Renan tira de relatório da CPI da Covid duas acusações contra Bolsonaro
Os crimes de genocídio de indígenas e homicídio qualificado contra Bolsonaro foram retirados do relatório final
Reuters
Publicado em 20 de outubro de 2021 às 10h24.
Última atualização em 20 de outubro de 2021 às 14h20.
Um acordo fechado na noite de terça-feira entre o grupo de senadores que têm comandado os trabalhos da CPI da Covid levou à retirada das sugestões de indiciamento pelos crimes de genocídio de indígenas e homicídio qualificado contra o presidente Jair Bolsonaro do relatório final da comissão elaborado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL).
De acordo com o senador Humberto Costa (PT-PE), os senadores concluíram pela retirada do crime de genocídio de indígenas porque, de acordo com a previsão do Tratado de Roma, havia falta de elementos na apuração da CPI que permitisse o enquadramento claro.
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Da mesma forma, explicou, o crime de homicídio qualificado precisa ser individualizado, ter uma vítima definida, o que não teria como ser feito.
"Optamos por manter um crime que tem pena até maior, que é epidemia seguida de morte", disse o senador.
Em relação ao genocídio, a opção foi por manter a acusação de crimes contra humanidade. "Vamos levar isso ao Tribunal Penal Internacional de Haia", explicou Costa.
"As decisões foram técnicas, não políticas. Não podemos correr o risco do relatório ser desqualificado por um juiz, porque a caracterização dos crimes não foi precisa. Seria a pior coisa que poderia acontecer para a CPI", defendeu.
A decisão foi tomada em um jantar na casa do senador Tasso Jeireissati (PSDB-CE), na noite de terça-feira, chamado justamente para pacificar os ânimos em relação ao relatório. O texto de Renan havia criado atritos dentro do chamado G7, grupo de parlamentares que formam a cúpula da CPI, com senadores reclamando do que viam como excessos e também do fato do texto ter vazado antes mesmo de que eles tivessem acesso.
Um dos mais irritados, e que não poupou críticas a Renan pelo vazamento, o presidente da CPI, Omar Aziz dessa vez elogiou o relator e disse a jornalistas que o senador alagoano ouviu argumentações de todos.
"O mais importante para mim dessa reunião foi que a gente saiu unificado", disse a jornalistas na noite de terça ao deixar a reunião.
A outra única mudança mais relevante foi a retirada de sugestão de indiciamento pelo crime de advocacia administrativa contra o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), previsto inicialmente. O filho mais velho do presidente será indiciado apenas por incitação ao crime pela divulgação de notícias falsas sobre a epidemia, mesma acusação reservada a seus irmãos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro.
Flávio teria levado o dono da empresa Precisa Medicamentos, Francisco Maximiniano, para uma reunião com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano. De acordo com Humberto Costa, havia poucas evidências para acusar o senador de advocacia administrativa por causa desse encontro.
O relatório da CPI, com mais de 1.100 páginas, deverá ser lido em sessão do colegiado nesta quarta. A votação do documento, no entanto, deve ocorrer somente na semana que vem.
O relatório deve apontar Bolsonaro como o "principal responsável pelos erros de governo cometidos durante a pandemia da Covid-19", citando, entre outros pontos, a insistência dele na adoção e propagação do uso de tratamento com medicamentos sem eficácia comprovada em detrimento da vacinação e a resistência inicial do governo em comprar vacinas.
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