Erika Marena: delegada da Polícia Federal vai compor equipe de Moro (YouTube/ADPF/Reprodução)
Guilherme Dearo
Publicado em 21 de novembro de 2018 às 14h29.
Última atualização em 21 de novembro de 2018 às 15h53.
São Paulo - Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública a partir de 2019 no governo Bolsonaro, anunciou ontem (20) dois novos nomes para sua equipe. Além de Maurício Valeixo, que vai ser diretor-geral da Polícia Federal, Moro apresentou Erika Mialik Marena para chefiar o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) da PF.
Marena foi delegada da Operação Lava Jato desde os seus primórdios e atuou como coordenadora da investigação em Curitiba. Ela, aliás, foi responsável por batizar a investigação que se tornou a mais famosa e comentada da história do País. No fim de 2016, saiu da força-tarefa da Lava Jato para chefiar a área de combate à corrupção e desvios de verbas públicas na superintendência da Polícia Federal em Santa Catarina.
Moro justificou a importância de Marena à frente DRCI por ser um órgão para investigações internacionais e cooperação internacional para desvendar esquemas de lavagem de dinheiro. “Como vimos na Lava Jato e em outros casos, é muito comum a lavagem de dinheiro no exterior”, disse o futuro ministro durante o anúncio dos nomes.
Paranaense de Apucarana, cidade do interior do estado, próxima a Londrina e Maringá, Marena nasceu em 1975. Na PF desde 2003, passou pela delegacia de crimes financeiros (Delefin) em São Paulo e coordenou força-tarefa CC5 em Curitiba, do Caso Banestado. Antes do início da Lava Jato, também atuou como professora da disciplina Lavagem de Dinheiro na Academia Nacional de Polícia.
A figura de Marena é famoso no meio da PF e inspirou personagens retratados no cinema e na televisão. No filme de 2017 "Polícia Federal: A Lei É para Todos", a personagem Bia da atriz Flavia Alessandra foi inspirada em Marena. Já na série da Netflix "O Mecanismo", a personagem Verena Cardoni também buscou inspiração em Erika.
O nome de Marena para a equipe de Moro, atualmente delegada da Polícia Federal em Sergipe, chamou a atenção pelo seu envolvimento em um caso que aconteceu em setembro de 2017 e que terminou em tragédia. Preso e acusado de corrupção, o alvo da investigação Operação Ouvidos Moucos acabou tirando a própria vida. Nada contra ele foi encontrado até agora. Após o caso, Erika foi transferida para Sergipe.
Em uma entrevista ao G1, em 2016, defendeu o fim do foro privilegiado, pois este protegeria os criminosos de "colarinho branco".
Forte dentro da PF, chegou a ser eleita como primeiro nome na lista tríplice da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) para a indicação à Diretoria-Geral da PF. Mas Temer acabou escolhendo Fernando Segóvia no episódio.
Em setembro de 2017, a Operação Ouvidos Moucos da PF de Santa Catarina, comandada por Erika Marena, prendeu o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Luiz Carlos Cancellier de Olivo (59) por obstruir as investigações em curso. Seis professores da universidade também foram presos sob a mesma acusação. 115 policiais participaram das prisões no campus.
Estava um curso uma investigação que acusava Cancellier e outras pessoas de participarem de uma quadrilha dentro da universidade que tinha desviado cerca de R$ 80 milhões dos cofres da instituição ao longo de anos. O esquema envolveria programa de bolsas e ensino a distância. Depois, a PF corrigiu a informação e disse que R$ 80 milhões, na verdade, era o valor total do repasse federal para o programa de ensino a distância de 2005 a 2015 da UFSC e que a verba desviada no esquema era outro valor.
Cancellier só assumiu a reitoria da UFSC em 2016. Os fatos criminosos narrados pela investigação teriam acontecido em 2008 e 2017. Mesmo assim, foi apontado na investigação com um "chefe" do esquema.
Solto com habeas corpus e sem antecedentes criminais, Cancellier foi afastado do cargo de reitor e proibido de voltar ao campus da UFSC durante o progresso das investigações. Criticando a humilhação por conta da intensa exposição midiática e alegando inocência, o reitor decidiu se suicidar 18 dias após sua prisão, se jogando do sétimo piso de um shopping em Florianópolis.
Ele deixou um bilhete antes de se matar, onde escreveu "minha morte foi decretada quando fui banido da universidade!!!".
Após a tragédia, houve críticas sobre um possível abuso da PF na prisão de Cancellier. Uma sindicância interna foi aberta para investigar a conduta de Marena no caso, mas concluíram que a delegada não cometera nenhuma infração. Logo após o desfecho, ela foi transferida para Sergipe.
O relatório final da investigação, sob responsabilidade do delegado Nelson Napp, indiciou 23 pessoas por crimes como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e peculato. O resultado agora está sob análise do Ministério Público Federal.
Sobre o caso, Moro disse, logo após anunciar Marena para sua equipe em 2019: “A delegada tem minha plena confiança, o que houve em Florianópolis com o reitor foi uma tragédia, e a família tem toda a solidariedade. Mas foi um infortúnio na investigação e a delegada não tem responsabilidade quanto a isso”