Brasil

Saiba quem é Rafael Alves, apontado como operador do "QG da propina" na gestão Crivella

Carnaval, festas e jogo do bicho marcam a trajetória do empresário, irmão do presidente da Riotur, Marcelo Alves, e doador para campanha do atual prefeito

Rafael Alves e Marcelo Crivella (reprodução/Reprodução)

Rafael Alves e Marcelo Crivella (reprodução/Reprodução)

AO

Agência O Globo

Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 10h16.

Última atualização em 22 de dezembro de 2020 às 12h30.

Um dos presos na ação do Ministério Público do Rio (MP-RJ), que culminou com a prisão do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), o empresário Rafael Alves foi citado como suposto operador de um esquema de pagamento de propinas para empresas dentro da prefeitura, como revelou O GLOBO no início de dezembro. Filiado ao Republicanos (antigo PRB), mesmo partido do prefeito, ele foi pré-candidato à prefeitura de Angra em 2016 e doador da campanha de Crivella a governador em 2014. Figura que circula entre o universo do carnaval — já foi dirigente da Viradouro, Império Serrano e Salgueiro — e de casas noturnas.

Antes de se tornar um dos 17 alvos da operação do Ministério Público e um dos presos nesta terça-feira, o empresário estreitou os laços com o município, em 2016. Naquele ano, Alves colaborou na arrecadação de recursos durante a campanha de Marcelo Crivella à prefeitura e para a diminuição da resistência do mundo do samba ao prefeito. A influência na Riotur — do qual seu irmão Marcelo Alves é presidente — é presente mesmo sem um cargo no órgão, diretamente ligado ao carnaval na Avenida Marquês de Sapucaí e aos blocos de rua.

Rafael Alves foi apontado como o operador a frente do "QG da Propina" em colaboração premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso pela operação Câmbio, Desligo no ano passado, como O GLOBO revelou com exclusividade. Na delação, Mizrahy afirmou que Rafael Alves tornou-se um dos homens de confiança de Crivella por ajudá-lo a viabilizar a doação de recursos de empresas e pessoas físicas na campanha de 2016.

O empresário é conhecido no meio do samba e chegou a ser presidente de honra, no fim do ano passado, da Acadêmicos do Salgueiro. A escola foi a porta de entrada para o carnaval, há cerca de 10 anos. Em fevereiro deste ano, Rafael Alves comentou o assassinato de Alcebíades Paes Garcia, o Bidi, afirmando se tratar de uma briga por dinheiro. Eles eram amigos há 15 anos. Dias antes, Bidi desfilou pela agremiação, conforme confirmou o empresário. À época, não foi informado se o bicheiro estava credenciado pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa) ou pela Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur), presidida por Marcello Alves, irmão de Rafael. Mas, o EXTRA teve acesso ao crachá usado por Bidi, e confirmou que ele foi credenciado como “assistente” da Liesa, apesar de não ocupar nenhum cargo na liga.

Alves mantém relações estreitas com a família de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, irmão de Bidi. O empresário foi casado com Shanna Harrouche Garcia Lopes, filha do bicheiro, com quem mantém uma relação de amizade. Alves foi o primeiro a encontrá-la no local, na Barra da Tijuca, onde ela sofreu uma tentativa de homicídio. Shanna afirmou que o crime foi motivado pela disputa por dinheiro na família.

Fontes de renda

Sua principal fonte de renda declarada era a Construtora Nascente R7, cujo capital social, segundo registro na Receita Federal é de R$ 2.700 milhões. Outras empresas de Alves, na Receita, são a Bem Vivera de Niterói Corretora de Seguros, com R$9 mil de capital social, e a Sasha Produções e Eventos, com R$15 mil de capital social.

As três empresas têm o mesmo endereço declarado na receita: Avenida Evandro Lins e Silva, 840, onde funciona o Centro Empresarial Office Tower. O GLOBO esteve no edifício na última terça-feira e não encontrou indícios de funcionamento dos escritórios. Os porteiros do local informaram que, no sistema interno, não há registro algum daquelas empresas. O porteiro chegou a interfonar para as salas comerciais, no segundo andar, onde supostamente funcionariam os escritórios, de acordo com o cadastro da Receita. Atualmente, porém, as salas estão vazias, e antes funcionava uma empresa de tecnologia. No local, ninguém havia ouvido falar daqueles nomes.

Os telefones registrados tampouco funcionam. O único número em que a ligação não caiu na caixa postal era de um escritório de contabilidade, no mesmo edifício comercial. A funcionária que atendeu o telefonema disse não conhecer nenhuma das três empresas. Na internet, também não há informações. A construtora Nascente, que seria a empresa mais importante de Alves, não faz parte dos quadros da Associação de Empresas de Engenharia do Rio, nem da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi). Pessoas do meio que foram consultadas disseram que nunca ouviram falar da construtora.

— Nascente nunca vi nascer — brincou o dono de uma imobiliária.

Uma funcionária do Sindicato de Corretoras de Seguro do Rio também disse desconhecer a Bem Vivera de Niterói. Um telefone encontrado na internet caiu na corretora Bem Querer. A funcionária afirmou que a Bem Vivera existia naquele escritório, em Niterói, mas havia sido vendida há alguns anos, e que ela não possuía mais notícias.

No ano passado, o GLOBO mostrou que Alves comprara a Nascente em 2013, por apenas R$ 30 mil, segundo a antiga proprietária. Na época, a construtora não teria maquinário algum nem contratos para projetos. Mesmo assim, no balanço de 2012, a construtora teria aplicações financeiras de R$ 1,4 milhão e lucro líquido de R$ 237 mil.

Em resposta aos questionamentos sobre as empresas, Rafael Alves respondeu que, "há quatro meses" mudou os escritórios para o terceiro andar do Centro Empresarial Office Tower e que as empresas existem, mas que não são sindicalizadas ou registradas em associações porque "segundo informações do meu contador, não sou obrigado", explicou. Já a Nascente está paralisada "por não ter se tornado uma empresa viável".

Festas e namoradas

Rafael Alves começou a figurar em jornais e revistas em 2005, quando engatou namoro com a atriz Carol Castro. Ela tinha 21 anos e ele, 27. Mas o relacionamento mais duradouro do empresário é com Shanna Garcia, filha de Maninho, assassinado em 2004. O casal tem uma filha, chegou a se separar, mas hoje mantém União Estável, conforme confirmou o próprio empresário.

Antes do posto do Salgueiro, Alves passou por outras escolas e foi patrono na Viradouro e no Império Serrano. Na escola de Niterói, ficou famoso ao protagonizar, como diretor financeiro, uma história polêmica em que teria comprado o posto de rainha de bateria para uma atriz por R$ 80 mil no carnaval de 2012, o que foi negado na época.

Além do universo carnavalesco, Rafael Alves gosta de frequentar boates e churrascarias na Barra da Tijuca. Um dos restaurantes de rodízio em que costuma ser encontrado é o Barra Brasa. Já a boate preferida é o Rio Beach Club, na Ilha da Coroa, que foi interditado por decisão judicial após ação do Ministério Público do Rio de Janeiro por causa de irregularidades urbanísticas e ambientais. Atualmente, o espaço possui alvará para funcionamento apenas como clube social.

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoMarcelo CrivellaPrisõesRio de Janeiro

Mais de Brasil

Governo Tarcísio é aprovado por 68,8% e reprovado por 26,7%, diz Paraná Pesquisas

China desafia domínio da Starkink com planos de serviço de internet via satélite no Brasil

Governo divulga novo cronograma do CNU; veja datas atualizadas

Mauro Cid presta depoimento ao STF após operação e pedido de suspensão de delação