Segovia: PF pode apurar conduta de delegado que investiga Temer
Até o momento o Palácio do Planalto não manifestou a intenção de reclamar formalmente da conduta do delegado
Reuters
Publicado em 9 de fevereiro de 2018 às 21h47.
Brasília - O diretor-geral da Polícia Federal , Fernando Segovia, afirmou nesta sexta-feira, em entrevista exclusiva à Reuters, que, se houver um pedido da Presidência da República, a corporação pode abrir uma investigação interna para apurar a conduta do delegado Cleyber Malta Lopes nos questionamentos apresentados ao presidente Michel Temer no chamado inquérito dos portos.
Ao responder a lista de 50 perguntas feitas por escrito pela PF no inquérito, o presidente queixou-se da impertinência de determinadas perguntas, que ele disse colocar em dúvida a "honorabilidade e dignidade pessoal" dele.
Segovia foi perguntado sobre as reclamações do Palácio do Planalto sobre a postura da PF na investigação, que estaria "pegando pesado" com o investigado, com perguntas "muito duras" e que Temer teria ficado irritado com as questões.
O diretor-geral ressaltou que não houve uma reclamação formal da Presidência e que cada autoridade policial tem sua liberdade para fazer as perguntas aos investigados dentro do limite do "razoável".
"O presidente, ao reclamar da questão das perguntas.... não houve na realidade (uma queixa), ele só externou da maneira que foram feitas as perguntas. Mas não houve nenhum tipo de formalização sobre a verificação da conduta do delegado. A gente poderia, ou pode, em tese, a gente verifica toda a conduta do policial federal porque ele tem um código de conduta", disse.
Questionado se é possível afirmar que houve excesso, Segovia afirmou que não fez essa análise e prefere se abster de fazer qualquer tipo de julgamento porque, se o presidente questionar a conduta do delegado, isso vai passar por um processo interno administrativo que vai verificar se a conduta dele condiz com o trabalho que deve ser feito.
"E ele pode ser repreendido, pode até ser suspenso dependendo da conduta que ele tomou em relação ao presidente", completou.
Até o momento o Palácio do Planalto não manifestou a intenção de reclamar formalmente da conduta do delegado.
O diretor-geral disse que esse é o caso da delegada Érika Marena e outros delegados em que há um questionamento sobre a conduta feita pela corregedoria. Eles são alvos de investigação após terem prendido o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina Luis Carlos Cancellier de Olivo, que posteriormente cometeu suicídio.
"Como eu fui vice-corregedor-geral por quase 4 anos, sei exatamente o que é isso. Há necessidade de ser feita uma verificação interna, uma correção, dentro do inquérito, isso tudo é uma parte do nosso controle de qualidade, digamos assim", afirmou.