Quatro presos são mortos na transferência de Altamira para Belém
Detentos eram da mesma facção e viviam juntos nas mesmas celas; Secretaria informa que ao chegar no destino, agentes os encontraram mortos por sufocamento
Agência Brasil
Publicado em 31 de julho de 2019 às 11h29.
Última atualização em 31 de julho de 2019 às 16h34.
Mais quatro presos participantes da briga entre facções no presídio em Altamira (PA) foram mortos ontem (30) durante o traslado de Novo Repartimento a Marabá.
Ao chegarem ao destino, os agentes encontraram os detentos mortos por sufocamento em duas celas, de acordo com informações divulgadas nesta quarta-feira (31) pela Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) do Pará.
A ação ocorreu entre 19h de ontem (30) e 1h da madrugada de hoje (31), e as razões das novas mortes estão sendo investigadas. Todos os 26 presos remanescentes serão colocados em isolamento.
Durante o transporte, eles estavam algemados, divididos em quatro celas que, juntas, tinham capacidade para até 40 presos e 30 eram transportados. O estado não tem caminhão com celas individuais.
Os detentos eram da mesma facção e viviam juntos nas mesmas celas e foram comparsas no confronto entre facções, no presídio em Altamira, que deixou 58 mortos na última segunda-feira (29).
O massacre envolveu membros da facção Comando Classe A, pouco conhecida fora do Pará, que atearam fogo a uma cela que tinha presos da facção rival Comando Vermelho, que vem do Rio de Janeiro e se expandiu para o norte do Brasil.
Como parte da resposta, as autoridades do Pará disseram que transfeririam alguns dos presos mais perigosos da prisão para instalações diferentes, na tentativa de aliviar a superlotação e evitar mais violência. Foi nesse transporte que ocorreram as novas mortes.
Até ontem (30), 16 líderes do confronto já haviam sido identificados e transferidos de forma imediata para a capital paraense, dez deles irão, posteriormente, para o regime federal e os demais serão redistribuídos nas penitenciárias estaduais.
Força-tarefa
Na tarde desta quarta-feira (31), chegam a Belém 10 homens da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária. A ida do grupo foi autorizada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, a pedido do governador do Pará, Helder Barbalho.
A força-tarefa atuará em atividades de guarda, vigilância e custódia de presos, com apoio dos sistemas Penitenciário e de Segurança Pública do estado.
Identificação
Até a noite de ontem (30), 15 corpos de vítimas do confronto ocorrido na última segunda-feira (29) entre o Comando Classe A (CCA) e o Comando Vermelho (CV), no presídio de Altamira, no oeste paraense, haviam sido identificados.
Para agilizar o trabalho, que está sendo feito por meio de exames de DNA, desde ontem (30) reforçam a equipe em Altamira peritos odontologistas forenses, além de peritos criminais do Laboratório de Genética Forense do Instituto de Criminalística de Belém. Nesta quarta-feira (31) os trabalhos foram retomados às 7h.
Contexto
Como parte de ações estratégicas para evitar novos confrontos entre facções criminosas em presídios estaduais, a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe) anunciou ontem (30), que, até o fim do ano, mais cinco unidades prisionais serão entregues nos municípios de Altamira, Parauapebas, Redenção, Abaetetuba e Vitória do Xingu.
"Serão mais de 2 mil vagas abertas. E neste sábado, quase 500 agentes concursados tomam posse, algo que não existia. Com essas medidas, conseguimos melhorar o quadro e o sistema", disse o titular da pasta, Ualame Machado.
O Brasil tenta há anos conter a violência nas prisões, em meio a uma população carcerária que atualmente ocupa o terceiro lugar no ranking mundial.
O massacre provocou indignação generalizada no Brasil, e autoridades prisionais disseram que a violência os pegou de surpresa, com nenhum dado de inteligência sugerindo um confronto iminente, ressaltando que a violência nas prisões está longe de ser controlada.
As prisões estão superlotadas e o pessoal penitenciário é insuficiente, com facções rivais muitas vezes disputando o controle efetivo das instalações.
As facções têm sido ligadas a assaltos a bancos, tráfico de drogas e tiroteios, com líderes criminosos encarcerados comandando impérios do crime por meio de celulares contrabandeados para dentro dos presídios.
(Com informações de Marcelo Rochabrun, da Reuters, e Karine Melo, da Agência Brasil)