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Servidor da Saúde mostra mensagens de superiores pressionando pela Covaxin

Em depoimento à CPI da Covid, Luis Ricardo e o irmão, deputado Luis Miranda (DEM-DF), mostraram conversas com superiores hierárquicos e auxiliares do presidente Jair Bolsonaro

Servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, presta depoimento à CPI (Jefferson Rudy/Agência Senado)

Servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, presta depoimento à CPI (Jefferson Rudy/Agência Senado)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 25 de junho de 2021 às 18h28.

Última atualização em 25 de junho de 2021 às 20h58.

O servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda apresentou à CPI da Covid, nesta sexta-feira, 25, uma série de mensagens enviadas ao seu irmão, deputado Luis Miranda (DEM-DF), relatando pressões de superiores na pasta pela compra da vacina indiana Covaxin, desde março deste ano. 

“Toda a equipe do setor não se sentiu confortável com essa pressão e com a falta de documentos. Como meus dois superiores estavam pressionando, eu acionei, conversei com meu irmão, que passou ao presidente”, contou Luis Ricardo. O deputado repassou as informações a auxiliares do presidente Jair Bolsonaro, mas nem sempre teve respostas.

O servidor, lotado na área de logística do ministério, é responsável pelas licenças de importação de insumos estratégicos. Em relação à Covaxin, ele conta que houve uma pressão atípica para essa liberação. "Durante toda a execução desse contrato, diversas mensagens recebi, ligações, chamadas no gabinete sobre o status do processo desse contrato", disse.

Luis Ricardo recebia mensagens de superiores cobrando até aos fins de semana e em horários pouco convencionais, à noite. Uma delas foi enviada pelo coronel Marcelo Bento Pires, que trabalhava como assessor da Secretaria-Executiva do ministério, em 19 de março. "Coordenador de Logística. Era o meu chefe superior", disse Luis Ricardo.

Às 22h48, naquela sexta-feira, o coronel compartilhou contato do sócio da Precisa, Emerson Maximiano, e disse que o representante da empresa havia conversado com com o secretário-executivo do ministério, Elcio Franco, na mesma noite, "para agilizar" a liberação das vacinas naquela semana.

No dia seguinte, Luis Ricardo contou ao irmão que recebeu uma ligação na noite anterior. “O assessor do secretário executivo me ligou 22:30 dizendo q cara da empresa estava lá. Muito estranho encontro sexta à noite", disse. "Avisa a PF. Precisamos pegar esses bandidos", respondeu Luis Miranda.

Em áudio enviado a Luis Miranda, o servidor comenta que a pressão era atípica. "Milhões de seringas chegando e nunca recebi uma ligação de ninguém, de empresa, de diretor, assessor, assessor de secretário, ninguém. Já nesse, meu amigo. O que tem gente em cima pressionando e falando. Você já fica com o pé atrás, entendeu?", disse.

Contato com Bolsonaro

Em 20 de março, o deputado enviou mensagem a Diniz Coelho, auxiliar de Bolsonaro, sobre o assunto. “Avise o PR que está rolando um esquema de corrupção pesado na aquisição das vacinas dentro do Min. da Saúde", disse o deputado. "Tenho as provas e as testemunhas", continuou. 

Diniz respondeu com uma bandeira do Brasil, sem falar nada. "Não esquece de avisar o PR. Depois não quero ninguém dizendo que eu implodi a república", escreveu Luis Miranda, que foi respondido novamente com uma bandeira do Brasil.

O servidor mostrou uma conversa com o diretor do departamento de logística, Roberto Ferreira Dias, também em 20 de março. "Como está a LI [licença de importação] da vacina?", perguntou. A mensagem foi enviada Às 20h46 do sábado.

No mesmo dia, os irmãos se encontraram com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e dizem ter alertado o presidente sobre a situação. Miranda disse que, quando foi procurar o presidente para contar sobre as irregularidades, Bolsonaro afirmou que isso era responsabilidade de um parlamentar governista.

O deputado disse não se lembrar qual congressista o presidente havia citado. “O Presidente entendeu a gravidade. Olhando os meus olhos, ele falou: 'Isso é grave'. Não me recordo do nome do parlamentar, mas ele até citou um nome pra mim, dizendo: 'isso é coisa de fulano'. Não me recordo.”

Mais tarde, perguntado sobre o assunto pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Miranda voltou a dizer que não se lembrava do nome do parlamentar, mas informou que ele faz parte da base do governo. "Não lembro exatamente como é a pessoa. Mas, na imagem, você fala o nome e sabe que a pessoa é da base. Mas não me lembro da pessoa, do nome", disse.

Mesmo após a conversa com Bolsonaro, a pressão continuou. Em 21 de maio, Alex Leal Marinho, coordenador do departamento onde trabalha Luis Ricardo, mandou mensagem. "Novidades sobre a Covaxin?", perguntou. No dia 23 de março, foi igual: "Alguma novidade sobre a documentação da Covaxin?", reforçou Marinho.

Em 22  de março, Luis Miranda voltou a falar com Diniz Coelho, auxiliar de Bolsonaro, pelo WhatsApp. "Pelo amor de Deus, Diniz... Isso é muito sério! Meu irmão quer saber do PR como agir", escreveu. Não teve resposta. 

Propina

Luis Ricardo disse ter sido informado que gestores do ministério estavam recebendo propina para assinar contratos de vacinas. "O ministério estava sem vacina. E um colega, Rodrigo, servidor, disse que um rapaz vendia vacina. E esse rapaz disse que alguns gestores estavam recebendo propina. Ele não disse nomes", contou o servidor.

O relator havia sido feito pelo WhastApp ao irmão, Luis Miranda, em 20 de março. "Aquele rapaz que me procurou dizendo que tem vacina. Disse que não assinaram porque os caras cobraram dele propinas para assinar o contrato. Vou perguntar se ele tem provas", escreveu.

 

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