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Sob panelaço, Bolsonaro cita vacinas, PIB e recorde na bolsa

Presidente falou sobre a evolução da pandemia no Brasil, enfatizando o contrato firmado com a Fiocruz para a fabricação de vacinas em solo brasileiro

Jair Bolsonaro: ao longo do discurso, o presidente não mencionou o uso de máscaras e outras medidas de prevenção a serem tomadas pela população (Alan Santos/PR/Flickr)

Jair Bolsonaro: ao longo do discurso, o presidente não mencionou o uso de máscaras e outras medidas de prevenção a serem tomadas pela população (Alan Santos/PR/Flickr)

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André Martins

Publicado em 2 de junho de 2021 às 20h35.

Última atualização em 4 de junho de 2021 às 15h44.

Em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV nesta quarta-feira, 2, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) destacou o fato do Brasil ter ultrapassado a marca de 100 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 distribuídas, afirmando que o Brasil é um dos cinco países que mais vacinaram no mundo.

O anúncio do presidente e sua postura em relação à vacina representam uma mudança em relação ao que era defendido até o início deste ano, com falas que menosprezavam a necessidade de medidas de contenção da doença.

O presidente também falou sobre a evolução das vacinas no país, destacando o contrato firmado recentemente com a AstraZeneca para a fabricação de vacinas de forma totalmente autônoma e nacional. O acordo entre ambas as entidades foi celebrado na véspera e a previsão é a de que a produção do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) 100% brasileiro comece em junho.

Ainda assim, a fundação reduziu a estimativa de doses disponibilizadas ainda em 2021 em 10 milhões, passando a entregar 100 milhões de doses até o fim do ano, com um possível hiato na produção entre agosto e setembro por causa de doses condicionadas à produção do IFA importado.

Vale lembrar que, antes desse contrato, o governo recusou ofertas da Pfizer para a disponibilidade dos imunizantes no país. De acordo com informações divulgadas pela própria farmacêutica, o Brasil poderia ter 70 milhões de imunizantes disponíveis para aplicação no início de 2021.

Durante sua fala, o presidente foi alvo de panelaços. Os protestos foram registrados em locais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Belo Horizonte e outras capitais. 

O pronunciamento do presidente acontece em seguida a um dos dias mais tensos durante a CPI da covid-19 para a ala governista. Com um depoimento bastante incisivo e bem embasado, a médica Luana Araújo disse falas memoráveis, como "Tratamento precoce é discussão delirante e esdrúxula" e, quando questionada a respeito do tema inúmeras vezes, respondeu em uma delas: "É como se a gente estivesse escolhendo de que borda da terra plana a gente vai pular”, colaborando para desconstruir argumentos de senadores ligados à defesa da cloroquina e de outros medicamentos com ineficácia comprovada no tratamento contra a covid-19. 

Os atos contra o governo realizados no último final de semana em pelo menos 170 cidades brasileiras também se somam à conjuntura de maior preocupação. Além de críticas à condução federal na pandemia, manifestantes pediram a retomada do auxílio emergencial de R$ 600 e a vacinação em massa da população. O País tem, até agora, apenas 21,58% da população vacinada com a primeira dose contra a covid-19.

Segundo a última pesquisa EXAME/IDEIA, a avaliação do governo do presidente está no pior momento desde que assumiu a cadeira presidencial, em janeiro de 2019. Os brasileiros que consideram o governo como ruim ou péssimo somam 50%.

Solidariedade às famílias

Bolsonaro também prestou condolências às famílias das vítimas da covid-19."Sinto profundamente cada vida perdida em nosso país.", afirmou no início do discurso. 

Ao mesmo tempo, Bolsonaro manteve a postura contrária ao isolamento social "O nosso governo não obrigou ninguém a ficar em casa, não fechou o comércio, não fechou igrejas ou escolas e não tirou o sustento de milhões de trabalhadores informais", disse.

Ao longo do discurso, o presidente não mencionou o uso de máscaras e outras medidas de prevenção a serem tomadas pela população.

Auxílio Emergencial e investimentos 

O presidente também ressaltou a nova lei sancionada nesta quarta-feira que torna o Pronampe permanente. O governo já anunciou que pretende direcionar 5 bilhões de reais para bancar garantias do programa neste ano, e que 20% desse valor deve ser direcionado a financiamentos do setor de eventos, particularmente abalado pela crise da pandemia.

O Pronampe foi instituído no ano passado, como medida emergencial de enfrentamento ao impacto econômico da pandemia da covid-19. O programa liberou cerca de 37,5 bilhões de reais em empréstimos, em um total de 517.000 operações.

Em relação ao Auxílio Emergencial, Bolsonaro afirmou: "Destinamos, em 2020, R$ 320 bilhões para atender aos mais humildes."

Bolsonaro destacou também o resultado do PIB do primeiro trimestre deste ano."O PIB projetado para 2021 prevê um crescimento de superior a 4%, só no 1º trimestre deste ano, a economia mostrou seu vigor, estando entre os países do mundo que mais cresceram."

O presidente também reforçou que o governo trabalha em privatizações e que está "avançando" com o Congresso Nacional. Bolsonaro destacou que a Bolsa bateu recordes por dias seguidos e que a moeda brasileira "se fortalece".

Investimentos em infraestrutura, especialmente de internet em regiões de difícil acesso, também foram mencionados. Durante sua fala, também mencionou os resultados da Caixa Econômica Federal, afirmando que passou a dar lucro a partir da gestão executada em seu governo.

Copa América 

Em relação à Copa América, o discurso do presidente teve como objetivo rebater as críticas à realização do campeonato em solo nacional, tendo em vista o avanço da pandemia no país. Bolsonaro afirmou que serão seguidos os mesmo protocolos adotados em outra competições da Conmebol para realização da Copa América no país.

No Brasil, país em que especialistas em saúde ainda recomendam medidas de restrição para conter o avanço da doença e minimizar o risco de novas variantes, o cenário destacado pelo presidente foi diferente. Em declaração nesta terça-feira (1), Bolsonaro confirmou que o Brasil sediaria a competição e anunciou as sedes: "Não tínhamos porque ter qualquer posição contrária". 

A Copa América seria disputada pela primeira vez em sua história em dois países, Argentina e Colômbia, entre 13 de junho e 10 de julho. A Colômbia deixou de ser uma das sedes em 20 de maio, após semanas de protestos contra o governo do presidente Iván Duque. A Argentina desistiu de sediar o campeonato de seleções no domingo, 30, devido à piora da pandemia de covid-19 no país. 

Por fim, Bolsonaro disse que o seu governo "joga dentro das quatro linhas da constituição" e que considera o "direto de ir e vir, o direito ao trabalho e o livre exercício de cultos religiosos inegociáveis", reforçando sua posição contraria as medidas restritivas que visam conter a disseminação do coronavírus.

O último pronunciamento do presidente havia ocorrido em 23 de março, no meio do pico da segunda onda da pandemia de covid-19 no País, e o presidente falou sobre a vacinação da população brasileira. Naquele dia, o Brasil tinha 298.843 mortos. Hoje já são mais de 465 mil.

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