Rio Grande do Norte pode ganhar um aeroporto-ilha
Brincadeira ilustra a descrença geral em relação à conclusão das obras da estrada que dá acesso ao aeroporto internacional de São Gonçalo do Amarante
Da Redação
Publicado em 22 de setembro de 2013 às 09h46.
São Gonçalo do Amarante - A piada corre de boca em boca entre os moradores da região metropolitana de Natal: o Rio Grande do Norte vai ser o único estado brasileiro, talvez o único lugar no mundo, agraciado com um aeroporto-ilha.
A brincadeira ilustra a descrença geral em relação à conclusão das obras da estrada que dá acesso ao aeroporto internacional de São Gonçalo do Amarante, a 13 quilômetros da capital. Em seus 37 quilômetros estão previstas ligações, em pista dupla, entre as rodovias BR-406, BR-304 e BR-226, com duas saídas do aeroporto - uma com direção a Natal e litoral Sul (chamada de eixo Sul) e outra para o litoral Norte (ou eixo Norte). Atualmente, o acesso se dá por estrada de terra.
Ninguém duvida que o aeroporto vai começar a operar em abril de 2014, a tempo de receber os torcedores da Copa do Mundo. Primeiro aeroporto do Brasil construído pela iniciativa privada, numa concessão do governo federal, terá capacidade para atender três milhões de passageiros por ano. O consórcio Inframerica (que reúne a brasileira Infravix e a argentina Corporacion America) ganhou o leilão, com um lance de R$ 170 milhões, e se comprometeu a adiantar a obra. O prazo inicial era novembro de 2014.
Os dois acessos rodoviários, orçados em R$ 75 milhões e financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), estão sob a responsabilidade do governo estadual. Suas obras estão bem atrasadas. No eixo Sul - que passa pela BR-304 e está orçado em R$ 15 milhões - os trabalho nem começaram. O eixo Norte, onde se prevê um investimento de R$ 60 milhões via BR-406 - conta com serviços de terraplenagem e nivelamento em trechos que passam por matas.
A situação é considerada surreal em Brasília. "Muita gente critica as concessões e não sabe o que está acontecendo", diz Wellington Moreira Franco, ministro da Secretaria de Aviação Civil, "O concessionário até adiantou a parte dele, mas o aeroporto corre o risco de ser inaugurado sem ter estrada causa da ineficiência do Estado."
Descrença. Quem passa pelo local fica com a sensação de que estão sendo feitas intervenções pontuais. Ainda não á um traçado visível. Nem os poucos trabalhadores distribuídos pelos dois trechos confiam que os acessos estarão prontos a tempo de atenderem o aeroporto. "Eu tenho lá as minhas dúvidas", diz o servente Fábio Júnior Fernandes, 30 anos, com um sorriso no rosto. Fernandes foi contratado há apenas uma semana. "O ritmo é este que a gente vê, devagar. E, se chove, a gente tem que parar". Naquela momento era manhã de sexta-feira (20) e caia uma chuva fina.
No pequeno trecho onde se via uma motoniveladora em operação, um encarregado, que pediu para não ser identificado, contou que há apenas uma máquina para preparar o terreno. "Na hora que disserem que tem projeto, tem cota, aí vai ter gente trabalhando", disse ele.
Morador da área há oito anos, Samuel da Costa Cavalcanti, 66 anos, é testemunha ocular do ritmo dos trabalhos: "Tem sempre só uma máquina aqui que trabalha um pouquinho e para", diz. "Não sou pessimista, mas é muita obra para pouco tempo." Cavalcanti "guarda" o seu terreno de 80m por 60m, às margens do futuro acesso rodoviário, para evitar que ele seja invadido porque acredita que pode ganhar com a valorização das terras quando a estrada finalmente ficar pronta. "Há quatro anos, eu vendi aqui uma área de 30 por 30 metros por R$ 1mil, agora eu acredito que posso vender esta por uns R$ 40 mil".
Diretamente interessados na obra, empresários do turismo e do comércio não escondem a preocupação com a lenta velocidade das obras. "Não podemos negar", afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Estado (ABIH-RN), Habib Chalita. "Não temos um canteiro de obras e há lentidão".
O turismo é um dos pilares da economia do Rio Grande do Norte e um complexo aeroportuário bem estruturado e eficiente alimenta esperança local porque pode aumentar a movimentação e gerar renda. "Nossa localização é a mais próxima da África, dos Estados Unidos e da Europa", diz o empresário. "O Estado tem 30 mil leitos na capital e região metropolitana, a 15 minutos do novo estádio, que está com 87% de suas obras já concluídas."
Pânico. Os representantes do setor comercial, oficialmente, falam que estão confiantes de que o governo estadual vai cumprir a promessa de entregar os acessos até maio do próximo ano. Nos bastidores, porém, a expectativa é diferente. Um representante da categoria afirmou que o clima entre os empresários "é de quase pânico".
O deputado estadual Fernando Mineiro (PT), de oposição ao governo estadual, critica a "falta de logística das obras do acesso e a inoperância do governo Rosalba Ciarlini (DEM) para administrar as obras de mobilidade". Segundo Mineiro, os problemas para garantir a estrada não param de aparecer. O último - relatou - foi a descoberta de uma área de mata atlântica no bem no meio do traçado do acesso Norte. O órgão ambiental estadual proibiu a derrubada das árvores e o traçado do percurso precisou ser alterado. "Eu não torço contra, sou a favor do Estado, mas não confio, É muito atraso", diz. E ainda prometeu se redimir se o Estado fizer a sua parte como deve ser: "Faço um reconhecimento público se o acesso ao aeroporto for concluído no prazo".
São Gonçalo do Amarante - A piada corre de boca em boca entre os moradores da região metropolitana de Natal: o Rio Grande do Norte vai ser o único estado brasileiro, talvez o único lugar no mundo, agraciado com um aeroporto-ilha.
A brincadeira ilustra a descrença geral em relação à conclusão das obras da estrada que dá acesso ao aeroporto internacional de São Gonçalo do Amarante, a 13 quilômetros da capital. Em seus 37 quilômetros estão previstas ligações, em pista dupla, entre as rodovias BR-406, BR-304 e BR-226, com duas saídas do aeroporto - uma com direção a Natal e litoral Sul (chamada de eixo Sul) e outra para o litoral Norte (ou eixo Norte). Atualmente, o acesso se dá por estrada de terra.
Ninguém duvida que o aeroporto vai começar a operar em abril de 2014, a tempo de receber os torcedores da Copa do Mundo. Primeiro aeroporto do Brasil construído pela iniciativa privada, numa concessão do governo federal, terá capacidade para atender três milhões de passageiros por ano. O consórcio Inframerica (que reúne a brasileira Infravix e a argentina Corporacion America) ganhou o leilão, com um lance de R$ 170 milhões, e se comprometeu a adiantar a obra. O prazo inicial era novembro de 2014.
Os dois acessos rodoviários, orçados em R$ 75 milhões e financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), estão sob a responsabilidade do governo estadual. Suas obras estão bem atrasadas. No eixo Sul - que passa pela BR-304 e está orçado em R$ 15 milhões - os trabalho nem começaram. O eixo Norte, onde se prevê um investimento de R$ 60 milhões via BR-406 - conta com serviços de terraplenagem e nivelamento em trechos que passam por matas.
A situação é considerada surreal em Brasília. "Muita gente critica as concessões e não sabe o que está acontecendo", diz Wellington Moreira Franco, ministro da Secretaria de Aviação Civil, "O concessionário até adiantou a parte dele, mas o aeroporto corre o risco de ser inaugurado sem ter estrada causa da ineficiência do Estado."
Descrença. Quem passa pelo local fica com a sensação de que estão sendo feitas intervenções pontuais. Ainda não á um traçado visível. Nem os poucos trabalhadores distribuídos pelos dois trechos confiam que os acessos estarão prontos a tempo de atenderem o aeroporto. "Eu tenho lá as minhas dúvidas", diz o servente Fábio Júnior Fernandes, 30 anos, com um sorriso no rosto. Fernandes foi contratado há apenas uma semana. "O ritmo é este que a gente vê, devagar. E, se chove, a gente tem que parar". Naquela momento era manhã de sexta-feira (20) e caia uma chuva fina.
No pequeno trecho onde se via uma motoniveladora em operação, um encarregado, que pediu para não ser identificado, contou que há apenas uma máquina para preparar o terreno. "Na hora que disserem que tem projeto, tem cota, aí vai ter gente trabalhando", disse ele.
Morador da área há oito anos, Samuel da Costa Cavalcanti, 66 anos, é testemunha ocular do ritmo dos trabalhos: "Tem sempre só uma máquina aqui que trabalha um pouquinho e para", diz. "Não sou pessimista, mas é muita obra para pouco tempo." Cavalcanti "guarda" o seu terreno de 80m por 60m, às margens do futuro acesso rodoviário, para evitar que ele seja invadido porque acredita que pode ganhar com a valorização das terras quando a estrada finalmente ficar pronta. "Há quatro anos, eu vendi aqui uma área de 30 por 30 metros por R$ 1mil, agora eu acredito que posso vender esta por uns R$ 40 mil".
Diretamente interessados na obra, empresários do turismo e do comércio não escondem a preocupação com a lenta velocidade das obras. "Não podemos negar", afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Estado (ABIH-RN), Habib Chalita. "Não temos um canteiro de obras e há lentidão".
O turismo é um dos pilares da economia do Rio Grande do Norte e um complexo aeroportuário bem estruturado e eficiente alimenta esperança local porque pode aumentar a movimentação e gerar renda. "Nossa localização é a mais próxima da África, dos Estados Unidos e da Europa", diz o empresário. "O Estado tem 30 mil leitos na capital e região metropolitana, a 15 minutos do novo estádio, que está com 87% de suas obras já concluídas."
Pânico. Os representantes do setor comercial, oficialmente, falam que estão confiantes de que o governo estadual vai cumprir a promessa de entregar os acessos até maio do próximo ano. Nos bastidores, porém, a expectativa é diferente. Um representante da categoria afirmou que o clima entre os empresários "é de quase pânico".
O deputado estadual Fernando Mineiro (PT), de oposição ao governo estadual, critica a "falta de logística das obras do acesso e a inoperância do governo Rosalba Ciarlini (DEM) para administrar as obras de mobilidade". Segundo Mineiro, os problemas para garantir a estrada não param de aparecer. O último - relatou - foi a descoberta de uma área de mata atlântica no bem no meio do traçado do acesso Norte. O órgão ambiental estadual proibiu a derrubada das árvores e o traçado do percurso precisou ser alterado. "Eu não torço contra, sou a favor do Estado, mas não confio, É muito atraso", diz. E ainda prometeu se redimir se o Estado fizer a sua parte como deve ser: "Faço um reconhecimento público se o acesso ao aeroporto for concluído no prazo".