Lavoura de café: trabalho conjunto entre agência dos EUA e a Repórter Brasil identificou 15 fazendas que empregam mão-de-obra escrava no Brasil. (Mauricio Lima/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de abril de 2016 às 06h37.
Washington - Um relatório conjunto publicado nesta quarta-feira pela Catholic Relief Sevices (CRS, sigla em inglês), a agência internacional humanitária da comunidade católica dos Estados Unidos, e a organização Repórter Brasil denunciou situações de trabalho forçado, que qualificou de "escravidão", em 15 fazendas produtoras de café no Brasil.
A pesquisa se baseou em entrevistas com os trabalhadores rurais, produtores, sindicalistas, fiscais e inspetores trabalhistas de 15 fazendas de café que apareceram na "lista negra" por exploração de mão de obra escrava do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil em 2013.
As entrevistas descrevem trabalhadores agrícolas "submetidos a trabalhos forçados, trabalho extenuante, condições de trabalho degradantes e servidão por dívidas", o que o governo brasileiro considera como "condições análogas à escravidão".
O relatório, no entanto, admite que o trabalho escravo no setor do café no Brasil "não é muito amplo", mas também considera que "provavelmente seja maior, já que muitos casos não são denunciados".
"Só pudemos documentar esses casos porque o Brasil tem leis trabalhistas progressivas, uma forte imposição da legislação e um profundo compromisso com a transparência. Não devemos punir o Brasil por tornar esta informação disponível; devemos agradecê-lo", disse o porta-voz da CRS, Michael Sheridan.
As condições descritas pelos inspetores em um sítio incluem jornadas de trabalho de 11 horas, casas sem banheiros e contêineres para o lixo, e água de cor amarelada, não apta para o consumo humano.
Os trabalhadores em cinco das fazendas denunciadas foram vítimas de servidão por dívidas e não tinham permissão para sair das propriedades em que trabalhavam devido às despesas contraídas com alimentação, viagens, equipamentos e alojamento.
Os investigadores advertiram que "práticas similares" foram documentadas em outros países produtores de café.