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Salles diz que Amazônia "não é apenas um zoológico"

Em entrevista ao WSJ, ministro do Meio Ambiente disse que plano do governo é desenvolver indústrias da região, desde mineração até produção de óleo de palma

Ricardo Salles: ministro falou sobre intenções do governo para Amazônia (Antonio Cruz/Agência Brasil)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de setembro de 2019 às 14h08.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles , afirmou em entrevista ao jornal Wall Street Journal, dos Estados Unidos , que o desenvolvimento da Amazônia é a melhor forma de proteger a floresta, acusando seus antecessores de tentarem transformar a região num templo intocável. Salles disse que o plano do governo é desenvolver as indústrias da região - desde mineração até produção de óleo de palma. "Há mais de 20 milhões de pessoas vivendo na Amazônia que precisam sobreviver", disse ele em entrevista na última quinta-feira. "A Amazônia não é apenas um zoológico para ser observado."

Ambientalistas responsabilizam o presidente Jair Bolsonaro pelo avanço no desmatamento da Amazônia, apontando para cortes no orçamento do Ibama e sua retórica favorável ao agronegócio, que, segundo os ambientalistas, deram aos madeireiros mais confiança para desmatar.

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Salles concordou que a retórica de Bolsonaro pode ter influenciado o comportamento ilegal de alguns madeireiros em territórios na Amazônia, mas disse que o presidente foi mal compreendido. "Há pessoas que criaram falsas expectativas de que o governo permitiria atividades madeireiras ilegais", disse o ministro, acrescentando que o governo se opõe a crimes de qualquer tipo.

O governo Bolsonaro afirma ainda que os cortes no Ibama estão em linha com as reduções do restante do orçamento para combater a crise fiscal do País, e, segundo Salles, ele demitiu superintendentes regionais do órgão que não concordavam com suas ideias e tem dificuldade em substituí-los por causa dos baixos salários para os cargos.

De acordo com o ministro, os antigos lideres do Brasil e organizações da Amazônia tentaram transformar a região num "museu a céu aberto" para árvores, onde pessoas só podem viver de maneiras primitivas. Ele afirma que não é isso que muitas pessoas na Amazônia querem, e que essa estratégia não ajuda a proteger a floresta. Controles ambientais excessivos na área brasileira da Amazônia - que tem cerca de cinco vezes o tamanho da França - são quase impossíveis de se cumprir e fiscalizar, disse ele, levando a ilegalidades. "Não podemos ter leis excessivamente restritivas - são um convite para o crime", afirmou Salles.

Em vez disso, o governo planeja criar incentivos econômicos para que pessoas deixem de desmatar, disse Salles. Como parte do plano, o governo desenvolverá atividades madeireiras sustentáveis e legais, em que companhias madeireiras cortam seletivamente tipos valiosos de madeira em rotação, permitindo que a floresta volte a crescer.

A meta é dupla, disse ele: reduzir pobreza na Amazônia e diminuir o desmatamento ilegal dando aos moradores locais outras formas de se sustentar. "Eu acredito em incentivos econômicos - quando o incentivo econômico está errado, o resultado também dá errado", disse o ministro. "Pessoas parecem se esquecer do mundo real."

Muitos ambientalistas concordam que o governo deve incluir madeireiros ilegais e produtores rurais na solução para o desmatamento. "O maior problema na Amazônia é fala de governança para permitir uma exploração mais ordenada e controlada da floresta. Falta uma visão integrada", disse o cofundador da ONG Ecam, Vasco Van Roosmalen.

Salles afirmou que seu trabalho é estimular um debate mais racional e menos emocional sobre o futuro da Amazônia. "Nós temos a verdade do nosso lado, mas até agora só as mentiras prevaleceram."

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