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Relatório de doação ao PSDB será anexado à investigação contra Aécio

Ministro Marco Aurélio Mello, do STF, determinou que sejam anexados dados entregues pela PF que sugerem a dissimulação de doação de campanha

Aécio Neves: relatório foi encontrado em busca e apreensão vinculada a investigação do suposto repasse de R$ 2 milhões de Joesley Batista ao senador (Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de maio de 2018 às 19h42.

Brasília - O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal ( STF ), determinou, nesta quarta-feira, 2, que sejam anexados em uma segunda investigação contra senador Aécio Neves ( PSDB -MG), em que o ministro é relator, dados entregues pela Polícia Federal que sugerem a dissimulação de doação de campanha ao PSDB, em 2014, de acordo com a Procuradoria-geral da República (PGR). O pedido para anexar os documentos foi feito pela PGR no mês passado.

Em busca e apreensão vinculada a investigação do suposto repasse de R$ 2 milhões de Joesley Batista , da J&F, ao senador, a PF encontrou em um HD apreendido na construtora Wanmix, de propriedade de um amigo de Aécio, extratos bancários que, para os investigadores, sugerem a dissimulação de doação de campanha, como informou o Broadcast Político/Estadão em 17 de abril.

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Os documentos mostram que no dia 24 de junho de 2014 a empresa Conserva de Estradas recebeu um depósito de R$ 1,5 milhão do Consórcio Cowan Conserva. No mesmo dia, a empresa repassou a mesma quantia para o diretório nacional do PSDB.

A procuradoria pedia para que os extratos fossem anexados em quatro inquéritos em que o senador é investigado. Sob relatoria de Marco Aurélio, um deles apura suposto crime de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, aberto com base da delação da JBS. O outro, com relatoria ministro Gilmar Mendes, é destinado à verificação de pagamento de valores indevidos pela Odebrecht à campanha do senador à presidência, em 2014.

O terceiro, cujo relator é o ministro Alexandre de Moraes, apura fatos ilícitos envolvendo a construção da Cidade Administrativa de Minas Gerais. Relatado por Edson Fachin, um quarto inquérito é direcionado a investigação de suposto pagamento, por parte da Odebrecht e Andrade Gutierrez, de valores a Aécio em razão de sua atuação em favor dos interesses das construtoras nos projetos das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jiral, no Rio Madeira, em Rondônia.

Em resposta a PGR, Marco Aurélio determinou que a documentação seja anexada ao inquérito que relata, e pediu que os dados sejam encaminhados aos demais ministros, que comandam os outros inquéritos.

Na investigação sobre o suposto repasse de R$ 2 milhões, Aécio, sua irmã e o primo, Andrea Neves e Frederico Pacheco, e o ex-assessor do senador Zezé Perrella (MDB-MG), Mendherson Souza Lima, se tornaram réus pelo crime de corrupção passiva. Aécio também é acusado pelo crime de obstrução à Justiça nesse processo. Marco Aurélio é relator do inquérito em que essa denúncia foi recebida.

Além dessa investigação e das quatro citadas acima, Aécio é alvo de mais quatro inquéritos no Supremo Tribunal Federal.

Suspeitas

Para a PGR, a "movimentação financeira realizada entre a Conserva de Estradas e Consórcio Cowan Conserva pode indicar que esta última empresa estava dissimulando doação oficial ao PSDB em 2014 se valendo da primeira".

Tanto a Conserva Estradas como o Consórcio Cowan Conserva pertencem à família Wanderley. O dono da Wanmix, onde foram encontrados os extratos, é Eduardo Wanderley, também integrante da família. Amigo próximo de Aécio, Eduardo é sobrinho de Saulo Wanderley, dono da Cowan.

A Wanmix, por sua vez, é uma construtora mineira que forneceu concreto para a construção da Cidade Administrativa, obra mais cara da gestão de Aécio no governo de Minas Gerais.

A obra custou R$ 2,1 bilhões e foi citada em delações premiadas como origem de repasses de propina para o tucano. A obra também forneceu concreto para as usinas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte.

O dono da empresa, Eduardo Wanderley, é amigo de Aécio e foi flagrado em conversa com o senador interceptada pela PF no âmbito da Operação Patmos - desdobramento do acordo de colaboração dos executivos do Grupo J&F.

"O Consórcio Cowan Conserva (que repassou o valor de R$ 1,5 milhão para a empresa Conserva Estrada, posteriormente depositado por esta em favor do PSDB) é formada pelas empresas Construtora Cowan e pela Conserva de Estradas. Todas as empresas mencionadas são pertencentes à mesma família", afirma a PGR.

De acordo com a PF, o Relatório de Análise de Material Apreendido, feito com base nos extratos, "mostra também engajamento colaborativo do conglomerado da Wanmix para com o partido político de Aécio Neves".

Em nota divulgada na ocasião em que a PGR fez o pedido, a defesa do senador Aécio Neves afirmou que desconhece o assunto e que não identificou irregularidade nos dados apresentados, "uma vez que a doação está devidamente declarada no TSE, como todas as outras doações feitas às campanhas do PSDB". A assessoria de comunicação do PSDB informou que o partido não tem conhecimento do assunto.

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