Brasil

Sem enterrar fios, SP tem 1 acidente por dia

O rompimento de parte dos cerca de 17 mil quilômetros de cabos da rede aérea causa praticamente um acidente por dia devido à queda de fios energizados


	Funcionário da manutenção da AES Eletropaulo: em 2014, o Corpo de Bombeiros registrou 351 casos de queda de fios energizados
 (Germano Lüders/EXAME)

Funcionário da manutenção da AES Eletropaulo: em 2014, o Corpo de Bombeiros registrou 351 casos de queda de fios energizados (Germano Lüders/EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de março de 2015 às 10h17.

São Paulo - O rompimento de parte dos cerca de 17 mil quilômetros de cabos da rede aérea de São Paulo causa praticamente um acidente por dia devido à queda de fios energizados.

A lei que prevê obras no subsolo desde 2006 é descumprida, não há prazos e a Prefeitura e a Eletropaulo não se acertam sobre os custos.

Em 2014, o Corpo de Bombeiros registrou 351 casos de queda de fios energizados. O problema fica mais claro após os temporais de verão, normalmente acompanhados de ventos fortes, que causam quedas de árvores sobre a rede e motivam interrupção no fornecimento de energia.

A AES Eletropaulo relata que, entre o fim de dezembro e janeiro, de 489 mil a 612 mil clientes ficaram sem luz. Isso quer dizer, na prática, que até 20 mil endereços por dia ficam "apagados" pelo fato de a fiação não estar enterrada.

"O que a gente vê pendurado nos postes da cidade é uma irresponsabilidade", disse o engenheiro elétrico Peter Alouche, pós-graduado em Sistemas de Potência pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

"No momento, em São Paulo, temos 30 cabos passando em cada poste, em várias camadas. E existe uma moda de deixar novelos de fios pendurados. Esses fios derrubam árvores e matam pessoas eletrocutadas", criticou o diretor do curso de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, Valter Caldana.

O Decreto Municipal 47.817, de 26 de outubro de 2006, estabeleceu o Programa de Enterramento das Redes Aéreas (Pera), determinando que 250 quilômetros lineares fossem enterrados anualmente. Dentro de um período de 24 anos 1/10 do total de fios existente deveria ter sido convertido pelo programa, sem considerar a taxa de crescimento do Município.

Conforme dados da própria Prefeitura, foram executados 250 km de enterramentos entre 2007 e 2013 - ou seja, em sete anos, o que a lei previa para um ano. Além disso, esses números se referem a novos projetos, em que a rede já é construída sob as vias. Assim ocorreu com as Ruas João Cachoeira e Oscar Freire, na zona sul, e José Paulino, na região central.

Em 2013 e 2014 foram enterrados 15 quilômetros - uma velocidade que exigiria mais 2,2 mil anos para que se enterrasse toda a rede paulistana. Em sua defesa, a Prefeitura alega que a Câmara Técnica de Gestão de Redes Aéreas está elaborando o cronograma dos enterramentos com prioridade para corredores de ônibus e convocará as concessionárias e permissionárias para apresentá-lo e definir prioridades.

A Prefeitura alega que a responsabilidade é das concessionárias - assim como a conta. Já a AES Eletropaulo sugere que o poder público financie 70% das obras. Uma das alegações é de que somente 30% da tarefa é de sua responsabilidade - envolvendo fios e instalação.

O restante é obra civil, que deve ficar a cargo da municipalidade. Em última instância, a fatura acabará com o contribuinte.

Para Sidney Simonaggio, vice-presidente de Operações da AES Eletropaulo, o enterramento pode criar o que ele chama de "injustiça tarifária". "Bairros sem enterramento teriam de pagar pelo custo da instalação de regiões onde os cabos ficam no subsolo."

A concessionária sugere dividir os custos com o paulistano, aumentando o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), por exemplo, em bairros que terão o uso subterrâneo, ou cobrando taxas de contribuição sobre melhorias.

Estima-se que cada quilômetro de fiação que vai para o subsolo custa R$ 10 milhões. Ou seja, o custo anual da legislação de 2006 chegaria a R$ 2,5 bilhões - e todos os investimentos previstos pelo administração Fernando Haddad (PT) para este ano somam R$ 8 bilhões.

Para reduzir valores, a concessionária de energia defende ainda isenção de tributos, como o ISS, uma vez que enterrar um fio custa 15 vezes mais do que colocá-lo em um poste. E sugere que não haja implementação em toda a capital - mas apenas em bairros mais adensados, com maior demanda de energia e comunicação. Hoje, 40% dos fios da capital se encontram no subsolo. 

Acompanhe tudo sobre:AEScidades-brasileirasEletropauloEmpresasEmpresas americanasEnergiaEnergia elétricaMetrópoles globaissao-pauloServiços

Mais de Brasil

Governo cria sistema de emissão de carteira nacional da pessoa com TEA

Governo de SP usará drones para estimar número de morte de peixes após contaminação de rios

8/1: Dobra número de investigados por atos golpistas que pediram refúgio na Argentina, estima PF

PEC que anistia partidos só deve ser votada em agosto no Senado

Mais na Exame