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Queremos Amazônia preservada, mas sem esconder recursos lá, diz Bolsonaro

O desmatamento da floresta bateu recordes no primeiro ano da gestão Bolsonaro e já iniciou 2020 duas vezes maior que registro de janeiro de 2019

Jair Bolsonaro: presidente diz que o país continua sendo um modelo de conservação e que é demonizado injustamente pelos ambientalistas (Adriano Machado/Reuters)
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Reuters

Publicado em 11 de fevereiro de 2020 às 19h00.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2020 às 19h24.

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira que o governo quer a preservação da floresta amazônica , mas deseja também que os recursos da região não fiquem escondidos lá para sempre.

"Temos que nos preparar, temos a capacidade de antecipar problemas e realmente implementar políticas que passem cada vez mais a dizer que a Amazônia é nossa", disse Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto que para transferir o Conselho Nacional da Amazônia Legal do Ministério do Meio Ambiente para a Vice-Presidência da República.

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"Nós queremos que ela seja preservada, mas que também os seus bens não fiquem lá simplesmente escondidos para sempre. Queremos a Amazônia cada vez mais brasileira", acrescentou.

No discurso, com forte tom nacionalista, o presidente fez questão de deixar "bem claro" que ninguém é contra dar a "devida proteção e terra aos nossos irmãos índios".

"Agora da forma que foi feito --hoje em dia reflete 14% do território nacional demarcado por terras indígenas-- é um tanto quanto abusivo", ressalvou.

Em cerimônia em que transferiu o Conselho Nacional da Amazônia Legal do Ministério do Meio Ambiente para a Vice-Presidência da República, Bolsonaro ressaltou que a "Amazônia nos pertence".

O conselho terá vários ministros e será constituído por quatro comissões, responsáveis por: integrar as políticas públicas, preservação, proteção e desenvolvimento.

Em discurso, o vice-presidente Hamilton Mourão, que ficará à frente do conselho, disse que se busca criar as bases de uma verdadeira política de Estado para a região.

O desmatamento da Amazônia brasileira disparou no ano passado, e ativistas ambientais dentro e fora do Brasil responsabilizaram o presidente Jair Bolsonaro ao apontarem que seu governo está enfraquecendo mecanismos de proteção ambiental e que sua retórica incentiva a ocupação ilegal, a grilagem e a atividade de madeireiros clandestinos.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostraram que a destruição dobrou em janeiro se comparada com um ano atrás. Mais de 280 quilômetros quadrados da floresta tropical brasileira foram destruídos em janeiro, de acordo com dados preliminares do (Inpe), que só divulgou dados dos 30 primeiros dias do mês, sem dar explicações. Bolsonaro diz que o país continua sendo um modelo de conservação e que é "demonizado" injustamente pelos ambientalistas.

Conselho da Amazônia

Bolsonaro disse que o conselho é um projeto de governo e tem muita esperança que possa dar a devida resposta aos críticos. "Ano passado, um chefe de Estado, da Europa, ousou dizer que a soberania sobre a Amazônia não era nossa, era relativa, e outros autoridades falaram coisas semelhantes no passado", disse ele, numa referência indireta ao presidente da França, Emmanuel Macron.

Durante a cerimônia, Bolsonaro fez afagos ao vice-presidente Hamilton Mourão, que vai presidir o conselho e com quem teve divergências no início do governo. Disse que Mourão tem "competência mais do que suficiente para que este conselho atinja o objetivo que é interesse de todos nós".

O presidente aproveitou a solenidade para exaltar o projeto de lei enviado na semana passada pelo governo ao Congresso que permite a mineração e outras atividades de exploração econômica em terras indígenas. Ele frisou que o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, "em boa hora" apresentou a proposta e que agora a questão está no Legislativo.

Segundo Bolsonaro, se a proposta passar, "os nossos irmãos índios, se assim o desejarem, poderão fazer na sua terra tudo aquilo que o seu colega branco fazendeiro faz ali do lado".

Durante a solenidade, o vice-presidente agradeceu à "honrosa" missão a quem Bolsonaro lhe confiou, destacou que o impulso ao conselho é uma das decisões mais importantes tomadas na história recente do país e que é preciso estabelecer as bases de uma verdadeira política de Estado para a região.

"Proteção, preservação e desenvolvimento sustentável da Amazônia é uma tarefa de todos os brasileiros", disse Mourão, para quem a região é um enorme espaço para oportunidades.

O conselho, segundo nota da Assessoria de Comunicação Social da Vice-Presidência, será composto pelos ministros da Casa Civil, da Justiça e Segurança Pública, da Defesa, das Relações Exteriores; da Economia, da Infraestrutura, da Agricultura, da Ciência e Tecnologia, das Minas e Energia, do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Regional, da Secretaria-Geral, da Secretaria de Governo e do Gabinete de Segurança Institucional.

O colegiado tinha sido criado inicialmente no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em entrevista coletiva, Mourão disse que vai trabalhar para que haja uma coordenação e controle de iniciativas para a região amazônica que estão sendo feitas isoladamente em órgãos de governo e quer contar com o apoio de Estados, municípios, a sociedade civil e a área acadêmica.

O vice-presidente disse que buscará se antecipar a problemas e evitar que ocorram desmatamento e queimadas ilegais na região.

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