Registro de Febre do Nilo Ocidental no Espírito Santo preocupa autoridades
Ate agora a doença foi registrada em somente uma pessoa, e seis cavalos foram mortos no Espírito Santo. Não há prevenção por vacina
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de junho de 2018 às 09h03.
Sorocaba - Um caso da Febre do Nilo Ocidental confirmado em um cavalo, no município de São Mateus, no norte do Espírito Santo , está colocando em alerta as autoridades sanitárias do País. No dia 8 de junho, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento expediu nota técnica confirmando a presença da doença no Brasil e recomendando que seja intensificada a vigilância para detecção de animais com sintomas.
A doença, grave e sem prevenção por vacina, é transmitida para o homem. O primeiro caso em humano foi registrado em 2014, em um vaqueiro de Aroeiras do Itaim, no interior do Piauí. Ele se curou, mas ficou com sequelas.
O comunicado informa que não há justificativa técnica para a interdição de propriedades ou eventos, como feiras e corridas, devido à doença, bem como medidas restritivas do trânsito de animais. A Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo informou ter repassado o alerta para toda equipe técnica, com a recomendação de que as informações cheguem também aos médicos veterinários particulares, responsáveis por atendimentos a casos de síndromes neurológicas em equídeos.
A confirmação da doença no Espírito Santo levou o Ministério da Saúde a recomendar "alerta para a vigilância de casos humanos e epizootias de equídeos e aves silvestres com suspeita de Febre do Nilo Ocidental" a toda a rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).
Conforme o Ministério, a doença requer atuação integrada, em uma rede organizada, de diferentes segmentos do setor da Vigilância em Saúde para a investigação e o monitoramento de possíveis casos. "Todo evento suspeito deve ser imediatamente notificado pela via mais rápida", recomendou a pasta.
Transmitida por um mosquito, a doença é uma zoonose já registrada em países da Europa, Estados Unidos e América Central. O caso do Espírito Santo foi detectado a partir da morte de cavalos na região de São Mateus, segundo o gerente de defesa animal do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado (Idaf), Fabiano Fiuza. "Foram seis cavalos mortos e havia suspeita de raiva, por isso fizemos o atendimento para síndromes neurológicas, conforme o protocolo do Ministério da Agricultura. Como os exames deram negativo para raiva, mandamos as amostras para o laboratório de referência nacional e uma delas deu positivo para a febre do Nilo. Foi uma surpresa, não só para nós, mas para o País todo", disse.
O exame confirmatório foi realizado pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará. Conforme Fiuza, em parceria com a Secretaria da Saúde, o Idaf realizou um trabalho de investigação epidemiológica nos municípios de São Matheus, Baixo Guandu, Nova Venécia e Boa Esperança. "Estamos acompanhando as propriedades, verificando novas ocorrências e realizando a vigilância em relação à mortalidade de aves silvestres."
Aos criadores de cavalos de raça, Fiuza recomenda que os equinos de maior valor sejam recolhidos às baias a partir do entardecer, para reduzir o risco de que sejam picados pelo mosquito transmissor. "Como não há vacina, o manejo do plantel pode ajudar na prevenção", disse.
No último dia 12, a Secretaria da Saúde reuniu médicos, enfermeiros e profissionais da saúde da região norte do Espírito Santo para discutir a doença, que é causada por um vírus. "O objetivo não foi alarmar, mas chamar a atenção da rede pública para essa nova doença que se manifesta na região", disse a médica infectologista Theresa Cristina Cardoso da Silva, da Vigilância Epidemiológica. Segundo ela, humanos e equídeos não transmitem a doença entre si, é preciso que sejam picadas pelo mosquito transmissor.
Em pessoas, a Febre do Nilo pode se manifestar com sintomas similares aos da dengue, ou com a invasão do sistema nervoso central, causando meningite, encefalite, paralisias flácidas e Síndrome de Guillan-Barré. "É uma doença que se manifesta da mesma forma que outras enfermidades que causam alterações neurológicas, por isso pode confundir quem está na ponta atendendo o paciente, explicou a infectologista.