Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF: inquérito não tem relação imediata com o escândalo de corrupção que atingiu a FIFA (Michael Regan/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de junho de 2015 às 20h49.
Brasília - A Polícia Federal indiciou o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira pelos crimes de falsificação de documento público, falsidade ideológica, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Conforme a PF, Teixeira não declarou dinheiro mantido no exterior, simulou a compra de ações usando o nome de uma empresa para "movimentar altas quantias de dinheiro" e fez transações imobiliárias irregulares.
Conforme os investigadores, o inquérito não tem relação imediata com o escândalo de corrupção que atingiu a FIFA, mas pode dar subsídios a apuração que está em curso nos Estados Unidos tocada pelo FBI.
O inquérito no Brasil foi concluído em janeiro deste ano, mas só agora veio a público. As investigações duraram dois anos.
No inquérito, ao qual o Estado teve acesso, a PF afirma que nas declarações de imposto de renda do ex-dirigente "não existe referência alguma a contas bancárias em seu nome no exterior", o que configura crime de evasão de divisas.
A reportagem do Estado revelou que Teixeira possui 30 milhões de euros numa conta secreta em Mônaco e a procuradoria da Suíça também identificou movimentações no país.
No Brasil, o órgão de investigação financeira do Ministério da Fazenda, o Coaf, registrou movimentação de R$ 464,5 milhões entre 2009 e 2012.
A PF destacou informações da procuradoria da Suíça de que Teixeira teria recebido, ainda, 12,7 milhões de francos suíços de suborno enquanto esteve na CBF, de 1989 a 2012, inclusive envolvendo a realização de Copas do Mundo, ao considerar que "ele vem praticando atos contra a administração pública brasileira, com exigência de vantagens para práticas administrativas da CBF, contra a administração pública estrangeira e o sistema financeiro nacional".
APARTAMENTO
A PF acusou Teixeira de simular operação de compra de vários imóveis, entre eles uma cobertura na Barra da Tijuca, no Rio. Ele adquiriu o apartamento em bairro nobre que estava avaliada em R$ 4 milhões por R$ 720 mil. O imóvel foi comprado de Claudio Abrahão, irmão de Wagner Abrahão, dono do Grupo Águia.
Em depoimento à PF, Claudio justificou o preço porque o imóvel estava "em mau estado de conservação, precisando de reforma". A PF considerou suspeito o fato de Claudio ter comprado o imóvel em 2002, por R$ 1,9 milhão, mas só ter escriturado em 2009, mesmo ano em que foi vendido para Teixeira.
A PF também encontrou irregularidades na compra de uma aeronave pela Alianto Marketing por R$ 8 milhões da empresa 100% Brasil Marketing, que não tem endereço fixo. As duas empresas têm como sócios Alexandre Rosell Feliu, conhecido como Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona. Ou seja, ele vendeu a aeronave para ele mesmo.
Outro negócio investigado pela PF é a simulação de operação de compra de ações de Teixeira e Rosell numa transação que envolveu a cifra de R$ 22,5 milhões.
A PF descobriu que a Alpes Eletronic Broker não era detentora de opção de venda, como informado no negócio. A Alpes negou em depoimento relação com Teixeira. Como moram no exterior, a PF indiciou Teixeira e Rosell sem a presença deles.
Os dois, contudo, conforme o inquérito "tomaram conhecimento dos fatos e não tiveram interesse em desmentir". A reportagem não conseguiu contato com Teixeira e Rosell.