Brasil

"Sofro preconceito por ser mulher", afirma Cármen Lúcia

Em seminário realizado no RJ, ministra falou sobre a importância da discussão do tema que aflige as minorias

Cármem Lúcia: "o preconceito continua e o Direito não resolve" (Ueslei Marcelino/Reuters)

Cármem Lúcia: "o preconceito continua e o Direito não resolve" (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de novembro de 2018 às 18h16.

Última atualização em 12 de novembro de 2018 às 18h21.

A ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia falou nesta segunda-feira, 12, no Rio, sobre preconceito que sofreu ao longo da vida e carreira na área jurídica por ser mulher. "O preconceito continua e o Direito não resolve. O que resolve é a sociedade sabendo do preconceito e sabendo como lidar com ele", afirmou, em seminário na Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Preconceito prevalece entre minorias; sofro preconceito por ser mulher", afirmou.

Na opinião de Cármen Lúcia, uma das principais desigualdades no Brasil é a "retratada contra a mulher". Por isso, acredita ser importante a discussão do tema. "Essa é uma construção social da qual estamos distantes. Não é com tempo que chegamos lá. É com esforço de cada brasileiro. Não entrego a responsabilidade à sociedade por isso. Muitas vezes, nos acanhamos", afirmou. 

Ela ainda lembrou que, como presidente do STF, visitou penitenciárias e verificou que a situação das mulheres é muito mais difícil nessas situações do que a dos homens. "A fila de visita a mulheres não tem quase ninguém porque muitas vezes os chefes daquelas famílias proíbem até mesmo as mães de visitarem as filhas. Que sociedade teremos com essa falta de olhar? Que sociedade queremos ter para que a gente mude?", disse, ao acrescentar que o Direito tem que garantir às mulheres "que elas sejam o que querem".

Cármen Lúcia ainda disse que os homens fazem as mulheres felizes mas também dão muitas tristezas. "Eu adoro os homens. Que declaração infeliz... Gosto do ser humano em geral. Homens e mulheres podem se fazer felizes", acrescentou, ao ser perguntada por uma integrante da plateia sobre "dependência afetiva" das mulheres em relação aos homens.

A militância de grupos como mulheres, negros e homossexuais tem sido atacada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e a equipe dele. O futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou em entrevista a um canal de televisão, neste domingo, 11, não ver em Bolsonaro traços de preconceito contra esses grupos.Na palestra, a ex-presidente do STF ainda defendeu a ampla transparência das atividades dos membros de instituições democráticas, sem informar, no entanto, a quais se referia. "O Brasil tem situação em que engole elefante e engasga com a formiga. O Brasil consegue ter um tribunal constitucional que julga em público. Isso não é de menor importância. Quisera eu que essa mesma discussão democrática estivesse em todas as instâncias democráticas no Brasil. Seria positivo para as minorias", disse.

Acompanhe tudo sobre:Cármen LúciaMulheresPreconceitosSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP

Governos preparam contratos de PPPs para enfrentar eventos climáticos extremos

Há espaço na política para uma mulher de voz mansa e que leva as coisas a sério, diz Tabata Amaral

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdemar