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Quem for normal não assina com a Petrobras, diz empreiteiro

Preso na Lava Jato, Gérson de Mello Almada declarou à Justiça que "todo mundo que for normal não assina contrato com a Petrobras"

Petrobras: "estes tipos de contratos afugentam todas as multinacionais", diz vice-presidente da Engevix (Paulo Whitaker/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2015 às 18h00.

Curitiba e São Paulo - O empreiteiro Gérson de Mello Almada, preso na Operação Lava Jato , declarou à Justiça Federal nesta terça feira, 17, que "todo mundo que for normal não assina contrato com a Petrobras ".

Vice-presidente da Engevix Engenharia, Almada disse em audiência que contrato com a estatal "é unilateral".

"Quando a gente vê que isso acontece, por que a gente assina? Porque a gente sabe que eles (direção da Petrobras) também não vão aplicar ou eles vão ter falhas para a gente fazer".

"Qualquer advogado aqui presente não deixa um cliente assinar", acrescentou o empreiteiro, perante o juiz federal Sérgio Moro, que conduz todas as ações da Lava Jato, em Curitiba (PR).

Segundo ele, "estes tipos de contratos afugentam todas as multinacionais (do exterior)".

"Por que as multinacionais não estão aqui num mercado de US$ 30 bilhões?", indagou Gérson Almada "Por que todo mundo não vem aqui e faz fila para tentar concorrer? Justamente pela unilateralidade dos contratos da Petrobras. Nós tentamos várias vezes nos associar a empresas de fora e tivemos que não apresentar proposta, porque eles (dirigentes da estatal brasileira) não aceitam."

Almada foi preso no dia 14 de novembro de 2014 pela Juízo Final, sétima etapa da Lava Jato que mirou exclusivamente o cartel de empreiteiras que se apossou de contratos bilionários da Petrobras Em fevereiro, o próprio empreiteiro pediu para depor, alegando que tinha "contribuição relevante" para a Lava Jato.

Em seu depoimento, nesta terça, 17, ele revelou como operava o "pedágio" na Petrobras "Você entrou numa rodovia, você tem que pagar aquele pedágio. Todas as empresas exerciam isso de uma forma ou de outra."

Em uma provável referência aos operadores de propinas na estatal, Gérson Almada disse, ainda:

"Na época, todo mundo, mais ou menos deixava se transparecer que teria grande proximidade com esses diretores (da Petrobras). Todo mundo era amigo deles, em termos de decisão, do que ia acontecer. O pedágio eu uso porque é alguma coisa que você paga para usar a rodovia. Se você vai andar bem, se teu carro vai quebrar, se você vai se matar o problema é seu. O máximo que tem é um socorro que vai te levar para o início da estrada, para você se virar."

Na audiência foi perguntado ao empreiteiro se o pedágio lhe trazia alguma vantagem.

"Não, não trazia nenhum benefício. Mas eu usava para não ter malefícios. Sempre atrás desses relacionamentos (com diretores da Petrobras). Existia a grande força econômica da Petrobras em aplicar multas, em aplicar o contrato. Se ela quisesse aplicar aquele contrato não existiria nenhuma empresa viva nesse País. A força desse contrato, sabedor disso, tendo uma garantia que essas aplicações poderiam ser conversadas, era uma vantagem."

São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
  • 2. Operação Lava Jato

    2 /9(Arquivo/Agência Brasil)

  • Veja também

    Deflagrada em março de 2014, a Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
  • 3. Fornecedores na mira

    3 /9(Germano Lüders/Exame)

  • Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
  • 4. Balanço incompleto

    4 /9(REUTERS/Paulo Whitaker)

    O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
  • 5. Mudança de comando

    5 /9(Ueslei Marcelino/Reuters)

    Dias depois da divulgação dos resultados, Graça Foster e outros cinco diretores da companhia renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de Aldemir Bendine para o cargo. Tido como um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
  • 6. Acidente fatal

    6 /9(REUTERS/Gabriel Lordello)

    Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa,caso fique comprovado erro de operação.
  • 7. Revolta dos acionistas

    7 /9(Scott Eells/Bloomberg)

    Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos, uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
  • 8. Dívidas em dólar

    8 /9(Scott Eells/Bloomberg)

    O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
  • 9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple

    9 /9(Divulgação)

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