito eleitoral da Perman Advogados.

Durante a eleição, Tabata recebeu cerca de 1,3 milhão de reais. O maior doador foi a direção nacional do PDT, que repassou 100 mil reais para a agora deputada. E, segundo a prestação de contas da campanha ao TSE, Martínez recebeu o quarto maior pagamento da campanha dado a pessoas físicas.

Apesar de questionável, a contratação não fere a Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal, que trata dos casos de nepotismo. Segundo a ementa de um julgamento sobre o tema realizado em maio de 2018, a primeira turma do STF “tem afastado a aplicação da Súmula Vinculante a cargos públicos de natureza política, ressalvados os casos de inequívoca falta de razoabilidade, por manifesta ausência de qualificação técnica ou inidoneidade moral.”

Formado em ciências e filosofia com bolsa integral pela Universidade Harvard, Martínez conquistou diversos prêmios durante a sua graduação. É bolsista do programa “Michael C. Rockefeller Fellowship”, um dos mais disputados da universidade americana e, atualmente, está estudando questões ecológicas e econômicas da Amazônia.

Perseguição partidária

Nos últimos dias, a deputada foi afastada do PDT por até 60 dias por seu voto a favor da reforma da Previdência, contrariando o “fechamento de questão” do partido. Devido à sua posição contrária, sofreu diversos ataques da direção e simpatizantes do partido, especialmente do ex-candidato à presidência Ciro Gomes. Em entrevistas, o ex-governador e ex-ministro afirmou que Tabata fazia “dupla militância” e que “ela deveria ter a dignidade de sair do partido”.

EXAME apurou que o clima para a deputada dentro do PDT está longe de ser positivo. A coluna Radar, da revista Veja, afirmou que o presidente do partido, Carlos Lupi, “quer ver a deputada sangrar”. A expulsão, no entanto, está fora de cogitação para o partido não perder o direito de exigir o mandato dela na Justiça Eleitoral.

De fato, Tabata está sendo mais pressionada do que os outros deputados que contrariaram a posição do partido. Da bancada de 27 congressistas, além dela, sete votaram a favor da reforma. As críticas, no entanto, estão sendo direcionadas mais para Tabata.

O deputado Subtenente Gonzaga (PDT-MG) foi um desses congressistas. Ele, no entanto, afirmou que não tem sofrido pressão do partido, apesar de também ter sido afastado. O congressista defende o voto, diz que a sua base eleitoral aprovou a sua posição e não pretende mudar a escolha no segundo turno da votação da reforma da Previdência, que deve ocorrer em agosto.

“Acho que o PDT tem a sua razão, mas acredito que o próprio partido e a bancada obtiveram sucesso nas mudanças. Quem está pagando um preço alto é a Tabata por tudo o que ela representa da renovação política”, diz Gonzaga.

Procurado por EXAME, o presidente do PDT afirmou, por mensagem, que não existe uma perseguição contra a deputada Tabata Amaral.

“Todos estão sendo tratados igualmente e nunca citamos ninguém individualmente. Quem o faz é a mídia em geral. Este assunto está na comissão de ética e temos que aguardar o seu parecer”, afirmou Lupi.

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